Há pessoas que, com o que viveram, nos fazem acreditar que vão na terceira vida. Ou, visto de outro modo, há histórias numa vida que aos nossos olhos só parecem ser possíveis se juntarmos três pessoas. É o caso de Jorge Nuno Pinto da Costa, que a partir de hoje passa a ter 80 anos nos cartões de identificação. Uma vida cheia de paixões, com o futebol no centro, embora nem sempre assim tenha sido.
Natural do Porto, Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa nasceu a 28 de dezembro de 1937, Dia dos Santos Inocentes como gosta de sublinhar, e é o quarto de seis filhos de José Alexandrino Teixeira da Costa e de Maria Elisa Pinto.
Do Colégio das Caldinhas, onde estudou na juventude, ao Liceu Almeida Garrett, onde terminou o equivalente ao 12.º ano dos dias de hoje, o lugar que agora ocupa há praticamente metade da sua vida era um cargo bem longe do imaginário de Nuno, como os irmãos lhe chamavam, ou de Jorge, nome pelo qual era tratado entre amigos.
A ligação ao clube
Armando Pinto, fervoroso adepto do clube azul e branco e tio de Pinto da Costa, é um dos grandes responsáveis pela ligação do atual presidente ao emblema da Invicta. É com ele que Pinto da Costa assiste ao seu primeiro jogo no Campo da Constituição. Anos depois, é pela mão de Afonso Pinto de Magalhães, presidente do FC Porto entre 1967/1972, que Pinto da Costa se envolve no espiríto do clube. E a história, para quem não conhece, é muito mais improvável do que possa pensar-se.
A secção de hóquei em patins começou por ser a primeira grande missão de Pinto da Costa ao serviço dos azuis-e-brancos. Seguiu-se o boxe, modalidade que se encontrava na altura em risco de extinção, e por aí em diante. Destacou-se pelo seu dinamismo e Américo de Sá, sucessor de Pinto de Magalhães, convida-o para o departamento de futebol, lugar que ocupa a partir de 1976. Seriam precisos apenas dois anos para o FC Porto festejar o título nacional, troféu que tinha conquistado pela última vez há 19 anos! Segue-se o bicampeonato e o tri… acaba por fugir para o Sporting num período que fica designado entre os portistas como o “Verão Quente”.
Quatro anos depois, Pinto da Costa, incompatibilizado com Américo de Sá, decide afastar-se. Regressa a pedido dos sócios num movimento liderado por Armando Pimentel, Álvaro Pinto e Neca Couto, no qual Pinto da Costa é convidado a encabeçar uma candidatura à presidência do FC Porto. Como qualquer outra pessoa a quem o futuro troca as voltas, Pinto da Costa, que sempre esperou desempenhar funções enquanto diretor de futebol, recorre aos conselhos da mãe. Família tradicional e afastada do meio, qual não é surpresa de Pinto da Costa quando é a sua própria mãe a incentivá-lo para seguir em frente, numa memória que recupera no livro da sua autoria, “31 anos de presidência, 31 decisões”. A lista é, desta forma, encabeçada por Fernando Sardoeira Pinto (Assembleia Geral), Pinto da Costa (direcção) e Manuel Borges (Conselho Geral) e é eleita com mais de 95 por cento dos votos validamente expressos, naquele que foi o ato eleitoral mais concorrido de sempre. Dos 5.028 associados que foram às urnas, Pinto da Costa reúne uns consideráveis 4.637, sucedendo, desta forma, a Américo de Sá. “Reestruturar o clube e fortalecer o futebol; contribuir decisivamente para um FC Porto a lutar sempre pelo título; levar o clube a uma final europeia e diligenciar pelo regresso de Pedroto” eram os objetivos do novo presidente. Prometido e cumprido.
Anos de glória
Dois anos depois de chegar à presidência, o FC Porto chega à sua primeira final europeia (Taça dos Vencedores das Taças, que perde frente à Juventus), mas o feito inédito chegou em 1987, em Viena: contra todas as expetativas, o FC Porto conquista a Taça dos Clubes Campeões Europeus frente ao Bayern Munique, claro favorito à vitória. Se a festa já era garantida o after-party acontece meses depois com o triunfo da Taça Intercontinental, em Tóquio, frente ao Peñarol. Inicia-se a década de 90 e tudo se mantém igual: os azuis-e-brancos conquistam o inédito penta entre as épocas de 1994/95 e 1998/99 além dos êxitos alcançados no andebol, no basquetebol e no hóquei em patins, seção em que Pinto da Costa se estreou como vogal.
Diz que a tristeza não tem fim e que a felicidade sim, contudo, não foi com a mudança de século que os sorrisos portistas terminaram. Primeiro a Taça UEFA de 2003, em Sevilha, no ano seguinte a Liga dos Campeões, com um triunfo ante o Mónaco, em Gelsenkirchen.
