Isabel Silva: ‘Tanto apresento um ‘Love on Top’ como entrevisto o primeiro-ministro’

Aos 31 anos já lançou um livro, tem um blogue onde partilha receitas e treinos e uma conta de instagram que é um fenómeno. Correu quatro maratonas e parar não é verbo que se conjugue nesta «vida do bem», como gosta de lhe chamar.

Chega, dá beijos, abraços, abre o saco onde guarda tudo, inclusive as marmitas, e tira o telemóvel. «São dez da manhã e já só tenho 16% de bateria», comenta. Desde as seis houve tempo para passear o Caju – aquele que deve ser um dos pugs mais conhecido do país – tomar um pequeno almoço saudável e fazer um treino de eletroestimulação. Isto uma semana depois de ter corrido a maratona do Porto em 3:14:03 (para quem não tem noção, isto é muito rápido) e de ter passado um fim de semana em Viseu a apadrinhar uma corrida solidária para ajudar na reconstrução das casas de quem foi afetado pelos incêndios. A pilha da Isabel não falha e é tudo graças a pratos cheios de biovivos, não a suplementos vitamínicos. Aos 31 anos já lançou um livro, tem um blogue onde partilha receitas e treinos e uma conta de instagram que é um fenómeno. Correu quatro maratonas e parar não é verbo que se conjugue nesta «vida do bem», como gosta de lhe chamar.

Entre treinos, eventos, programas de televisão, corridas e marmitas, conseguimos sentar à mesma mesa uma aprendiz de maratonas (eu!) que fez a sua primeira há um mês em 4:11:07 (estavam 35 graus, tenho desculpa) e uma atleta que já só pensa na de Boston, em abril. Sente-se connosco para esta conversa enquanto ela também está sentada. É que com Isabel Silva nunca se sabe quando é a próxima corrida.

 

Acabaste de correr uma maratona. As pessoas têm noção do que requer a preparação para uma prova destas?

Há pessoas que não fazem a mínima ideia.

Então explica.

Uma maratona é um grande desafio na tua vida, não é um desafio apenas desportivo. Muda-te completamente como pessoa. Hoje em dia sou uma mulher muito mais forte, mais determinada, acredito muito mais em mim e isso mudou desde que corri a minha primeira maratona. Sempre pratiquei desporto, mas a corrida é diferente. Envolve uma dedicação gigante e é claramente uma prova de superação.

Envolve algum sacrifício ou não vês isso como um sacrifício?

Claro que envolve sacrifício, mas é um sacrifício prazeroso. No pain, no gain. As coisas sabem-te bem porque lutaste por elas. Não tenho prazer em conquistar coisas que para mim são fáceis. Mas para correr uma maratona há uma coisa essencial: tens que amar correr. Se não tiveres paixão por aquilo, vai ser muito difícil. Há quem corra apenas pelo desafio do momento, acabam uma maratona e está feito.

E tu corres porquê?

Eu corro porque gosto de me superar, de sair da minha zona de conforto. Não tenho a ambição de ser a melhor do mundo, tenho a ambição de sentir que sou cada vez melhor. Correr uma maratona é uma prova de superação mas eu não quero ganhar a ninguém. Corro para ganhar medalhas porque elas significam que cheguei ao fim. Há quem corra porque no final tem bifanas e cervejas à espera, ou porque tem os filhos para abraçar. É por isso que, durante a prova, vais vendo cartazes de apoio e há sempre um com o qual te identificas mais. Da maratona do Porto ficou-me um que dizia: «Se fosse fácil não era para ti». Não foi fácil, mas consegui. Posso dizer que a parte final da prova é sempre feita com o coração, não é com as pernas.

É por isso que corres sempre com companhia?

