Numa conferência do Halifax International Security Forum, no Canadá, o general John Hyten, responsável pelo arsenal nuclear dos Estados Unidos, afirmou que, caso o presidente Donald Trump ordenasse um ataque nuclear, recusaria executar uma ordem “ilegal”, mesmo que vinda do supremo comandante das Forças Armadas norte-americanas. Ao invés, estaria preparado para apresentar cenários alternativos ao líder da Casa Branca. “Se é ilegal, adivinhe o que acontecerá? Vou dizer: ‘Senhor presidente, isso é ilegal.’ E adivinhe o que ele vai fazer? Vai dizer: ‘O que seria legal?’”, disse o militar “E encontraremos opções, combinando uma série de capacidades para responder a qualquer que seja a situação, e é assim que funciona. Não é tão complicado”, explicou. O general acrescentou ainda que tal cenário já foi discutido com o presidente norte-americano: “Algumas pessoas pensam que somos estúpidos, mas não somos. Pensamos muito sobre estas questões. Quando se tem esta responsabilidade não é possível não pensar”, referiu.
Como responsável pelo Comando Estratégico norte-americano, o general tem a obrigação de “aconselhar o presidente”, que, segundo o próprio, lhe “irá dizer o que fazer”. Para o general, “se uma pessoa executar uma ordem ilegal, vai presa. Pode até ir para a cadeia o resto da vida”, afirmou John Hyten, mostrando-se indisponível para executar uma ordem superior caso a considere ilegal, mesmo vinda do seu chefe de Estado.
Segundo a lei norte-americana para os conflitos armados, o presidente tem a obrigação de respeitar uma série de critérios para poder lançar um ataque nuclear, nomeadamente a necessidade, a proporcionalidade, a distinção entre alvos civis e militares e o sofrimento desnecessário que poderá causar.
A autoridade do presidente dos Estados Unidos neste tema tem sido alvo de debate entre vários senadores, tanto republicanos como democratas. Alguns têm expressado receios de que Trump ordene um ataque de forma irresponsável, enquanto outros defendem que o comandante supremo deve ter a autoridade necessária para o fazer sem a interferência de advogados, isto é, da lei.
Bob Corker, republicano e presidente do comité de relações externas da Câmara dos Representantes, tem expressado receios de que Trump possa encaminhar o país para uma “terceira guerra mundial” – opinião partilhada por Chris Murphy, senador democrata: “Estamos preocupados com o facto de o presidente dos EUA ser tão instável, tão volátil e ter um processo de decisão tão quixotesco, podendo ordenar um ataque com armas nucleares que não vá ao encontro dos interesses da segurança nacional dos EUA.”
Os receios não se limitam, porém, aos políticos norte-americanos, estendendo-se também aos aliados da maior potência mundial. Segundo a CNN, um “país parceiro da NATO” mostrou-se preocupado por o arsenal nuclear estar ao alcance de Trump e este poder ordenar, sozinho, um ataque. Nos últimos meses, a questão da autoridade presidencial para ordenar este tipo de ataques, incluindo preventivos, tem ganho relevo quer pelas declarações incendiárias de Trump contra a Coreia do Norte, como a de “destruir totalmente” o país com “fogo e fúria”, quer pelo seu desejo de aumentar o arsenal nuclear norte-americano, ao mesmo tempo que se reduzem os condicionamentos à sua utilização.