“Quando a História olhar para 2017, o dia 12 de maio estará como o dia mais importante do ano”, afirma o presidente da Microsoft. Este foi o dia do maior ataque cibernético de sempre e o dia em que expôs a fragilidade do mundo às ciberameaças. Brad Smith garante que o desfio da cibersegurança é, na atualidade e no futuro, o mais difícil para a humanidade.
Todos nós vivemos num mundo digital. O futuro dos cuidados de saúde são cuidados de saúde, da educação, do emprego, é digital. A realidade do mundo de hoje é tecnologia digital e esta vai tornar-se a pedra de toque das nossas próprias vidas.
“E isso levanta uma questão fundamental para todos nós: como é que protegemos o mundo?”, disse um dos oradores de ontem da Web Summit. “Mas quando olhamos para o futuro temos de ter os olhos abertos e a cabeça no lugar para olharmos para as ameaças à nossa frente”, acrescenta, lembrando que se está a desenrolar uma nova corrida aos armamentos e que as “armas invisíveis que já foram postas a funcionar este ano”.
Brad Smith lembra que “vimos funcionar aquilo que ficou conhecido com o WannaCry. Um ataque que afetou 200 mil computadores em 150 países e que levanta outra pergunta: “Alguma vez tinha havido um ataque que tenha afetado tantos lugares ao mesmo tempo?”
E estes ataques não acabaram a 13 de maio. E um mês depois houve um novo ataque, desta vez dirigido a um país específico, a Ucrânia. 80% dos computadores afetados foram na Ucrânia. Ministérios, bancos, aeroportos, ferrovias. A própria central nuclear de Chernobyl ficou offline. E depois espalhou-se por todo o mundo.
Este tipo de ataques veio de mais de um país e teve um impacto sobre as pessoas. “Vimos responsáveis dizerem que estes ataques só afetaram as máquinas, não são ataques como outras armas que matam pessoas”, lembrou o responsável da Microsoft . Mas no dia 12 de maio houve, por exemplo, 6912 doentes no Reino Unido que viram as suas consultas ou cirurgias canceladas, ambulâncias que foram desviadas. “O que estamos a ver está a crescer em severidade e se continuar a ficar pior vai magoar as pessoas”, garante Smith. E com estas armas “ficámos a perceber que sermos apenas tão fortes quanto aos nossos elos mais fracos.”
Se há um ataque cibernético a um termóstato, os hackers entram na rede elétrica.
No mundo digital qualquer dispositivo está ligado à Internet. E também qualquer hospital, semáforo, automóvel, aeroporto ou metropolitano.
“O que 2017 nos ensina é que a responsabilidade não é apenas de alguns (…) a responsabilidade tem de ser partilhada por todos”, diz Smith, lembrando que “90% de todos os ataques cibernéticos começam da mesma maneira: um e-mail e um link no qual as pessoas são tentadas a clicar”.
O WannaCry mostrou que o mundo não pode combater as ameaças do presente com tecnologia do passado. “Teremos de usar de forma apropriada todas as ferramentas que temos” e no setor tecnológico “temos de trabalhar juntos e fazer um acordo a dizer que independentemente do nosso país, não ajudaremos os governos a atacar os clientes seja onde for”. Para além disso terá de haver um compromisso de “assistência de segurança aos clientes em todo o lado e trabalhar em equipa para fortalecer a resposta ”.
O presidente da Microsoft diz que “podemos vir de diferentes países num mundo cada vez mais nacionalista, mas acredito que seremos os primeiros a ter de responder a novos ataques e que teremos de o fazer com um sentido de neutralidade e que vamos ajudar as pessoas em todo o mundo”.
Brad Smith defende uma Convenção de Genebra Digital. “Precisamos de novas regras e que os governos se comprometam a não atacarem empresas de tecnologia, hospitais, infraestruturas críticas ou não roubarem identidades ou propriedade intelectual e ajudarem quem ficou ferido num ciberataque”.
Trabalhar e desenvolver tecnologia para tornar o mundo melhor depende da cibersegurança, que é uma das grandes causas do nosso tempo.