Açores. O caminho para a sustentabilidade faz-se com café, vinho, trilhos e yoga

O cenário fala por si: verde, mar, vacas felizes, peixe fresco, silêncio e montanha. É com esta matéria-prima que os Açores justificam a sua candidatura a destino sustentável. Mas isto só não chega. A semana passada foram 41 as empresas do arquipélago a assinar uma cartilha pela qual se comprometem a cumprir as regras necessárias…

Holistika

Lisa Moreira é psicóloga e instrutora de meditação. Jorge Valério é guia turístico e músico. Em 2014 juntaram estas facetas para criar um projeto que junta o melhor dos seus dois mundos. Organizam tours turísticos a que se juntam atividades como o yoga, a meditação, dança e massagens. “A ideia é sempre pôr o ser em contacto direto com a natureza”, explica Lisa, que se prepara agora para criar o seu próprio método de terapia. Apesar de 90% dos seus clientes serem estrangeiros, esta dupla holística acredita que está a conquistar os locais e, por isso, apostam também em eventos fora da época alta.

Morada: Rua João de Melo Abreu 26, Ponta Delgada

Preço: desde 40 euros

 

Ilha a pé

Quando foi criado o trilho circular de 80 quilómetros em Santa Maria, Rita e Ioannis imaginaram que para cinco dias de caminhada faltavam pontos de descanso. Foi aí que decidiram criar o “Ilha a Pé”, uma empresa de ecoalojamento para a qual recuperaram antigos palheiros que servem de alojamento aos caminheiros. A recuperação foi feita segundo métodos tradicionais e com materiais ecológicos. Além disso, a sustentabilidade nota-se pela preocupação em espalhar os palheiros ao longo da ilha. “Os turistas acham que chegam aqui e em duas horas de carro veem a ilha”, diz Rita, “mas não há dúvida de que é a pé que se conhece Santa Maria.”

Morada: Vila do Porto, Santa Maria

Preço: desde 35 euros

 

Café Nunes

“Sabem aquele café, com sabor a café, que cai mesmo bem neste frio? É aqui que o encontram.” Dina Nunes sabe como vender o negócio, até porque é um negócio que se vende por si. O café da Fajã dos Vimes é o único a ser produzido na Europa e é agora vendido no café que o pai, Manuel, abriu na garagem de casa. Já a mãe, Alzira, ocupa o primeiro piso com os teares onde faz o artesanato mais típico da ilha, incluindo os saquinhos onde é vendido o café, cuja produção é 100% biológica. Os turistas chegam de todo o mundo, isto sem exportação ou publicidade. “O boca-a-boca é a nossa arma”, garante Dina.

Morada: Fajã dos Vimes, São Jorge

Preço: O café custa um euro

 

Hámar

Paulo é filho e neto de pescadores e, tal como Bruno, vive em Porto Formoso. Criaram o projeto Hámar para levar com eles quem queira conhecer as rotinas dos pescadores. “Saímos ainda de noite e começamos o dia em pleno oceano, a ver o nascer do sol”, descreve.

A sustentabilidade do projeto vê-se nas práticas – a pesca é sem rede, apenas feita com linha – e na ligação ao local. “As pessoas acompanham o nosso trabalho e, no final, ou almoçam connosco ou podem até levar o peixe que pescaram para comer num dos restaurantes do porto”, refere Bruno.

Morada: Rua Francisco Machado Faria e Maia 1, Porto Formoso, São Miguel

 

Azores Trail Run

Este evento esgota voos e alojamento e enche as ilhas com turistas de todo o mundo. “No ano passado tivemos atletas de 40 nacionalidades”, refere Mário Leal, diretor da prova. Além de trazer pessoas à ilha em alturas de época baixa – as provas do Azores Trail Run acontecem em fevereiro, maio e outubro -, é um evento que envolve a comunidade e preserva a natureza. Nos abastecimentos há bananas, biscoitos e queijo locais, a água é da torneira e servida diretamente nos cantis dos atletas, e são plantadas árvores para compensar o impacto do evento. “Às vezes até tenho de me lembrar que em primeiro lugar está a prova”, brinca Mário. 

Morada: Rua Capelo Ivens – Apartado 194, 9900, Horta

 

Quinta do Bom Despacho

Não há nada que escape ao olho ecologista de Joana Coutinho, que trouxe para a casa de família anos de formação em sustentabilidade. A horta é biológica, há carregamento para veículos elétricos e as casas de banho do exterior trocam o autoclismo por uma espécie de compostagem. Os bancos são feitos de troncos de árvores, as camas de paletes e a mesa do jardim já foi uma porta. Os detergentes são ecológicos, os sabonetes são feitos à mão e a piscina é tratada sem químicos, apenas com algas. No meio disto tudo existem oito quartos disponíveis para alojamento e uma cozinha com produtos da horta disponíveis para consumo.

Morada: Rua do Lagedo, 62, 9500-213 Ponta Delgada

Preço: desde 24 euros por noite

 

Azores Wine Company

Para quem está habituado às vinhas altas do Continente, é surpreendente chegar ao Pico e ver que o vinho se faz a um palmo do chão e no meio de pedra vulcânica. Filho de um açoriano e de uma alentejana, António Maçanita viveu rodeado de bom vinho e daí lhe surgiu a vontade de dar voz a um produto a precisar de ser reconhecido. Criou a Azores Wine Company e está a plantar a maior vinha contínua do Pico. “Já recuperámos 30 hectares, mas queremos chegar aos 120”, explica. A criação da empresa dá trabalho a tempo inteiro a 16 pessoas e valorizou a matéria-prima. “Se estas uvas eram vendidas a 70 cêntimos, agora valem quase 5 euros”, conta, orgulhoso de ter transformado um trabalho de sobrevivência num negócio.

Morada: Rua dos Biscoitos 3, São Mateus, Pico

 

Quinta dos Sabores

Inês e Paulo deixaram o Continente rumo a São Miguel em 2001 com o objetivo de recuperar uma quinta que lhes calhou em herança. Aprenderam tudo o que havia para aprender sobre agricultura e começaram a vender cabazes de fruta e legumes pela ilha. Mas a produção era tanta que passaram a escoá-la no projeto que já há muito sonhavam pôr em prática: abrir um restaurante. “É mais que isso”, explica Inês, “queremos que a pessoa se sinta em casa quando cá entra.” A lareira acesa, as velas na mesa e a mobília antiga dão esse toque especial e o resto vem da cozinha: todas as verduras vêm da horta e tudo o resto são produtos locais.

Morada: Rua Caminho da Selada, 10, Rabo de Peixe, São Miguel

Preço: o menu custa 35 euros