Fernando Santos não coloca Portugal entre os favoritos à vitória no Mundial do próximo verão, mas acredita que a Seleção nacional surge no lote de equipas imediatamente a seguir. "Os favoritos são Brasil, Argentina, Espanha, Alemanha e França. Depois há candidatos que ambicionam chegar o mais longe possível, e depois, vencer. Portugal não é favorito, mas faz parte deste segundo lote", realçou o selecionador português, garantindo um desempenho responsável da equipa lusa nos particulares contra a Arábia Saudita e os Estados Unidos – apesar das muitas novidades na convocatória e das ausências de peso, com Cristiano Ronaldo à cabeça.
"Portugal ganhou à Argentina e à Itália, a quem nunca tinha ganho, e eram jogos particulares. Desde sempre temos um lema na nossa equipa: para nós não há jogos mais importantes nem menos importantes, não há equipas médias e mais difíceis. Consideramos todos os adversários, não nos interessa muito o nome, tentamos é vencer. Sempre que entramos em campo, atrás de nós está uma bandeira, um país", salientou, garantindo que "a matriz e a filosofia da equipa" não se vão perder: "É de todo expectável que isso aconteça. A equipa não vai perder a sua matriz, a sua filosofia, a sua forma de estar em campo, a atitude, a concentração. Isso vai-se manter. Se olharem para as convocatórias anteriores, com a exceção de um jogo que foi anómalo, frente a Cabo Verde [em 2015]… Foi um jogo diferente porque aconteceu dois dias depois [do anterior] e não tivemos tempo para treinar. Os jogadores que tinham jogado não podiam jogar contra Cabo Verde, o que acabou por não ser bom quer para a minha observação, quer para os jogadores que acabaram por jogar. Recorde-se que chegaram domingo ou segunda à noite, treinaram vinte minutos e depois jogaram. Acabámos por tirar poucas conclusões."
Para estes dois encontros, ambos de cariz solidário – as receitas vão reverter para as famílias que foram afetadas pelos incêndios que assolaram Portugal, e particularmente as regiões de Viseu e Leiria, nos últimos meses -, Fernando Santos deixou Cristiano Ronaldo de fora e garante não ter sequer equacionado a chamada do capitão. "Não cheguei sequer a ponderar. O Ronaldo não esteve nunca nas minhas contas, como não esteve nos jogos que realizámos na Rússia e no Luxemburgo. Logo à partida, quando planeei o trajeto até ao Mundial, já não contava com o Ronaldo para estes jogos. Não posso alterar a gestão desportiva por uma causa solidária, não me parece certo", explicou o selecionador nacional, considerando ser esta "mais uma obrigação" para Portugal levar os jogos com a máxima seriedade e responsabilidade: "O povo também está unido nisto, é extremamente solidário nestas matérias. Já sei que Viseu está esgotado e espero que em Leiria também seja assim. É mais uma obrigação para nós, a equipa portuguesa tem sempre responsabilidades. Com os jogadores que convoquei, tenho a fortíssima certeza que amanhã os meus jogadores vão fazer tudo para ganhar o jogo. Acredito que o país vai corresponder bem ao apelo que fizemos. Depois do jogo começar, é mais um. A partir desse momento não há mais esse pensamento. Os jogadores têm de estar altamente concentrados no jogo. O jogo é importante para analisarmos o adversário, que pode calhar-nos na fase de grupos. Normalmente não defrontamos este tipo de adversários por estarem noutro continente. É importante ver como estas equipas se desenvolvem e depois tentar aproveitar isso no Mundial. A partir do momento em que der a palestra, os jogadores vão-se concentrar no jogo. Vai ser difícil. Tive a oportunidade de ver a Arábia Saudita jogar e tem jogadores muito rápidos, tecnicamente evoluídos. Acredito ser um bom teste."
Fernando Santos disse ainda que o facto de o jogo ser amigável não significa que todos os jogadores convocados vão ter tempo de jogo. "Se for possível, sim. Mas não tenho esse condicionalismo. Estamos aqui para preparar-nos, não é para a festa. Solidariedade e competição são coisas diferentes. Tenho alertado os jogadores para isso. Eles vão desenvolver as qualidades e mostrar ao selecionador a adaptação à estratégia e filosofia da Seleção. Os jogadores foram constantemente observados ao longo destes três anos. Não tenho dúvidas sobre as suas qualidades técnicas, caso contrário não estavam aqui. Mas há outros aspetos que são importantes e esses, naturalmente, estão em observação. A entrega é muito importante para mim. O jogo vai dar uma ideia diferente, mas os jogos não dizem tudo, interessa às vezes mais o treino. Há seis ou sete jogadores que nunca participaram, mas o Renato [Sanches] chegou cá em março, fez dois jogos de preparação e esteve no Europeu. São eles próprios que podem definir as coisas e aquilo que observarmos vai determinar os 23 que estarão no campeonato do Mundo. Se todos responderem bem terei mais dificuldades, mas tomara eu ter estas dificuldades", assumiu o técnico, desvalorizando ainda a questão da juventude dos convocados: "O Renato tinha 18 anos quando foi ao Euro. Dezoito anos. Outros como Raphael Guerreiro eram também muito novos. É uma equipa aberta, sem idades: importa é a qualidade individual ou coletiva, isso é que faz com que venham ou não. Claro que estes 23 não vão estar todos no Mundial, mas alguns destes vão estar, tal como outros que não vieram e podem estar. Há apenas um jogador que é a exceção [Cristiano Ronaldo]."
Também o selecionador da Arábia Saudita, Edgardo Bauza, abordou o encontro desta sexta-feira, desvalorizando a ausência de Cristiano Ronaldo. "Portugal tem um naipe de grandes jogadores, capaz de suprimir a falta deste ou daquele", referiu o técnico argentino, que só assumiu o comando da seleção saudita depois da fase de qualificação. "O importante era estarmos no Mundial. Defrontar equipas de topo, como Portugal, faz parte do nosso programa de preparação. Será um jogo difícil, contra uma seleção de topo mundial. A equipa está a habituar-se a novos métodos de trabalho e eu próprio estou ainda a conhecer melhor os jogadores", completou.