Se é algo que gosto tanto, tem que ser partilhado. A maratona do Porto, por exemplo, não foram só 42 quilómetros. Começou na sexta quando fui com o meu grupo de amigos da corrida para o norte, quando no sábado acordámos, tomámos o pequeno-almoço e fomos fazer a corrida de ativação. E continuou enquanto preparámos o jantar e vimos o percurso em 3D. Só acabou no domingo. Correr não é só pegar nos ténis e sair de casa, há todo um espírito de camaradagem incrível. A ligação que tenho com os meus amigos da corrida é diferente de todas as minhas outras amizades. É algo muito familiar, muito intimista.

Mas confessa lá, apetece-te correr todas as vezes que o plano manda?

Não, claro que não. Uma coisa é correr quando não te estás a preparar para uma prova, aí corro de forma prazerosa e descontraída. Mas a preparação para uma maratona é muito dura, existem treinos longos, treinos de séries, fartlek [um método de treino], reforço muscular, os regeneradores. As pessoas veem-me sempre com um sorriso na cara, mas custa muito. É por isso que nunca me preparo sozinha, faço-o com pessoas que me inspiram e me motivam. Tenho que ter uma motivação, nem que seja pensar que só faltam dois quilómetros para acabar e fazer um grande instastories a dizer que consegui [risos].

Costumo fazer a analogia da corrida e do sushi. São raras as pessoas que adoram estas duas experiências logo à primeira, há que insistir. Contigo como é que foi?

Gostei logo, mas é porque eu gosto da dor prazerosa. Quem me levou para as corridas foi a Mena e o Fernando, que têm 60 e tal anos. Um casal profundamente inspirador, que anda comigo no ginásio e com quem fazia aulas malucas, desafios de prancha, enfim. Há um dia que me convidam para ir correr 10 quilómetros para Monsanto. Fui com eles, corri os dez quilómetros e no fim disse: «Eu quero fazer isto a minha vida toda». Fazer exercício em contacto com a natureza é do melhor que há. Nada me deixa mais orgulhosa do que as marcas que tenho de correr ao sol. Até feridas já tive. É um orgulho que tenho nisso que não queiras saber.

Andamos sempre bronzeadas.

É muita vitamina D! Ah, e há uma coisa que faço sempre. Pelo menos uma vez por semana dou um mergulho no mar, seja verão ou inverno. Foi uma coisa que me ficou do meu pai. Fazia muitas caminhadas com ele em Espinho que acabavam sempre com um mergulho naquelas águas geladas.

Atualmente és quase uma embaixadora da comida saudável. Tu própria tiveste algum guru?

Não imaginas como fico feliz quando me dizem isso. Sempre fui assim, tem a ver com a alimentação que tinha em casa. Se me perguntares o que gosto de comer, digo-te que são coisas muito simples. Uma pratada de arroz com especiarias e legumes cozidos, uma garoupa cozida com ovo cozido.

Qual é o teu maior pecado?

Sobremesas. Talvez o cheesecake seja a minha preferida. Adoro uma sobremesa que tenha crocância, que seja quente e fria, partes mais duras, partes mais fofas, enfim, com várias texturas.

E permites-te cometer esses pecados?

Claro. O meu grande desafio é não ratar à noite e tenho que contrariar isso. Tenho um barómetro: se acordar sem fome é mau sinal.

E quando vais ao norte, há como resistir?

Já não me é difícil, porque gosto mesmo de comer bem. Coisas com açúcares refinados já são demasiado doces para mim.

Atualmente o teu prato tem que estar cheio de quê?

De legumes. Além disso tem que ter aveia ou arroz. Também gosto de hummus, de abacate, de leguminosas.

Aprendeste tudo o que sabes sobre comida sozinha?

Aprendi o que é comida do bem com a minha mãe. A comida do bem é aquela que privilegia e enaltece a qualidade dos alimentos. Não vou por uns brócolos a cozer durante vinte minutos, aí já não estás a comer nada de bom. Olho para os alimentos de uma forma funcional, gosto de perceber o que é que cada alimento me dá. Adoro ver um prato de biovivos e pensar que tenho à minha frente um prato cheio de saúde. Sou uma curiosa e sou uma foodie. Leio muito, falo com quem sabe.

Comes de tudo?

