Uma das caras mais conhecidas no jornalismo televisivo americano, Charlie Rose, foi despedido esta terça-feira do canal CBS na sequência dos relatos de assédio sexual revelados segunda-feira pelo "Washington Post". Oito mulheres acusam-no de ataques sexuais ocorridos entre o final da década de 1990 e 2001.
Charlie Rose é uma figura célebre na televisão dos Estados Unidos há quase 30 anos e um dos mais importantes jornalistas americanos – sobretudo graças ao seu programa de entrevistas profundas e intimistas, num já emblemático estúdio de paredes negras. Este programa, que corre no canal PBS, foi interrompido logo na segunda-feira, assim como a colaboração de Rose no conhecido programa "60 Minutos".
Existem dois traços comuns entre as oito mulheres que acusam Charlie Rose de assédio sexual: na altura dos incidentes, todas trabalhavam ou desejavam trabalhar para o apresentador e, para além disso, eram também relativamente jovens, com idades entre os 21 e os 37 anos.
Os alegados assédios vão desde casos de telefonemas eróticos, apalpões, beijos indesejados e instâncias em que o jornalista apareceu nu diante as mulheres. “Demorei dez anos e um momento tremendo de mudança cultural para enquadrar os casos como eles são na verdade: ele era um predador sexual e eu a sua vítima”, conta uma delas, Reah Bravo.
Rose reagiu na segunda-feira através de um comunicado: “É essencial que estas mulheres saibam que lhes dou atenção e peço profundas desculpas pelo meu comportamento impróprio. Estou imensamente embaraçado. Comportei-me por vezes de forma insensível e aceito todas as consequências por isso", escreveu.
Acusação na primeira pessoa
Na mesma segunda-feira em que explodiram as revelações sobre Rose, o portal Vox publicou um artigo escrito na primeira pessoa por uma das mulheres que acusa um dos jornalistas mais importantes de "New York Times" de ter assediado sexualmente uma colega e tocado ou beijado indesejadamente três outras nos anos em que trabalhava para um outro meio de comunicação.
O repórter é Glenn Thrush e a autora da reportagem, Laura McGann, é uma das quatro mulheres que acusa Thrush de a beijar contra a sua vontade, mencionando para além disso um caso em que o repórter tentou não apenas beijar, mas também agarrar uma jovem jornalista contra a sua vontade no fim de uma festa.
O "New York Times", a par das alegações há uma semana, suspendeu Thrush e deu início a uma investigação interna.
O jornalista respondeu também através de um comunicado, pediu desculpa às mulheres e reconheceu o momento de assédio à jovem repórter. Disse, porém, que os contactos com a autora foram consensuais, um momento "breve e terminado por mim mesmo". Uma das quatro mulheres diz também não se sentir "uma vítima".
Thrush revelou também que sofre de alcoolismo e o caso de assédio e agressão ocorreu num momento em que se encontrava embiregado e perturbado com más notícias sobre a sua saúde.
“Peço desculpa a qualquer mulher que se possa ter sentido desconfortável na minha presença ou qualquer situação na qual me comportei de forma imprópria”, escreveu Thrush. “Qualquer comportamento que faça uma mulher sentir-se desrespeitada ou desconfortável é inaceitável.”