Marine Le Pen meteu esta quarta-feira a cabeça de fora do ambiente de esquecimento em que caiu no final das eleições do início do ano e dos confrontos internos na sua Frente Nacional para declarar-se cercada. As “oligarquias financeiras”, declarou numa conferência de imprensa, lançaram-lhe “uma fatwa bancária”.
Numa questão de poucos dias, explicou, confirmando relatos que circulavam na imprensa francesa, o banco britânico HSBC encerrou a sua conta pessoal e a Société Générale fechou as contas do partido e de 97 das suas delegações locais. “É uma tentativa de asfixia a um partido da oposição”, queixou-se.
Le Pen disse também que já apresentou queixa ao seu antigo rival, o presidente francês Emmanuel Macron, que recebeu recentemente os partidos no Eliseu. Segundo a dirigente nacionalista, a Société Générale encerrou as contas do partido no início do mês e entregou-as a um associado mais pequeno, o Crédit du Nord.
O banco, no entanto, não permite que o partido tenha livro de cheques, por exemplo, receba donativos pela internet ou disponha sequer de um cartão de crédito. A Frente Nacional não pode por estes dias fazer levantamentos em caixas automáticas. “Impede o funcionamento normal do partido”, disse esta quarta Marine Le Pen.
Os dois bancos recusam-se a dar informações públicas sobre o encerramento dos depósitos, dizendo apenas que os processos são confidenciais e não nascem de julgamentos ideológicos.
Também o governo francês entrou em cena para dizer que não conhece os motivos atrás do fecho da conta que Le Pen tinha no HSBC há 25 anos ou das contas que a Frente Nacional possuía na Société Générale há 30.
A líder partidária, que hoje luta por ser ouvida com apenas oito deputados no parlamento, garante, no entanto, que vai levar ambos os casos a tribunal.
História complicada
A lei francesa, como explicava esta quarta a Reuters, permite aos bancos encerrarem contas sem aviso ou justificação, embora garanta também o direito a ter uma conta aberta num banco – as condições são um assunto diferente.
O porta-voz governamental Christophe Castaner disse também que os nacionalistas franceses devem ter uma conta aberta e a funcionar normalmente. “Mas não sei o motivo pelo qual o banco disse ao seu cliente, a Frente Nacional, obrigado e adeus.”
Esta não é a primeira vez que os nacionalistas franceses se queixam de discriminação pelo setor bancário. Também não é a primeira vez que se levantam suspeitas de que as contas do partido são, de uma forma ou de outra, inconvenientes para algumas instituições.
Le Pen e o seu partido procuraram sem sucesso conseguir empréstimos em bancos franceses para as campanhas deste ano. Por esses dias, a dirigente nacionalista queixou-se também de uma campanha do setor financeiro, até que encontrou financiamento num banco checo com ligações ao governo russo – que apoiou abertamente a sua candidatura.
O banco First Czech Russian Bank emprestou mais de nove milhões de euros aos nacionalistas franceses. Pouco depois, abriu falência.