Não sou vegana, mas 90% da minha alimentação é vegana, por uma questão de digestão dos alimentos.

E já conseguiste influenciar família e amigos?

Há uma coisa que quero deixar claro: nunca quis influenciar ninguém. Tenho a minha vida e simplesmente gosto de a partilhar. Saber que consigo influenciar alguém com isso ainda me dá mais pica. Não sou personal trainer, não sou nutricionista, sou apenas alguém que gosta desta vida do bem.

Mas afinal, o que é ser do bem?

Se me perguntares o que é a felicidade, para mim é ter energia, é ter saúde.

E consegues reunir-te de ‘pessoas do bem’?

Energia gera energia. Hoje, por exemplo, estou super feliz. Acordei cedo, fui passear o Caju, tomei o meu pequeno-almoço de kiwi e aveia, fui fazer um treino. Só isto já me chega.

E as pessoas que já te acusaram de forçar o sotaque ou de –passo a citar – ‘exagerares na tua brejeirice’, essas não são do bem?

O meu objetivo não é agradar a toda a gente. O meu objetivo é estar bem comigo, sentir-me equilibrada e sentir que pratico o bem. Só me movo pelas minhas vontades e pelas minhas convicções. Não posso dar importância a esses comentários porque quem diz isso não me conhece. Como é óbvio tenho que respeitar, mas não posso dar importância. É que há pessoas que não gostam de mim só porque sim. Mas não me deixo afetar porque sou bem resolvida. Só não admito que me venham criticar nas minhas redes.

Já aconteceu?

Já. Não sou contra críticas construtivas, mas às destrutivas, sem fundamento, respondo: «olhe, aconselho-o a que me deixe de seguir».

O sotaque não é forçado portanto.

Os meus amigos do norte dizem que tenho sotaque de Lisboa, os de cá dizem que tenho sotaque do norte. Não penso nisso, mantenho o sotaque de Santa Maria de Lamas e nunca é forçado. E não acho que seja brejeira, sou é espalhafatosa. Quando estou feliz, rio, berro. Sei que sou intensa.

Mas fora isso não se encontram polémicas sobre ti. Nem namorados, nem nada. As pessoas fazem-te muitas perguntas sobre isso?

Por acaso não, sabes porquê? Porque abro as portas de minha casa a toda a gente e as pessoas conhecem a minha vida.

É que com 31 anos, gira, com energia, devias estar a fazer capas em triângulos amorosos.

Nada disso. Este meu à vontade em partilhar faz com que as pessoas respeitem a minha privacidade. No dia em que encontrar o homem da minha vida as pessoas vão saber.

Mas chegaste a estar noiva. É uma situação bem resolvida na tua vida?

Isso já foi há tanto tempo! Foi uma relação muito bonita que tive com o Tiago. Hoje em dia damo-nos super bem, não se perdeu a amizade.

Sentes que a fama pode ter poder de atração ou, por outro lado, põe uma barreira entre ti e os outros?

Tem os dois lados, mas consigo perceber quando a pessoa está comigo porque gosta e aqui não falo só de relações amorosas. Quando gosto toda a gente sabe, quando não gosto toda a gente vai saber também. Sou muito honesta e dou tudo de mim nas relações.

A tua ascensão foi rápida. Como é que aquela menina de sotaque do norte de repente é a Isabel Silva, quase uma marca registada?

Tenho uma coisa que é juventude, e quem tem juventude tem tempo. Tudo tem que acontecer no tempo certo. Gosto de evoluir, de aprender. O problema é que, às vezes, as pessoas interpretam isso mal e acham que sou extremamente competitiva e que só penso em ganhar. Não é nada disso, preciso é de estímulos na minha vida. Não é só o dinheiro que me move, as pessoas movem-me, as causas movem-me, as corridas movem-me.

Conquistaste o teu lugar da forma que querias?

