Robert Mugabe desobedeceu ao ultimato dos militares e do seu próprio partido e não se demitiu esta segunda-feira a tempo de evitar o seu impeachment. Devia ter anunciado a demissão até ao meio-dia local, mas o presidente zimbabuano manteve-se em silêncio no seu Palácio Azul, onde há uma semana vive numa mal disfarçada prisão domiciliária com Grace, que é ao mesmo tempo a sua mulher e a razão da sua queda do poder num país em que até recentemente parecia controlar tudo e que só o teve a ele como líder em independência.
Como resultado do silêncio, o seu partido anunciou que o processo de impeachment começa esta terça-feira e pode concluir-se já amanhã, quarta-feira.
Poucos duvidam que Robert Mugabe chegou ao fim da linha e que a sua destituição forçada é apenas uma formalidade para deputados e senadores – aliás, bastante acelerada, como admitiam esta segunda à emissora britânica BBC dirigentes do partido no poder, o ZANU-PF.
Em todo o caso, também país e o mundo pareciam acreditar que o discurso do presidente no domingo anunciaria a sua demissão: em vez disso, viram-se confrontados com uma intervenção de meia hora na qual Mugabe assegurou que presidirá ao congresso do partido do próximo mês e pediu ao país que evitasse a “amargura e o ressentimento”.
Não há certezas sobre o que aconteceu no domingo, mas esta segunda-feira corriam duas versões sobre o discurso de Mugabe. Uma, lançada pela importante organização dos veteranos da guerra anticolonial, sustentava que o presidente trocou à última hora o discurso negociado com os militares, que, apesar disso, o rodeavam no momento em que apareceu na televisão – um deles virava-lhe até as páginas.
“Ficámos desiludidos que ele tenha trocado [os discursos]”, disse Chris Mutsvangwa, convocando protestos em frente ao Palácio Azul para esta terça, de forma a acelerar a destituição – o texto do processo foi publicado esta segunda-feira ao final da tarde.
Imunidade?
Uma segunda versão do que ocorreu no domingo diz que o discurso de resistente foi pensado pelo próprio partido do poder numa tentativa de higienizar o golpe da semana passada e contrariar a aparência de que o poder está agora nas mãos dos militares.
Esta era a explicação transmitida esta segunda pelo “Guardian” e Reuters, que se sustentavam em vários dirigentes partidários. “Teríamos visto uma péssima imagem caso ele se tivesse demitido em frente daqueles generais. Teria criado uma gigante confusão”, afirma uma das fontes.
Nada é certo no que diz respeito às negociações no Palácio Azul. Também não é claro que o mais velho chefe de Estado no mundo esteja completamente a par do que está a ocorrer.
A CNN afirmava esta segunda que os generais e o líder de 93 anos haviam chegado já a um acordo de demissão que garante imunidade aos Mugabe, mas uma fonte no gabinete da presidência em Harare contava ao “Guardian” que nada se pode escrever na pedra. “O Mugabe diz uma série de coisas… e promete coisas numa hora que desaparecem na seguinte. Ele não compreende totalmente o que está a acontecer.”