Se 2017 tivesse sido todo como os últimos dois meses, haveria boas notícias para a recuperação da natalidade no país: outubro e novembro registaram uma espécie de baby boom, com mais mil nascimentos do que nos mesmos dois meses do ano passado. O problema é que, até ao último trimestre do ano, a natalidade esteve em queda e mesmo assim continua a haver um défice de mil nascimentos face a 2016. Depois de dois anos consecutivos em que Portugal tornou a ter mais bebés, 2017 deve voltar a registar uma quebra.
As previsões sobre a natalidade podem ser feitas a partir dos dados do teste do pezinho, análise que deve ser feita a todos os recém-nascidos nos primeiros dias de vida para despistar precocemente algumas doenças.
Embora o número de testes acabe por não coincidir exatamente com os números oficiais de nascimentos no país, divulgados mais tarde pelo Instituto Nacional de Estatística, são uma imagem bastante aproximada do movimento nas maternidades. E são estas estatísticas fornecidas ao i pelo Instituto Ricardo Jorge sobre os testes do pezinho feitos em outubro e novembro que mostram que nos últimos meses houve bastante mais atividade nos blocos de partos do que nos mesmos dois meses de 2016. Nasceram pelo menos 7430 crianças em Portugal em outubro, mais 388 do que no mesmo mês do ano passado. Já em novembro estão contabilizados 7829 testes do pezinho, mais 613 do que no mesmo mês em 2016. Há, assim, mais 1001 nascimentos nestes dois meses – mais 16 bebés por dia. Fonte hospitalar testemunhou ao i que, em Lisboa, o movimento tem sido maior tanto no público como no privado, com mais casais a ter o segundo filho.
Até esta aparente inversão da tendência de nova quebra nos nascimentos, que será necessário esperar pelos próximos meses para perceber se se mantém ou se foi sol de pouca dura, ainda não tinha havido dois meses consecutivos este ano com mais nascimentos do que em 2016. A baixa mais expressiva aconteceu em setembro, o mês em que habitualmente nascem mais crianças no país.
Em 2016 foram feitos neste mês 8046 testes do pezinho e este ano apenas 7238, o que perfaz menos 808 crianças no espaço de um mês. Desde 2014, ano em que o país registou um mínimo histórico de natalidade (82 367), que o número de recém-nascidos em setembro não ficava abaixo do patamar dos oito mil. Apesar de terem nascido mais crianças em março, maio e julho, nos restantes meses do ano, a tendência foi sempre de quebra.
De acordo com os dados do Instituto Ricardo Jorge, é este o balanço até ao final de novembro: 79 377 testes do pezinho realizados, contra 80 400 nos mesmos 11 meses do ano passado – portanto, menos 1023 crianças este ano, uma quebra de 1,3% que, se não fossem os últimos dois meses, seria bem maior.
De acordo com os dados finais do INE, no ano passado nasceram em Portugal 87 126 crianças, mais 1347 do que em 2015. Mas o país ainda está bastante longe dos 96 856 nascimentos de 2011, ano em que o país passou a viver sob o espetro da austeridade.
Uma novidade nestes últimos dois meses foi Braga ocupar o terceiro lugar no pódio dos distritos com mais nascimentos, historicamente ocupado por Setúbal. Ainda assim, continua a ser no distrito de Lisboa que nascem mais crianças (23 308 testes do pezinho desde o início do ano, 29% da natalidade do país). Segue-se o Porto, com pelo menos 14 605 recém-nascidos até novembro. Setúbal ainda garante o terceiro lugar se se tiver em conta todo o ano, com 6023 nascimentos. Mas Braga está muito perto: registou 5995 testes do pezinho no mesmo período.