Fiz tudo sempre de acordo com a minha consciência. Claro que tenho um trabalho longo a fazer em televisão. Há tanta coisa que quero fazer em televisão, há tantas corridas que quero fazer, tanta gente que quero conhecer, tantos países para viajar. Acho que vou chegar aos 80 a pensar assim. Aliás, acho que morro a pensar: «Tanta coisa que queria fazer e não deu para tudo». Tenho 31 anos e não queria ter outra idade, atenção. E gostava de chegar aos 50 e pensar isso mesmo. Cada idade tem a sua magia. Temos que nos aceitar como somos, em cada fase da vida. Tenho perna curta, tenho tendência para ter coxa, alguma barriga, tenho os dentes de baixo tortos e marcas na cara do acne que tive. Mas gosto de mim.

E já que gostas de tomar as rédeas da tua vida, que caminho gostavas que ela tomasse?

Estou a gostar deste caminho. Quero continuar a inspirar pessoas com esta vida do bem.

Essa parte pesa mais na tua vida do que o teu papel como apresentadora?

As duas têm uma coisa em comum que é a partilha. Faço isso em televisão e faço isso com esta minha vida do bem. Gosto de ter uma câmara à frente, de falar, de contar histórias. Quero continuar a evoluir em televisão, tenho tanto para aprender.

Não queres ficar rotulada como a menina dos reality shows?

Não, até porque acho que nem tenho esse rótulo. Comecei como repórter, trabalho na produção das peças, não sou apenas a apresentadora.

E o que é que gostavas de fazer em televisão?

Gostava de trabalhar em daytime, em programas inspiracionais, que mudem mentalidades. Adoro programas de talentos ou formatos como o Masterchef ou o Biggest Loser. Gosto de programas que pratiquem o elogio. Mas atenção, gosto de reality shows e a verdade é que se há uma sétima, oitava, nona edição de uma Casa dos Segredos é porque as pessoas gostam. Gosto de ser transversal. Tanto apresento um Love on Top, como entrevisto o primeiro-ministro, como faço o Somos Portugal, como promovo um passatempo, como sou repórter de desporto.

E há mais para fazer com o desporto e a alimentação saudável?

Vou ao sabor do vento. Gosto de maratonas, mas quem sabe se não faço um trail, um ironman ou uma ultramaratona? Quanto à comida, quero saber sempre mais.

Sentes que tens mais força como apresentadora ou como blogger/instagramer?

Quando as pessoas vêm ter comigo às vezes pergunto-lhes porque é que gostam de mim, se é de me verem na televisão, de me seguirem nas redes sociais, se é pelo meu livro, pelas maratonas. Mas acho que as pessoas gostam é da minha energia, seja lá onde for.

És tu que escreves o conteúdo do blogue e escolhes o que partilhas nas redes?

Tudo, se não fosse assim eu não tinha um blogue. A minha linguagem é super coloquial, quero que as pessoas sintam que me estão a ouvir ao ler o que escrevo. Já o instagram é muito do momento, às vezes até dou umas gaffes, mas é mesmo assim

Tens uma imagem bastante ligada a marcas. É algo que te agrada?

Estou ligada à marca EDP por causa das corridas e à Garnier porque sou mulher, gosto de me sentir bonita. Mas faço as coisas de forma diferente, com uma promovo corridas, algo de que gosto, e com a outra envolvo os meus seguidores, foram eles que escolheram a cor do meu cabelo, por exemplo.

És muito assediada por marcas?

Sim e não aceito tudo. Além disso, falo de marcas que não me patrocinam. Falo porque gosto genuinamente delas.

Mas tens noção de que há quem viva apenas disso.

É possível viver disso, mas não vivo a pensar nisso. Só me ligo a marcas nas quais acredito. E não me venham cá estipular posts diários, faço aquilo que me vai apetecendo. Por isso é que não gosto de parcerias pontuais, gosto de relações longas, de afeto.

Conseguias escolher uma das mil coisas que fazes por dia para fazer o resto da vida?

Correr. Espera, comunicar também. Uma só não consigo. Sei que sou uma pessoa com muita energia, mas se não tenho isto não sou feliz.