A nível nacional, em 10 anos, o FC Porto sagrar-se-ia seis vezes campeão nacional e, em 2011, atingiu nova glória europeia com a conquista da Liga Europa, na final de Dublin. E num tempo em que tudo estava ao alcance deste revigorado FC Porto, a confirmação disso mesmo chegou com nova conquista nacional, num campeonato em que o clube da Invicta não sofreu nenhuma derrota e festejou o título no Estádio da Luz. “Já festejei muitos títulos mas nunca às escuras. Foi uma novidade festejar de luz apagada e com chuveiro. Nunca me tinha acontecido. É uma experiência nova. Pensei que já tinha visto tudo. Foi giro”, comentou o dirigente portuense depois do FC Porto ter sido campeão em 2011 em pleno Estádio da Luz e as luzes se terem desligado e o sistema de rega ter sido acionado, molhando a comitiva portista. Apesar da seca de títulos da equipa nos últimos quatro anos, é indiscutível a existência de uma era antes e depois de Pinto da Costa, que, aos 79 anos, tornou-se o presidente há mais tempo consecutivo na liderança de um clube na história do futebol mundial, além de ser o presidente com mais títulos da história do futebol.
As polémicas
Celebrou 35 anos como presidente dos azuis-e-brancos em abril deste ano, mas nem sempre foi sinónimo de festa como é natural. Em mais de três décadas à frente dos comandos do emblema do norte, muitas foram as acusações das quais teve de defender-se. Mas pode, porém, congratular-se de nunca ter sido condenado por um juiz. O caso Apito Dourado foi o processo mais grave movido contra Pinto da Costa. O portuense era suspeito de ter comprado árbitros na época 2003/04, altura em que José Mourinho era o orientador, através de pagamentos que seriam feitos com entregas de dinheiro ou da contratação de serviços de prostituição. Nas escutas feitas pela Polícia Judiciária ao presidente do FCP, divulgadas no Youtube, que não foram consideradas objeto de prova por terem sido obtidas de forma ilegal, é possível ouvir conversas comprometedoras antes dos encontros. “Ligaram para mim a pedir-me fruta para logo à noite. Posso levar fruta à vontade?”, ouve-se o empresário de futebol António Araújo a perguntar a Pinto da Costa, numa ligação feita momentos antes do embate frente ao Estrela da Amadora.
Da ‘fruta’ passou-se ao ‘caso do envelope’. Pinto da Costa e António Araújo eram acusados de corrupção ativa desportiva por terem pago ao árbitro Augusto Duarte, também constituído arguido. Duarte havia visitado a casa de Pinto da Costa um dia antes do encontro que iria apitar e que o FC Porto acabaria por vencer. Foi a namorada de Pinto da Costa à época, Carolina Salgado, que denunciou a situação em tribunal, adiantando ainda a quantia que estaria dentro do envelope: 2.500 euros.
A namorada de Pinto da Costa foi, de resto, uma das maiores dores de cabeça de Pinto da Costa, quando publicou, em 2006, o livro “Eu, Carolina”, após o fim da relação. No livro contava histórias que viveu com o presidente portista.
Além dos processos de corrupção de que foi alvo, outra das grandes polémicas teve que ver com a suposta ligação aos Super Dragões, claque do clube que em 2009 foi acusada de espancar jogadores com o intuito de obrigá-los a abandonar o emblema listado. Adriano, Paulo Assunção, Costinha, Co Adriaanse e Luís Fabiano foram algumas das vítimas. Confrontado com a situação, Pinto da Costa sempre se disse distante deste grupo de adeptos de quem destacou o apoio dado à equipa nos bons e nos maus momentos.
Célebre pelas suas tiradas humorísticas, Pinto da Costa fez intervenções que deixaram marcas para a história do FCP. Como aquela em que encheu o Pavilhão das Antas para reagir à penhora sobre o clube: “Até a sanita eles penhoraram”.
Como nesse e em muitos outros dias, hoje as atenções centram-se em Pinto da Costa. Celebra 80 anos de vida, dos quais 35 como presidente do FC Porto. Por enquanto a única certeza, como o próprio já confessou, é que quando deixar o lugar vago vai escrever um livro. Com o título “O meu apito dourado”.
Os ‘inimigos’ de estimação
Não é difícil de adivinhar os nomes dos dois primeiros, e principais, opositores do presidente do FC Porto. São eles os seus homólogos do Benfica, Luís Filipe Vieira, e do Sporting, Bruno de Carvalho. Se, por um lado, as arbitragens e o caso ‘Apito Dourado’, bem como o dos emails mais recentemente, têm sido uma guerra constante entre o líder encarnado e o líder dos azuis-e-brancos, também desde a entrada de BdC em cena que os ataques não têm sido propriamente poupados. Em 2014, o agora reeleito presidente leonino não se coibiu de chamar “rufia” a Pinto da Costa depois de um clássico em que acusou o presidente do FC Porto de chamar nomes a todos os ógãos sociais em Alvalade. “Às vezes não se enxergam e a idade não lhes dá vergonha”, acrescentou o dirigente leonino à data. Todavia, o rumo parecia estar a mudar depois da alegada aliança entre Sporting e FC Porto, criada supostamente para combater a hegemonia das águias, que fez com que, inclusivamente, os dois presidentes vissem, na tribuna e lado a lado, o clássico disputado no mês de setembro. Uma paz, note-se, de curta duração, após os diretores de comunicação dos respetivos clubes terem entrado em campo para discutir lances polémicos, entre eles os do encontro entre Sporting e Sp.Braga.
