A durabilidade de um partido no Governo, em Portugal, está intimamente associada aos resultados da economia. O eleitor português não ‘come’ ética – veja-se como Sócrates, depois de já serem mais do que públicos vários dos seus desmandos, conseguiu voltar a ganhar as eleições em 2009. De resto, a maioria dos que o rodeavam não via, não sabia, não queria saber e tinha raiva de quem soubesse – e o escrevesse. Até ser preso, Sócrates beneficiou de total impunidade dentro do seu partido. Qualquer notícia que viesse a público sobre os atos do ex-primeiro-ministro era imediatamente alvo de uma tentativa de descredibilização: «jornalismo de sarjeta», «caça ao homem», etc. Uma grande parte da elite portuguesa é totalmente cega, logo complacente, com as provas de falta de ética republicana dos seus. PSD e PS e a maioria dos que os apoiam são, nesta matéria, gémeos. O povo também não é particularmente exigente.
Tudo isto para dizer uma coisa simples. Costa pode ter falhado em várias questões – os incêndios de Pedrógão e os de 15 de outubro são uma prova brutal da fragilidade do Estado e de quem o governa – mas os resultados económicos são extraordinários. No terceiro trimestre, o défice ficou nos 0,3% do PIB, um número que a direita adoraria obter. Costa anunciou esta semana, em frente ao Presidente da República, que o défice de 2017 será inferior a 1,3% do PIB, logo vai ficar abaixo da meta fixada de 1,4%. Com o desemprego a diminuir e um maior crescimento da economia, Costa deverá ser imbatível em próximas legislativas. Isto foi o que aconteceu com Cavaco que, numa circunstância económica favorável depois do choque do FMI de 83-85, viu o PIB crescer 5,6% ao ano, a procura interna 7,5%, a inflação a descer. A esquerda, em desespero, insurgia-se contra «a política de betão» quando, para sermos intelectualmente honestos, Cavaco fez uma política social-democrata, construindo estradas e infraestruturas básicas num país pobre e carente.
Se nenhuma crise económica voltar a ameaçar o mundo, pode acontecer ao PS de António Costa exatamente o que se passou com o PSD de Cavaco, que deu ao PS 10 anos de oposição amargurada. O novo líder do PSD, qualquer que ele seja, não pode ter grandes ilusões sobre o estreito caminho que tem à sua frente.