“Apesar da perspetiva global não dar conforto a um país que aposta no setor, antecipamos que o aumento da produção fará com que o carvão seja a maior fonte de receitas de exportação no médio prazo (…) em Moçambique”. A previsão é de abril deste ano e foi avançada pela Economist Intelligence Unit (EIU). Entende aquela agência de análise, pertencente ao mesmo grupo da conceituada revista britânica “The Economist”, que a diminuição dos riscos securitários no país, aliada à subida dos preços do carvão no mercado internacional e ao investimento crescente de empresas indianas no território moçambicano – a Índia figura na lista dos países que mais têm, produzem e consomem carvão [ver infografia ao lado] – trouxe um “renovado fôlego” à indústria que tem tudo para ser um “mercado-chave” para Moçambique.
“O aumento da produção na mina de Moatize, de 8,7 milhões de toneladas em 2016 para 13 milhões em 2017, e 18 milhões em 2018, deve provavelmente ser suficiente para o carvão ultrapassar o alumínio como a maior fonte de receitas de exportação em Moçambique este ano”, aposta a EIU.
Previsões à parte, o governo moçambicano tem depositado cada vez mais esperanças no setor, para alavancar uma economia estagnada e demasiado dependente da África do Sul. Para tal, tem contado com a preciosa ajuda da multinacional brasileira Vale, que lidera a produção do carvão mineral num país com reservas estimadas superiores a 20 mil milhões de toneladas – a grande maioria oriundas de Moatize, na província de Tete, bem no interior da massa de território moçambicano acotovelada entre o Zimbabué, a Zâmbia e o Malawi.
Aliada à japonesa Mitsui, a Vale Moçambique conseguiu produzir e escoar 10 milhões de toneladas de carvão entre janeiro e outubro deste ano, duplicando dessa forma os valores obtidos nos primeiros dez meses de 2016. A empresa mineira aponta para um total de 13 milhões até ao final de 2017 e estabelece como meta uma produção anual de 22 milhões.
Grande parte do sucesso da multinacional brasileira tem que ver com a decisão de abandonar a linha férrea de Sena, que liga Moatize ao porto da Beira, e de passar a utilizar a linha de Nacala, que atravessa o Malawi, a caminho de um porto de águas profundas com capacidade para receber navios até 180 mil toneladas – o da Beira está limitado a 40 mil. A Vale também conta lucrar com a implementação do projeto, iniciado em 2012, de remodelação da atual linha férrea, construção de um novo corredor paralelo e edificação de um terminal de carvão no porto de Nacala-a-Velha.