O mundo diplomático encontrou–se ontem nos arredores de Paris com a fina flor da economia internacional para, juntos, mostrarem que a luta contra as alterações climáticas não está ferida de morte com a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, assinado em 2015. De um lado, meia centena de representantes diplomáticos e ministros dos Negócios Estrangeiros tentavam mostrar que há apetite político para combater o aquecimento global para além da liderança americana. Do outro estavam 26 biliões de dólares em recursos, aparentemente prontos a tapar, pelo menos em parte, o buraco que Donald Trump abriu no fundo comum do acordo.
Apesar de todas as demonstrações de boa vontade, porém, o mundo está aquém das promessas de há dois anos. “Estamos a perder a batalha”, recordou ontem Emmanuel Macron, o presidente francês, que, na Europa e na ausência de Trump, vem procurando assumir a liderança no combate às alterações do clima que Barack Obama cobiçava para os EUA. O presidente francês recordou que as emissões de gases de estufa atuais levarão ao aquecimento global em 3,5 graus centígrados, bem acima dos dois graus a que o Acordo de Paris se propõe e há muito são o objetivo das Nações Unidas. “Não estamos a mover-nos suficientemente rápido”, disse.
Macron apresentou ontem 12 acordos não vinculativos que vão desde o combate à desertificação até ao estímulo da economia descarbonizada. Os programas funcionarão inicialmente com os 300 milhões de euros avançados pelo governo francês – assim como havia prometido em campanha. O presidente anunciou também 18 bolsas de estudo em torno das alterações climáticas, igualmente com fundos franceses. Também ontem, as cerca de 200 empresas que foram à cimeira em Boulogne-Billancourt prometeram investir mais dinheiro na transição para uma economia verde e pressionar as cem maiores empresas a reduzirem as suas emissões.
A União Europeia disse ontem que irá reduzir as exigências de capital para conceder empréstimos a empresas verdes, mas também este compromisso não é vinculativo e apenas uma demonstração de intenções. Os países em desenvolvimento que poderiam beneficiar do fundo de 84 mil milhões de euros prometido pelo Acordo de Paris – como um estímulo para desenvolverem fontes de energia limpas em vez de aumentarem o consumo de combustíveis fósseis – avisam, por outro lado, que a bolsa ainda está vazia, mesmo que só esteja previsto que venha a ser acionada em 2020. “Não é preciso esperarmos que se acabe o carvão e o petróleo para deixarmos de usar combustíveis fósseis”, disse ontem o secretário-geral da ONU, António Guterres, pedindo mais dinheiro para o fundo. “Precisamos de inverter o futuro, não o passado”, lançou, citado pela Lusa.