Isto não vai como estás à espera», diz a certa altura Luke Skywalker que em Os Últimos Jedi havemos de encontrar no exato lugar que O Despertar da Força (2015) havia prometido. O lugar «mais difícil de encontrar da galáxia», que de uma maneira ou de outra não o prevenirá de ser encontrado. Tudo bate certo no início deste oitavo episódio, penúltimo para que fique completa a terceira trilogia da saga iniciada em 2015 com o filme realizado por J. J. Abrams, que recupera a história exatamente onde há dois anos ela tinha ficado. Quanto a Skywalker, talvez estivesse errado. Talvez tudo vá acontecer como se esperava mesmo – sobretudo quando começamos a acreditar no contrário.
Escrevia esta semana Peter Debruge na Variety que seria possível o exercício de saltar de ODespertar da Força para o que for o Episódio IX (ainda sem título, com estreia em 2019)sem ficarem confusas em relação ao que terá acontecido pelo meio. E é possível que sim. «Como se a tarefa de Johnson [Rian Johnson, que escreveu e realizou o filme que chegou esta semana às salas] fosse prolongar o franchise sem mudar nada de verdadeiramente fundamental, o que estará mais próximo do modo de operar da televisão clássica ou de um James Bond antigo do que de qualquer coisa que George Lucas alguma vez tenha defendido.» Nada disto impede, claro, que Os Últimos Jedi cumpra aquilo em que parece ter-se transformado a função de um filme de Star Wars: entreter fãs – estranhamente, depois de com O Despertar da Força J. J. Abrams, que em 2019 regressará para assinar o desfecho da trilogia, ter sido capaz de afastar esses receios com um filme que recuperava o entusiasmo da primeira trilogia (1977-1983) ao mesmo tempo que fazia avançar a história com novos personagens, num difícil equilíbrio entre passado e presente, fãs e um público que aí poderia ser mais vasto.
Menos aqui, num filme que Rian Johnson (que dará, ainda sem data confirmada, início a mais uma trilogia de Star Wars, desta vez paralela) nos entrega mais inconsequente e imperfeito do que o anterior, por vezes confuso até – o que fazer, por exemplo, com a personagem de Benicio del Toro, inaugurada na saga num registo a aproximar-se de de um capitão Jack Sparrow (Johny Depp) em Piratas das Caraíbas?
Mas nem será pior do que antes num capítulo que capaz de prestar a homenagem devida a Carrie Fisher – «em memória da nossa adorada princesa», lê-se antes dos agradecimentos finais –, que morreu em dezembro do ano passado, quando tinha já terminado a rodagem de Os Últimos Jedi, que entrega o protagonismo a personagens femininas. Leia como líder inequívoca da Resistência numa altura em que a Primeira Ordem parece fortalecida, a quem se vem juntar Laura Dern como vice-almirante Amilyn Holdo. Além de Paige (Veronica Ngo), Rose Tico (Kelly Marie Tran) e Rey (Daisy Ridley), claro, que já O Despertar da Força apresentava como única herdeira possível dos Jedi depois do desaparecimento de Luke Skywalker.
Mas será Rey apenas? A trama pode adensar-se pouco neste capítulo, mas a resposta para o que virá a seguir estará provavelmente nela – talvez também em Kylo Ren, personagem a tornar-se mais complexo – e humano – numa evolução que vem assentar bem melhor a Adam Driver do que antes. E que vem semear a dúvida sobre se terá mesmo só dois lados a Força, e eis aí, nesse gesto em que Kylo Ren tira – ou deixa cair – a máscara o que de melhor tem esta estreia de Rian Johnson na saga das estrelas. Porque quando tudo volta a parecer perdido, resolvido, estará mesmo? Respostas não há. Na verdade, nem Adam Driver tem – pelo menos é o que diz – qualquer vontade para o destino de Kylo Ren. «Aprendi ao fazer uma série que a melhor forma de fazer uma personagem que vai evoluindo ao longo de episódios é não ter nenhuma ideia sobre o que lhe vai acontecer», disse numa entrevista promocional do filme que chegou esta semana às salas. Talvez também a confusão criada por Johnson neste Os Últimos Jedi possa ter dois lados. Como a Força.