Já estão a ser dados os últimos passos para a entrada da Santa Casa no Montepio para ficar com 10% da instituição financeira. Uma posição que vai exigir um investimento na ordem os 200 milhões de euros. Ao que o SOL apurou, ainda faltam alguns pareceres técnicos, nomeadamente do banco de investimento Haitong, para que a operação seja concluída. No entanto, fonte ligada ao processo admite que nenhuma das partes se quis precipitar, daí a entrada da instituição liderada por Edmundo Martinho ter vindo a ser adiada desde junho passado. Além disso, só na primeira semana de dezembro é que a Associação Mutualista Montepio (GEMG) ficou com 98,3% do fundo de participação da Caixa Económica Montepio. Uma das exigências que era necessário cumprir para avançar com o negócio.
Edmundo Martinho já veio admitir que o processo só estará concluído no início do próximo ano, mas a mesma fonte acredita que essa data «poderá ser antecipada», porque a partir do momento em que todas as questões «estiverem limadas a decisão será imediata».
Para já e, para avançar com este banco social, já foi encontrado um sucessor de Félix Morgado para liderar o Montepio. Nuno Mota Pinto foi o nome escolhido para ficar à frente da instituição financeira e ao que o SOL apurou irá receber luz verde por parte do Banco de Portugal (BDP) nas próximas semanas.
Segundo a Associação Mutualista, o atual administrador do Banco Mundial «iniciará as suas funções logo que nas próximas semanas sejam cumpridos os tramites estatutários, legais e regulamentares», acrescentando ainda que «a escolha reúne o consenso da estrutura acionista e adequa-se ao perfil requerido para a execução da estratégia definida no sentido de dar cumprimento aos objetivos de transformação da CEMG na instituição financeira portuguesa de referência para a economia social».
Ao que o SOL apurou, Nuno Mota Pinto tem carta branca para nomear os restantes elementos que irão compor o concelho de administração e, tudo indica, João Neves estará de saída. Um nome que nunca agradou à associação liderada por Tomás Correia. Ainda assim, todos os nomes dos órgão de governação serão eleitos por consenso entre a associação dona do banco e a Santa Casa.
Nuno Mota Pinto tem desenvolvido no Banco Mundial os mecanismos financeiros para o desenvolvimento económico, a globalização, a redução da pobreza, as abordagens económicas e os movimentos cívicos e políticos em crises financeiras. Filho do antigo primeiro-ministro Carlos Mota Pinto é o responsável para Portugal e outros países como Itália, Grécia e Timor-Leste desde 2003, do Banco Mundial, tendo no curriculum a passagem, por dez anos, no BPI, onde começou a sua carreira como analista financeiro, passando depois por manager e analista sénior.
Um perfil que vai ao encontro da nova estratégia que tem vindo a ser apresentada pela associação liderada por Tomás Correia e que sempre foi alvo de forte contestação por parte do ainda presidente do Montepio Félix Morgado.
O SOL já tinha avançado em setembro que a sua saída estaria para breve e que era impensável terminar o mandato que terminaria no final de 2018.
Divergências
O que é certo é que relação entre Tomás Correia e Félix Morgado degradou-se nos últimos meses e segundo fontes ligada ao processo assistia-se a «intransigências muito difíceis de ultrapassar». Aliás, a relação entre os dois terá ficado mais tensa quando Félix Morgado pediu ao Ministério do Trabalho o estatuto de empresa em reestruturação para alargar as quotas das rescisões. O presidente da Caixa Económica terá feito o pedido sem informar Tomás Correia, que levou a mal não ter sido consultado para a tomada daquela decisão.
Também o facto de nas contas de 2015 terem sido reconhecidas imparidades com vários negócios decididos pela administração Tomás Correia causou algum mau estar entre os dois.
Mas os problemas não ficaram por aqui. A estratégia definida para o banco tem tido duas vozes. De um lado, Félix Morgado a defender a mudança de nome para a instituição financeira. Por outro, Tomás Correia a mostrar-se intransigente nesta matéria.
Até setembro, a Caixa Económica Montepio Geral lucrou 20,4 milhões depois de ter registado prejuízos no ano passado. Esta melhoria nas contas foi graças a cortes nos custos operacionais, aumento do produto bancário e aumento das comissões.