Fui daqueles que frequentou o Johnny Guitar, em Santos, na altura em que só havia outro bar nas redondezas, e foi aí que conheci o Zé Pedro. Desde então, sempre que nos encontrávamos era uma festa, como fazia com todos os que conhecia.
Anos depois fiz-lhe uma grande entrevista com a Ana Soromenho, e quando terminou ficámos os dois longos minutos à conversa no parque de estacionamento do restaurante. Rimo-nos imenso e recordámos muitas coisas dos Olivais, bairro onde tínhamos vivido no passado, e discutimos também sobre a primazia de uma prenda que ambos queríamos oferecer um ao outro.
Meses depois, se a memória não me atraiçoa, fui surpreendido pela entrada dele no hospital pelo agravamento do estado de saúde. Felizmente, tudo acabaria em bem e lá voltámos a encontrar-nos nos bares que também amigos comuns frequentavam. Tinha um poder de encaixe que ultrapassava tudo e era simpático com toda a gente que o abordava.
Afinal, Zé Pedro era o homem do rock português. Há outros, mas o homem da guitarra e do lenço tinha outro perfume. Mais recentemente encontrámo-nos num momento muito doloroso para todos nós e ele nunca abandonou o amigo que mais estava a sofrer com a perda de uma pessoa muito querida.
Nos velórios há sempre quem queira desanuviar o ambiente e diga coisas com mais ou menos graça. Recordo-me de lhe ter dito que era o meu único amigo “punkqueque” e de ele olhar com um ar muito espantado para mim: “Então, és punk e também és queque por estares sempre a aparecer na ‘Caras’”. Rimo-nos mais uma vez. Vou ter saudades das guitarradas dele e do seu sorriso. Uma figura da vida portuguesa, com certeza. Zé Pedro.