O ministro das Finanças só formalizará a sua candidatura a presidente do Eurogrupo se tiver a certeza da vitória nas eleições marcadas para 4 de dezembro,
Se as conversas entre as principais famílias políticas europeias (Socialistas e sociais-democratas, PPE e Liberais) sobre o sucessor de Dijsselboem à frente do órgão informal não favorecerem Mário Centeno, o ministro não apresentará sequer a candidatura, confirmou o i junto de fontes governamentais.
Na realidade, a decisão está iminente – o prazo para a entrega de candidaturas (que consiste na apresentação de uma espécie de ‘carta de motivação’) termina amanhã, dia 30.
Ontem ao fim da tarde o Financial Times – o diário britânico que costuma estar bem informado sobre os bastidores do que se passa em Bruxelas – escreveu que Mário Centeno é um dos favoritos, a par do ministro italiano das Finanças Pier Carlo Padoan. Apesar de considerar estes dois candidatos favoritos, o FT não exclui que o eslovaco Peter Kazimir possa acabar por ser “o candidato do compromisso” entre a família socialista e os governos de direita.
Na realidade, apesar de pertencer à família socialista europeia, Kazimir é um “falcão do défice”, muito mais capaz de agradar à direita europeia, reunida no Partido Popular Europeu e nos Liberais. Além das simpatias que o ministro eslovaco das Finanças causa à direita, Kazimir pode ultrapassar Centeno por razões geoestratégicas: é oriundo de um país de Leste e o Leste, como já apontou o presidente da Comissão Jean-Claude Juncker, está sub-representado na liderança das instituições europeias. Outro argumento que tem sido invocado a favor de Peter Kazimir é a sua possível capacidade de influência para fazer com que outros países de Leste se juntem à zona euro.
Ontem, à TSF, o comissário Pierre Moscovici também não se quis comprometer com o possível favoritismo de Centeno para liderar o Eurogrupo”.
“Vários candidatos têm as condições requeridas. E Mário Centeno está certamente entre eles. Mas eu também penso que pode não ser óbvio que seja um socialista a presidir ao Eurogrupo. E [Mário Centeno] também não é o único que pode lá chegar. Isso terá de ser decidido antes de quinta-feira”, disse o comissário dos Assuntos Económicos e Financeiros em entrevista onde afirmou também que “gostaria de trabalhar com o Mário”, mas também com “o Pier Carlo [Padoan, ministro italiano das Finanças]” ou mesmo com “quem quer que seja o presidente do Eurogrupo”. Moscovici acha que há “candidatos muito bons”.
Candidatura divide governo
É público que Mário Centeno gostaria de ser presidente do Eurogrupo. De resto, em algumas declarações públicas, já enunciou parte daquilo que poderá vir a ser o seu programa: mostrar à Europa como a experiência portuguesa é válida.
Mas a ideia de ver Centeno marchar para o lugar até aqui ocupado por Dijsselboem não é consensual no governo. A razão é simples: ainda que Centeno queira exportar alguma da experiência portuguesa, a verdade é que terá que ser o porta-voz de uma organização dominada pela direita europeia. Um papel que será muito complexo tendo em conta que só é ministro porque tem o apoio do PCP e do Bloco de Esquerda, dois partidos profundamente contra as instituições europeias, nomeadamente o Eurogrupo. O risco de existir um “Lost in Translation” entre o cargo de ministro das Finanças e de presidente do Eurogrupo é motivo de preocupação.