António Costa vai esforçar-se por revelar um bocadinho mais de empatia com o povo, coisa que já se anteviu na mensagem de Natal. Talvez seja este o ano em que Costa aceite que a sua autosuficiência não é poderosa. Até porque em 2019 há umas eleições para ganhar e Costa, mais do que qualquer um de nós, lembra-se perfeitamente que perdeu as últimas, a seguir a uma campanha desastrosa. Se os números da economia continuarem favoráveis, os juros da dívida a descer, o desemprego a descer, o défice a descer, o turismo a disparar, a confiança dos consumidores em alta tudo se conjuga para que Costa, se não cometer mais erros trágicos, volte a ser primeiro-ministro. Até porque, do lado do PSD, não se vê grande chama, nem nas hostes de Santana Lopes nem na equipa de Rui Rio.
Por muito que Costa já tenha dito muitas vezes que gostaria de repetir a geringonça, BE e PCP têm reafirmado que ela é irrepetível. Em 2018 a distância entre o Governo e os parceiros vai agravar-se. E Costa nunca o dirá, mas sonha com aquilo que Carlos César já enunciou publicamente: a maioria absoluta. No ano que entra, Costa vai começar a trabalhar mais intensamente para isso. Paradoxalmente, Bloco de Esquerda e PCP, ao não terem assumido uma coligação mais clara – o PCP aponta com frequência o dedo ao «Governo do PS» que «não é de esquerda» – estão a favorecer a subida do PS.
O PCP percebeu que a aliança com o PS o está a prejudicar. O sinal vermelho foi dado nas autárquicas. Os comunistas não repetirão a experiência, a menos que as ‘condições objetivas’ sofram uma alteração significativa. O PCP já confessa abertamente que a geringonça lhe está a ser desfavorável e que todos os sucessos, mesmo aqueles que se devem a exigências do PCP, são atribuídos ao Governo PS.
O Bloco teve um grande conflito com o PS a propósito das rendas da energia mas tem hoje, pela primeira vez, uma influência que nunca teve. Como a sua origem é diferente da do PCP, tem mais a ganhar com a aliança com o PS. Fará uma campanha dura, mostrando que só o BE impedirá o PS de ceder aos seus piores instintos. Se a maioria falhar, é o BE o único parceiro à vista.