Depois de um final de ano em que a televisão pública assumiu os riscos de apostar boa parte das suas fichas na ficção televisiva nacional – no outono de 2016 estreavam numa mesma semana quatro séries, uma para cada dia, de terça a sexta-feira – veio 2017 confirmar que essas “séries portuguesas em série” seriam só o começo daquilo que viria a seguir. Porque essa lufada de ar fresco que foi “Boys”, de Tiago Guedes, para a historicamente débil produção de séries em Portugal, foi só a primeira de várias que nos daria o ano que passou.
Veio primeiro “Filha da Lei”, de Pedro Varela (“Os Filhos do Rock”), com Anabela Moreira e Ivo Canelas a encabeçarem o elenco para uma história policial contada (e realizada, por Sérgio Graciano e Yuri Alves) com uma consistência inédita num género pouco explorado pela ficção nacional, apontar caminho. A Sérgio Graciano – impossível não o apontar como o realizador de ficção televisiva do ano – viria a ser entregue também o ambicioso “País Irmão”. Uma série de 18 episódios a prolongarem-se pelo início de 2018 escrita por Hugo Gonçalves, Tiago R. Santos e João Tordo que veio mais do que elevar a fasquia.
A história é a de um escândalo político que a ministra da Cultura (Margarida Marinho) procura abafar com a produção de uma grande novela luso-brasileira. Como “Filha da Lei”, uma produção da Stopline de Leonel Vieira para a RTP, que reúne no elenco Afonso Pimentel, José Raposo, Virgílio Castelo, Victória Guerra, Dinarte Branco, Nuno Lopes e Maria João Bastos.
Entre uma e outra, destacou-se também “Madre Paula”, adaptada por Patrícia Müller do seu livro homónimo numa produção que veio provar, no sentido oposto a produções como “Ministério do Tempo” ou “Vidago Palace”, que séries de época são possíveis com baixos orçamentos. E Joana Ribeiro – que ao lado de Paulo Pires e Sandra Faleiro, protagoniza a história de amor entre o rei João V e Paula, uma freira do Convento de Odivelas – que é uma atriz a que devemos estar atentos.
Mas princípios de caminhos não se fazem sem percalços e nem tudo foram apostas ganhas em 2017. Ano de boas estreias, ano de “A Criação” (André Banza e Sérgio Graciano, com argumento de Pedro Bisarra), a primeira série que a RTP estreou com todos os episódios em simultâneo (no RTP Play, na lógica que seguem as estreias da Netflix). Mas também o ano da interrupção da produção da segunda temporada de “Ministério do Tempo”, com o polémico caso dos salários dos atores e da equipa técnica em atraso. E ano de uma ou outra aposta ao lado, como “4Play” (RTP2) – uma oportunidade desperdiçada para a série sobre millennials que está a fazer falta.