Petição quer travar entrega da gestão do Teatro Maria Matos a privados

A vereadora da Cultura da Câmara de Lisboa anunciou numa entrevista ao “Público” uma reorganização da rede de teatros municipais que prevê uma nova vida para o Teatro do Bairro e a reorientação da programação do Maria Matos para “espetáculos de grande público, que vivem da bilheteira”.

Um grupo de cidadãos lançou uma petição para travar o processo de concessão da gestão do Teatro Maria Matos a uma entidade privada com fins lucrativos, como parte de um programa de reorganização da rede de teatros municipais que a Câmara de Lisboa se prepara para pôr em marcha já a partir de janeiro.

Os signatários – 280, ao final da tarde desta quinta-feira – contestam a cedência a privados de “um equipamento municipal público em pleno funcionamento e em reconhecido crescimento”, no qual “ao longo dos últimos dez anos se fez um investimento público continuado”, tanto pela requalificação do espaço como pela aquisição de equipamento técnico e pela formação de recursos humanos bem como de “públicos diferenciados”. Um investimento que, argumentam, “não apenas fortaleceu o tecido cultural da cidade e do país, como recolocou o teatro no território que lhe é circundante e o tornou um ponto central de várias redes culturais internacionais” – todo um trabalho e investimento que, criticam, serão anulados por uma decisão anunciada “na semana antes do Natal” e “pouco depois de eleições autárquicas” sem que nada desta reestruturação tenha constado do programa político de Fernando Medina.

A decisão foi anunciada pela vereadora da Cultura numa entrevista ao “Público” na edição do domingo passado. Segundo explicou Catarina Vaz Pinto, a decisão de fazer uma reestruturação da rede de teatros municipais de Lisboa – dez, ao todo – impôs-se depois da saída de Mark Deputter do Teatro Maria Matos para a Culturgest e do encerramento do Teatro da Cornucópia, que ocupava o Teatro do Bairro Alto, para onde será transferida a programação de arte contemporânea experimental atualmente acolhida pelo Maria Matos, que passará a estar orientado para “espetáculos de grande público, que vivem da bilheteira e de alguns patrocínios”, menos sujeito a “uma ideia de financiamento à programação que existe nos outros teatros”.

Quanto ao eixo de programação infanto-juvenil, na qual a vereadora reconhece que o Maria Matos teve nos últimos anos “um papel de força motriz”, a intenção é transferi-lo para o Teatro Luís de Camões, com gestão direta camarária, através da EGEAC.

O que pedem os signatários na petição dirigida ao presidente da câmara, Fernando Medina, à presidente da mesa da Assembleia Municipal, Helena Roseta, e à vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, é, além de um maior investimento público na cultura, o debate público que não existiu antes de ter sido anunciada a intenção de restruturar a rede de teatros municipais de Lisboa, no que denunciam como um “desrespeito pelos cidadãos e pelo processo democrático”.

O concurso público para a gestão do Maria Matos abrirá já em janeiro, para que o novo modelo de gestão entre em funcionamento já a partir da temporada 2018/19. Um outro concurso será lançado simultaneamente para a direção artística do Teatro do Bairro, casa da Cornucópia até à sua extinção, há um ano, e que passará a acolher nesta reorganização que Catarina Vaz Pinto quer pôr em marcha uma programação de teatro e artes performativas contemporâneos emergentes, numa linha semelhante à que vinha sendo desenvolvida pela programação do Maria Matos.