A agência Lusa costuma fazer uma ronda semanal pelos habituais locais de venda de divisas nas ruas de Luanda para aferir do preço do dólar e do euro face ao kwanza – sinal do desfasamento entre o câmbio oficial da moeda e o seu preço real e, principalmente, da quase ausência de divisas estrangeiras para comprar nos bancos e casas de câmbio autorizadas.
O presidente João Lourenço quer combater o mercado paralelo de divisas e foi isso que pediu na cerimónia da tomada de posse do novo comandante-geral da Polícia Nacional, comissário–geral Alfredo Mingas, que substitui Ambrósio de Lemos.
O tráfico de moeda estrangeira foi colocado entre as principais prioridades que o novo chefe de Estado estabeleceu para as forças policiais, junto com o tráfico de droga, a criminalidade violenta e a imigração ilegal. Para JoãoLourenço, estas representam, “a exemplo do que foi a guerra no passado, uma grande ameaça à paz dos cidadãos, à segurança nacional e ao próprio desenvolvimento da economia nacional”. Por isso, as novas chefias da polícia e militares, “juntamente com todos nós, com todas as instituições do Estado e não só, com a própria sociedade civil, temos a responsabilidade de encarar de frente essas quatro ameaças a que me referi”, acrescentou o chefe de Estado.
Angolanos e estrangeiros que residem em Angola estão habituados a recorrer às kinguilas (assim se chamam as vendedoras de divisas nas ruas) para conseguir a moeda estrangeira que não conseguem obter no mercado oficial, onde a venda de dólares e euros está há muito restrita. Ao colocar o combate a este mercado paralelo como prioridade, o chefe de Estado pretende evitar que as divisas continuem a sair dos bancos por portas travessas, desaparecendo do mercado oficial para aparecer no paralelo.
“Vamos encontrar os melhores mecanismos para que as escassas divisas disponíveis deixem de beneficiar apenas um grupo reduzido de empresas e passem a beneficiar os grandes importadores de bens de consumo e de matérias-primas e de equipamentos que garantam o fomento da produção nacional”, disse João Lourenço a 16 de outubro, na abertura da primeira sessão legislativa da iv Legislatura. “Importa impedir que a venda direta de divisas seja uma forma encapotada de exportação de capitais, sem o correspondente benefício para o país”, acrescentou.
Na semana passada, o dólar andava a ser transacionado pelas kinguilas a cerca de 400 kwanzas, uma descida face à subida no princípio do mês, quando chegou aos 430 kwanzas no meio de especulações de nova desvalorização no câmbio oficial da moeda angolana, cotada atualmente em 166 kwanzas por cada dólar.
Vão ser meses difíceis para os angolanos e estrangeiros residentes em Angola que pretendam viajar, caso a Polícia Nacional cumpra com zelo a exigência do presidente. Sem kinguilas e com as mesmas restrições de divisas nos bancos, não haverá onde conseguir dólares ou euros.