O gabinete do secretário-geral da ONU, António Guterres, confirmou esta terça-feira o que o governo norte-americano anunciou no domingo e reconheceu que a organização vai cortar mais 85 milhões de dólares do que o esperado no orçamento para o próximo ano, ultrapassando o valor de 200 milhões que havia já negociado e anunciado em outubro e que estavam em linha com o programa do novo líder da organização.
Stephane Dujarric, uma das porta-vozes de António Guterres, disse esta terça à CNN que a organização ainda está a avaliar o possível impacto do corte adicional e que esta semana vai reagir à redução extraordinária, aparentemente exigida à última hora pelo governo de Donald Trump.
Não se sabe ao certo quanto é que o executivo norte-americano vai pagar a menos para o ano. O que é certo, todavia, é que a embaixadora dos Estados Unidos para as Nações Unidas disse no domingo que o corte de 285 milhões de dólares – ou 240 milhões de euros – no orçamento para o ano fiscal de 2018-2019 acontece por pressão americana, insinuando até que pode estar relacionado com as recentes moções de censura ao reconhecimento americano de Jerusalém como a capital de Israel.
“Não permitiremos que se aproveitem da generosidade do povo americano ou que esta não tenha controlo”, afirmou em comunicado Nikki Haley, a embaixadora americana que apenas na semana passada ameaçava com as mesmas palavras os países que se preparavam para condenar os EUA, dizendo que os seus cheques de ajuda humanitária podiam desaparecer caso fossem contra a vontade de Washington – “vamos poupar imenso”, disse Donald Trump por esses dias.
“A ineficácia e o esbanjamento nas Nações Unidas são bem conhecidos”, disse ainda Haley. “Este corte histórico na despesa – à semelhança de outras medidas que promovem uma ONU mais eficaz e responsável – é um passo na direção certa.”
Programa em risco?
António Guterres concorreu ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas prometendo cortes orçamentais e dizendo que a máquina burocrática da organização deve ser emagrecida. Neste tema, aliás, Donald Trump e Guterres sempre se mostraram mais ou menos em sintonia e insistiram neste ponto pelos dias da Assembleia-Geral deste ano – o secretário-geral participou até num painel promovido e presidido pelo novo governo americano e no qual se discutiu a eficácia da organização.
Há poucas semanas, porém, começaram a surgir sinais de divergência entre o secretário-geral e a delegação americana.
Guterres propôs em outubro um corte de 200 milhões de dólares no orçamento da organização para 2018-2019, mas semanas depois, já no início deste mês, a AFP revelou que o governo americano pretendia uma redução ainda maior: 250 milhões, segundo a agência francesa, que avançava também que a União Europeia defendia uma redução de 170 milhões.
Os valores apresentados por Nikki Haley no domingo, no entanto, vão ainda mais além, o que sublinha a tese de que as votações da semana passada no Conselho de Segurança e Assembleia Geral, censurando os EUA sobre a decisão de Jerusalém, podem ter contribuido para algumas represálias.