“Entendemos que o estatuto da cidade de Jerusalém é uma das questões a resolver no quadro mais geral do conflito israelo-palestiniano”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva. Citado pela TSF, o ministro acrescentou que a “única solução viável” seria “a solução dos dois estados coexistindo pacificamente um ao lado do outro” – e, “portanto, qualquer decisão que não tenha em conta essa solução é uma decisão contraproducente e prematura”.
Também Marcelo Rebelo de Sousa usou o mesmo termo para caracterizar a decisão tomada. O Presidente da República mostrou estar preocupado com “gestos que possam ser considerados contraproducentes para o clima de diálogo, de entendimento e de paz numa área sensível do globo”, como é o caso do Médio Oriente.
Santos Silva reforçou as boas relações que existem entre Portugal e os dois países, Israel e Palestina, mas acredita que a decisão de Trump “provocará uma incerteza que será um elemento adicional de perturbação”. “Na minha opinião deveria ser evitado”, acrescentou o chefe de Estado.
“A nossa esperança é que os Estados Unidos possam continuar a contribuir para que uma solução pacífica e estável seja encontrada para o Médio Oriente, em particular para a questão israelo-palestiniana”, acrescentou Santos Silva, relembrando que o país já deu provas de ser capaz “de liderar a mediação necessária para que as partes cheguem a acordos duradouros”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros afasta-se da decisão agora tomada pelos Estados Unidos, afirmando que Portugal irá continuar, “no quadro da União Europeia, a favorecer a solução dos dois estados”.
Não há alternativa aos dois estados “Quero deixar isto bem claro: não há alternativa para a solução de dois Estados”, disse António Guterres, secretário-geral da ONU numa declaração aos jornalistas sobre a decisão de Trump. “Não há plano B”, acrescentou.
Para o ex-primeiro-ministro português, “as aspirações legítimas de ambos os povos” só serão alcançadas se for concretizada “a visão de dois Estados a viver lado a lado, em paz, segurança e reconhecimento mútuo, com Jerusalém como capital de Israel e da Palestina”.
Guterres referiu ainda que a situação de Jerusalém “é uma questão de estatuto final que deve ser resolvida através de negociações diretas entre as duas partes”, de forma serem tidas em conta “as preocupações legítimas do lado palestino e israelita”.
Esquerda apresenta voto de condenação
O Bloco de Esquerda, o Partido Socialista e o PAN juntaram-se para apresentar hoje à Assembleia da República um voto de condenação conjunto da decisão dos Estados Unidos, onde afirmam que o gesto de Trump, para além de não conhecer “antecedentes na história diplomática internacional, atenta contra todos os esforços de paz, do passado e do presente, e patrocina a perpetuação do conflito israelo-palestiniano, configurando assim uma ameaça à estabilidade social de toda a região do Médio Oriente”.
No voto, os partidos relembram a importância da cidade de Jerusalém para as religiões católica, judaica e muçulmana, que a consideram “sagrada”, e que, por essa razão, “a ONU tem recomendado que o estatuto de Jerusalém seja negociado entre israelitas e palestinianos”.
No decorrer da reunião plenária de preparação para o Conselho Europeu, o deputado José Luís Ferreira, do PEV, apelou ao primeiro-ministro, António Costa, para fazer o que puder para que a União Europeia se manifeste, unida, contra a mudança da embaixada dos EUA em Israel para Jerusalém.
O PCP também preparou um voto próprio de condenação que será entregue hoje na Assembleia da República.