Portugal foi um dos 128 países que votaram ontem contra a vontade e ameaças do presidente norte-americano e repudiaram a sua decisão de reconhecer Jerusalém como capital de Israel. O voto de ontem na Assembleia Geral das Nações Unidas pouco alterará, não é vinculativo e o seu peso é sobretudo simbólico, mas serve à esmagadora maioria das nações do mundo como forma de dizer que o desvio americano do consenso internacional é errado, prejudica a paz e dificulta a resolução do conflito no Médio Oriente. Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestiniana, encarou o voto de ontem também como sinal de que a comunidade mundial apoia as suas reivindicações. “É uma vitória para a Palestina”, disse.
Apenas nove países votaram contra a resolução em que se reitera o consenso internacional dos últimos 50 anos e se exige que os EUA o cumpram: o estatuto de Jerusalém, insiste o documento, deve ser negociado entre israelitas e palestinianos, os dois povos que reclamam a cidade como sua. Entre esses nove votos contrários encontram-se os Estados Unidos e Israel. Trinta e cinco países abstiveram-se – entre eles vários aliados americanos, como a Austrália e o Canadá, por exemplo – e 21 delegações não compareceram.
A votação de ontem foi organizada com caráter de urgência e nunca esteve propriamente em dúvida: trata-se, afinal de contas, do consenso internacional, e o próprio Conselho de Segurança da ONU já havia votado sobre o mesmo assunto na terça-feira, 14 contra 1 – esse voto único, claro, pertenceu aos EUA. O simbolismo da moção de ontem, no entanto, sublinha o isolamento internacional da administração Trump e nos últimos dias tornou-se ainda mais importante dadas as ameaças de última hora vindas de Washington. A enviada americana começou por dizer na quarta-feira que o seu governo se iria recordar de países que votassem contra os seus interesses no momento de passar os cheques do financiamento humanitário e Trump, falando horas depois, assegurou que o país iria “poupar imenso” com a votação.
A campanha de pressão – derrotada à partida e largamente improvisada, segundo escrevia ontem o “Guardian” – não funcionou, embora possa ter estado por detrás de algumas faltas. A embaixadora dos EUA nem por isso deixou de voltar à carga. A decisão, assegurou ontem, “é nula e inválida” e a memória americana não vai falhar. “Os EUA vão recordar-se deste dia em que foram criticados a sós na Assembleia Geral por exercerem o seu direito como uma nação soberana”.
O governo israelita, por sua vez, já se havia lançado à sessão ainda antes de ela ter começado. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou que a Assembleia Geral da ONU é “uma casa das mentiras” e o seu embaixador na ONU afirmou ao longo da assembleia que é uma questão de tempo até que o mundo se alinhe com os EUA e reconheça que Jerusalém pertence e é a capital de Israel. “Parecem fantoches controlados pelos mestres palestinianos”, lançou Danny Danon.