Ainda nem se pousaram as malas e na mesa de entrada estão duas coisas que vêm dar força à teoria de que os portugueses sabem receber bem. Neste caso, é o Vinho do Porto e os pastéis de nata a dar as boas vindas aos hóspedes do número 9 do Largo do Calhariz, em Lisboa, onde à porta se vendem cautelas e uma senhora montou uma banca de ovos caseiros, num cenário que, apesar de espontâneo, parece criado de propósito para este conceito de alojamento de proximidade.
O Sweet Inn começou em 2015 a ocupar apartamentos em Lisboa, em pontos estratégicos que têm como limites o Marquês de Pombal, o Rio Tejo, Alfama e Santos. Dentro deste quadrado estão abertas 53 casas, com onze prontas a inaugurar. “O objetivo é que dentro de quatro anos cheguemos aos 150 quartos”, refere o guest relations da Sweet Inn, Daniel Bento, enquanto nos abre as portas deste T2 montado no centro da cidade.
Lisboa foi a primeira cidade a ser escolhida por esta empresa franco-israelita para espalharem o projeto fora do eixo Jerusalém, Telavive, Paris. “É uma cidade apaixonante”, exclama Boaz Beeri, business director da SweetInn. Garante que o feedback dos hóspedes é sempre positivo quanto à experiência nacional e, talvez por isso, Lisboa esteja na mira do crescimento do projeto, com a previsão de abertura de cada vez mais apartamentos.
Fora de Portugal, a startup já abriu 350 apartamentos em mais cinco países: Espanha, Bélgica, Itália, França e Israel. Até ao fim do ano estreia-se em Londres, Madrid e Milão e em 2018 quer chegar aos Estados Unidos, América do Sul e Ásia.
Em casa Mas antes de partirmos para outros continentes, foquemo-nos nestes metros quadrados bem portugueses.
Na mesinha da sala está um exemplar do livro “Equador”, pousado ao lado de uma cesta de fruta. Lena d’Água, Zé Pedro dos Xutos, Carlos do Carmo e António Variações partilham o protagonismo da parede da entrada. Já do outro lado da sala, há um quadro que grita Portugal: um senhor sentado com uma guitarra portuguesa nas mãos, vestido com uma camisola do Benfica, meias às riscas verdes e brancas e um galo de Barcelos ao ombro. Já dá para sentir aquele cheirinho de casa, não já?
Um quadro sobre a exposição do Amadeu de Sousa Cardoso e as peças do Bordallo Pinheiro colocadas pela casa em locais certeiros dão o toque de portugalidade que se quer num sítio onde é suposto o hóspede sentir-se em casa, mas também em comunhão com a cidade.
A decoração é diferente em todos as cidades e, mesmo dentro de Lisboa, há características próprias das casas na Mouraria, no Saldanha ou no Cais do Sodré. “Não somos o McDonalds, não queremos ser aquele sítio standard, sempre igual independentemente do local”, explica Boaz Beeri.
O modelo é simples: os apartamentos são alugados a proprietários locais por períodos de cinco anos e posteriormente remodelados pela Sweet Inn, em parceria com uma equipa de designers.
“Recebemos desde pessoas que viajam em trabalho até famílias com filhos ou grupos de amigos que querem passar um fim de semana juntos”, refere Daniel bento. Talvez para este efeito o melhor seja optar pelos apartamentos “Glória”, na Avenida da Liberdade que, por ocuparem todo o prédio, dão a garantia de festa privada. Nos outros casos, existem desde estúdios a apartamentos T4, com preços desde 80 euros por noite.
Num hotel Agora que já nos sentimos em casa, não dizemos que não a alguns luxos que normalmente associamos a estadias num hotel.
Aqui há camas, lençóis e toalhas de qualidade, máquina de café com cápsulas gratuitas, produtos de higiene, wifi, um tablet com recomendações sobre o destino e carregadores para todos os tipos de de smartphones, máquinas de lavar loiça e roupa, mais pequenos eletrodomésticos. Há ainda o serviço de transfer para o aeroporto, limpeza, motorista, ou lavandaria, se for solicitado.
Não que depois desta lista fossem precisas justificações, mas o responsável pela Sweet Inn salienta que são estes pormenores que os diferenciam do Airbnb. “Nesse caso não conheces os donos da casa, não sabes o que realmente vais encontrar e estes itens como pequeno-almoço ou produtos de higiene nem sempre estão incluídos no preço”. Além disso, apesar da reserva ser também feita através do site, há um escritório físico em cada cidade. “É uma espécie de lobby comum a todas as casa, onde as pessoas se podem encontrar, tomar um café, ir à net ou esclarecer dúvidas”, acrescenta.
Mais uma coisa gira? Para aproveitar o facto de estarmos numa casa, há possibilidade de encomendar um cabaz de produtos típicos da cidade para que seja possível cozinhar uma refeição caseira e comer como um local. E melhor. Ainda em fase de teste está a hipótese de ter um chef do país que recebe a cozinhar pratos típicos em casa do hóspede. Se assim for, este campeonato do bem receber está (mais do que) ganho.