Na primeira parte da audição, o ministro Vieira da Silva admitiu que toda esta polémica o tinha fragilizado. A frase escolhida para dar conta do incómodo foi a seguinte: “Tenho perfeita consciência de que o facto de ter aceite, como muitos outros, depois de ter exercido funções governativas, na qualidade de cidadão, me coloca numa situação de particular sensibilidade”. E acrescentou: “Não há nenhuma dúvida”.
Mas quando foi interrogado, à saída da audição, pelos jornalistas, Vieira da Silva desmentiu sentir-se fragilizado: “Não acho que tenha ficado fragilizado. Todos conhecemos a quantidade de personalidades públicas que se disponibilizaram para construir aquele projeto”. O ministro recordou “os prémios” que a Raríssimas foi recebendo ao longo dos anos.
Não admitindo já a existência de uma “situação de particular sensibilidade”, relativamente à qual, perante os deputados, tinha dito não existir “nenhuma dúvida”, o ministro voltou a explicar o que o liga à Raríssimas, o cargo de vice-presidente da Assembleia-Geral. “Em 2014, dado tratar-se de um cargo não executivo, nem sequer de presidente [da Assembleia-Geral] dado os nomes das pessoas que faziam parte dos órgãos dirigentes, achei que era um dever cívico apoiar aquela instituição”.
Quanto ao seu futuro no governo, “obviamente” não se demite.
Vieira da Silva insistiu, durante todo o tempo que esteve a responder aos deputados como depois, cá fora, em declarações aos jornalista, na sua total probidade no exercício de funções públicas e depois desse exercício. “Fui secretário de Estado da Segurança Social [governo Guterres], fui secretário de Estado das Obras Públicas [governo Guterres], fui ministro do Trabalho e da Solidariedade Social [governo Sócrates], fui ministro da Economia [governo Sócrates]. Nunca exerci nenhuma função remunerada na sequência das minhas funções públicas, nem sequer admito que esse comportamento possa ser assumido de forma ligeira”, disse Vieira da Silva, numa declaração que até põe em causa vários antigos governantes, tanto da área do PS como do PSD.
O ministro fez questão, ao longo de todo o tempo em que esteve a responder aos deputados, de insistir no facto de nunca ter recebido qualquer vantagem pela sua participação enquanto vice-presidente da Assembleia Geral da Associação Raríssimas. De resto, foi a primeira coisa que o ministro fez questão de afirmar ao parlamento: “Tendo eu participado num órgão estatutário da Raríssimas não retirei qualquer benefício. [O cargo de vice-presidente da Assembleia-Geral] não me conferiu nenhum benefício pessoal direta ou indiretamente. Foi uma participação graciosa”.
Mas também insistiu que nunca existiu qualquer favorecimento da associação junto do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. “Não houve qualquer favorecimento na forma como este ministério se relacionou com a Raríssimas”.
Um superministro em xeque O caso Raríssimas perturbou o PS. Não estava em causa um ministro qualquer: Vieira da Silva é um dos ministros mais importantes e experientes deste governo. O homem que chegou pela primeira vez ao executivo pela mão de Ferro Rodrigues, que o nomeou secretário de Estado da Segurança no segundo governo de António Guterres, tornou-se muito rapidamente um peso pesado dos socialistas. Se decidisse sair do governo, seria um tiro no porta-aviões.