À parte dos rivais mais diretos, Fernando Gomes, atual presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), é outro dos nomes a figurar nesta lista. Em 2002, disse que Pinto da Costa “estava desgastado” e, em 2010, acabou por abandonar a SAD portista. Desde esse momento que as desavenças entre o clube que atualmente lidera o campeonato e o responsável pelo organismo que dirige o futebol em Portugal têm sido recorrentes. “Fernando Gomes está na FPF a pensar na UEFA” ou “Fernando Gomes matou a Liga” são algumas das acusações feitas pelos dragões ao antigo membro da direcção de Hermínio Loureiro na Liga de Clubes, cargo que ocupou antes de assumir a presidência da Federação.
Mas há mais. O atual candidato à liderança do PSD, Rui Rio, também faz parte dos ‘inimigos públicos’ de Pinto da Costa. Presidente na Câmara do Porto entre 2001 e 2013, Rio não dava importância suficiente ao desporto-rei e queria até que o “futebol deixasse de mandar na cidade”. “O Porto é a única equipa que ganha títulos internacionais e que não é recebido nos Paços do Concelho da sua própria cidade”, chegou a reclamar Pinto da Costa. A inimizade vai longa e não é esquecida. Há dois anos, o candidato laranja chegou mesmo a ser barrado à entrada do Dragão Caixa, que foi em 2015 o palco de uma conferência organizada pela SIC Notícias.
E da SIC Notícias também vem outro nome com quem Pinto da Costa travou uma guerra que acabou nos tribunais: Rui Santos. Em 2007, o comentador do programa “Tempo Extra” e autor do livro “Estádio de Choque”, em que abordou os supostos rendimentos do dirigente portuense, acabou duplamente processado. “O livro é altamente injurioso”, afirmou na altura o presidente do FC Porto que, de resto, nunca teve uma ligação fácil com os jornalistas.
As mulheres do presidente
Quando uma pessoa se casa é na perspetiva de que resulte. Mas em mais de 50% dos casos não resulta. Metade dos casamentos acaba em divórcio e da outra metade que não acaba, muitos são de fachada e vive-se com outras pessoas. Eu assumo as minhas atitudes”. A frase é da autoria do presidente do FC Porto numa entrevista concedida ao “Expresso” em 2010. Mais do que uma expressão, um lema de vida: Pinto da Costa casou quatro vezes e apresentou publicamente as companheiras quando achou que assim o deveria fazer. Manuela Carmona foi a primeira mulher a conquistar o líder portista e o casamento entre os dois deu-se em 1964. Seria a mãe do primeiro filho, Alexandre, do presidente do FC Porto, mas o casal acabaria por se divorciar ao fim de 33 anos de matrimónio, em 1997. A separação oficial seria, contudo, muito antes do divórcio, dado que, em 1985, Pinto da Costa começa uma relação com Filomena Morais, mulher que daria ao dirigente do emblema azul-e-branco, em 1987, o seu segundo filho, agora uma menina, Joana. O homem que hoje comemora 80 anos de vida voltou a acreditar que com Filomena Morais era um amor para a vida toda e, em 1998, tornou a casar. Quatro anos depois, o casamento chegaria ao fim, mas, tal como o casamento não foi para sempre, a um ponto final pode ser acrescentada uma vírgula. Os caminhos de Pinto da Costa e Filomena Morais cruzaram-se novamente e, em 2007, os pais de Joana acharam que era altura de celebrar a reconciliação com novos votos. Tal como no primeiro, as alianças escorregaram dos dedos. Porém, neste intervalo, o coração de Pinto da Costa não esteve desocupado. Carolina Salgado tornou-se a relação mais polémica de Pinto da Costa por tudo o que aconteceu após a separação, que ficou escrito no livro “Eu, Carolina” [ver texto principal]. Porém, desacreditar no amor não é, certamente, uma opção para o presidente do clube do norte que depressa voltou a apaixonar-se. A relação com Fernanda Miranda, terceira mulher com quem se casou em 2012 após separação definitiva de Filomena Morais, tornou-se mediática sobretudo pela diferença de idades entre os dois: quase 50 anos. O casal separou-se há cerca de um ano, tempo todavia suficiente para já ser conhecida a sua nova companheira. Cláudia Campo, de 40 anos, surgiu ao lado do presidente portista no jantar de Natal organizado pela Comissão de Apoio à sua recandidatura, no Porto. Ao “JN”, a bancária confessou: “Para mim o que conta é a relação que tenho com o Jorge Nuno e não com o presidente do FC Porto”.