Fornecer combustíveis mais baixos até 14 cêntimos por litro nas principais autoestradas do país foi a promessa da Q8, da Kuwait Petroleum Corporation, mas que a Brisa deixou cair por terra. Uma das principais produtoras de petróleo do mundo entrou no concurso para a renovação da exploração de oito estações de serviços nas autoestradas A1 e A2 para um período de 10 a 15 anos. Para uma segunda fase será lançado para os restantes espaços.
A Q8 concorreu a cinco estações – Leiria, Pombal, Mealhada, Antuã e Almodôvar – e, para já, a pouco mais de uma semana da data fixada para o inicio da exploração (1 de janeiro de 2018) só são conhecidos os resultado relativos à estação de serviço da Mealhada, em que a escolha recaiu na BP, que já explora aquele espaço, e de Antuã, com a Repsol a manter o contrato de exploração.
Face a estes resultados, a Q8 acredita cada vez mais que irá ficar afastada dos restantes espaços e que estes irão continuar a ser explorados por quem já está presente. Marco Reis, da Vapo Atlantic, empresa parceira da Q8, reitera ao SOL que «parece não haver interesse em alterar o atual paradigma dos preços altos, que estranhamente são ainda mais elevados do que o preço de referência».
Uma acusação afastada pela Brisa, ao afirmar que «os critérios de adjudicação eram objetivos e ganhou a melhor proposta, quer em termos de contrapartidas financeiras, quer em critérios de serviço aos utilizadores de autoestradas». Mas que não agrada aos responsáveis internacionais da Q8, que continuam a olhar para estes resultados do concurso com alguma surpresa. «Como é possível não ter sido levado em conta por parte da Brisa a importância e valorização da presença na A1 e na A2 de um dos maiores operadores ao nível global, que até detém o maior cartão frota diesel da Europa?», questiona a petrolífera.
Consumidores afetados
Para Marco Reis, os principais afetados por esta decisão da concessionária são sem dúvida os consumidores, principalmente quando a Q8 apresentou uma aposta de preços baixos com descontos diretos sobre o preço de referência que poderiam atingir até 14 cêntimos por litro. «Estamos a falar em poupanças para os consumidores de até 8 euros por cada abastecimento, dependendo da capacidade de deposito de cada veículo», reitera ao SOL.
Também a Brisa, segundo Marco Reis, é penalizada por esta decisão de «permanecer tudo na mesma» na ordem das centenas de milhares de euros. «Atualmente os utilizadores/consumidores evitam abastecer nas autoestradas e optam por recorrer a operadores low-cost antes e no final das viagens. A nossa intenção era cativar esses consumidores de forma a que esses litros fossem consumidos dentro das autoestradas da Brisa. Mais consumidores, mais litros, melhor preço para o consumidor, há aqui qualquer coisa que não está bem nesta decisão», refere.
O responsável revelou ainda que a Q8 propôs à Brisa construir, respeitando os seus parâmetros, postos de abastecimento e sua exploração nas autoestradas A10 e A14, uma vez que nestas vias não é respeitada a regra de ter estações de serviço num raio de 50 quilómetros. Até à data, a Brisa não deu qualquer resposta.
Negócio em crescimento
A Q8 entrou no mercado nacional no final de 2015 e conta com cerca de 25 estações de serviço, estando neste momento a negociar com algumas redes com vista a alargar o seu serviço. A empresa tem como objetivo atingir os 100 postos num prazo de cinco anos, assente sempre na premissa de preços baixos.
O crescimento da atividade assenta essencialmente por via de aquisição, arrendamento ou exploração de postos já existentes. No entanto, também está prevista a construção de novas áreas.
Para a Vapo Atlantic, a aposta em Portugal era natural já que a Kuwait Petroleum tem como prioridade a expansão do seu negócio na União Europeia. Ainda assim, admite que o mercado nacional tem algumas especificidades que é preciso acautelar. «Portugal é um mercado de tal forma fechado e dominado pelas grandes companhias que, se queríamos crescer, teríamos de importar diretamente a matéria-prima. E assim surgiu a nossa associação à Kuwait Petroleum», salienta a empresa parceira.
A aposta mantém-se inalterada desde 2015: «A nossa intenção assenta numa melhor distribuição das margens pela cadeia de valor, ao contrário do que se verifica atualmente com os grandes operadores», salienta.
Carga fiscal penalizada preços
A promessa em revolucionar o mercado, apresentar preços mais baratos através da comercialização de combustíveis simples – uma medida implementada pelo Governo de Passos Coelho – acabou por ficar aquém das expectativas. E mesmo que se assista a descidas do preço do barril essas reduções têm sempre um impacto ligeiro na fatura a pagar pelos consumidores sempre que vão abastecer o seu carro.
A Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (Apetro) justifica este facto com a elevada carga fiscal e os custos fixos não dão margem de manobra para assistirmos a uma redução muito grande de preço. De acordo com a mesma entidade, a carga fiscal na gasolina representa 63% do valor final, enquanto no gasóleo pesa 56%. A juntar a isto é necessário contar ainda com os custos fixos das despesas de armazenamento e distribuição e do biocombustível.
Mas apesar do peso da carga fiscal, que é apontada pelo setor como a principal causa dos preços elevados que são praticados, o atual Governo chegou a pedir, no início deste ano, à Autoridade da Concorrência (AdC) para realizar um novo estudo sobre a margem de lucro que as gasolineiras têm na venda ao público de combustíveis.
Já em julho deste ano, Margarida Matos Rosa, presidente da Concorrência, chegou a admitir no Parlamento que as recomendações que têm sido feitas desde 2004 poderiam levar a uma descida dos preços dos combustíveis, mas «muitas delas não foram implementadas», considerando ainda que essas recomendações «trariam maior concorrência no setor, logo uma possível baixa de preços.