Nos últimos quarenta anos, a ação determinante das forças aéreas assegurou a projeção do poder político, materializando as antevisões dos seus primordiais teorizadores. Também se acentuou o seu impacto nas áreas civis da aeronáutica e da astronáutica, envolvente aos meios aeroespaciais em órbita.
No conjunto, valorizando as áreas universitárias da Geoestratégia, da Geopolítica e das Relações Internacionais, quanto à interpretação científica e à contenção do ‘fenómeno guerra’ e respetivo impacto na defesa do Estado.
Com a transposição do poder aéreo para o espaço, surgiu e consolidou-se o ‘poder aeroespacial’, resultante da revolução tecnológica e científica nas áreas das comunicações, comando e controlo, computadores; e da intelligence, observação e do reconhecimento – C4ISR.
Surgiu uma inovadora e mais ‘inteligente’ ‘estratégia de projeção do poder político’, com incidência nas áreas genética e operacional, integrando os fatores económico, tecnológico, científico, militar e espacial do potencial mássico do Estado.
A componente espacial, já anteriormente concretizada como vital multiplicador da força nas primeira e segunda guerras da coligação ocidental contra o Iraque de Saddam Hussein, na guerra aérea do Kosovo, na do Afeganistão e agora na guerra aérea na Síria contra o Daesh, veio gizar decisivamente a futura projeção do poder – quando se passar a exercer o controlo político-militar sobre a Terra a partir do espaço.
Mas a complexidade crescente das relações internacionais resultante da proliferação das mais avançadas tecnologias armamentistas, das armas de destruição massiva e dos respetivos vetores transportadores, conduzirá a novos e imprevisíveis cenários multiformes e a desafios extremos com o sobressair das ambições de atores considerados como irracionais e as denominadas ‘ameaças não-tradicionais’. Estas, com os grupos criminosos e terroristas de atuação global a prolongar as suas formas de ação e a anteciparem-se aos Estados no conjunto espaço-tempo.
Num mundo em constante transformação, em que o domínio do fator tempo através da velocidade e do alcance se torna imperativo, o decisor político que empregar o poder aeroespacial poderá então alcançar o efeito surpresa, infligindo ao adversário choque, confusão, desorientação, desequilíbrio, e desmotivação, que o fará colapsar. Tirando partido da sua flexibilidade e alcance global, este prevalecente tipo de poder concretizará em simultâneo os objetivos políticos aos níveis estratégico, tático e operacional.
Na execução das operações aéreas, a inerente estratégia visa minimizar riscos e danos colaterais maiores, evitando que operações de paz no terreno despertem antagonismos indesejáveis, como na Somália. E permite ao decisor político dispor da opção de trocar perdas humanas por tecnologia, ao arriscar menos vidas e ao privilegiar os denominados multiplicadores espaciais tecnológicos e os inerentes sistemas aéreos de defesa-ataque de precisão sob quaisquer condições de tempo!.
Mas os satélites de aplicação militar e civil também contribuem para a estabilidade internacional, através da vigilância permanente das ameaças e da formação de um sentido global comunitário entre os povos, concorrendo para a desejável diminuição dos fatores de fragmentação que constituem o inverso da globalização.
Daí que o ‘espaço’ e o ‘poder aeroespacial’ tendam a exercer sobre as relações internacionais e as suas manifestações, em tempos de crise ou de guerra, uma influência decisiva conducente ao bloqueio da vontade do adversário.
A crescente indispensabilidade do espaço e dos satélites nele posicionados quanto à qualidade de vida dos seres humanos, através das sensíveis áreas das transmissões, informações e dos computadores, constituirá um novo campo de ação decisivo para enfrentar as inevitáveis situações de guerra e paz, influenciando a vivência das sociedades quanto ao alcançar da ordem possível.