Em Nabi Saleh, na Cisjordânia ocupada, toda a gente conhece os Tamimi. Os membros daquela família palestiniana são presença assídua na fila da frente dos protestos contra a ‘colonização’ e a opressão israelita da Palestina e, entre eles, são poucos os que não passaram pelas prisões de Israel devido às suas manifestações públicas de resistência à ocupação.
Em meados do último mês do ano passado, no entanto, a reputação dos Tamimi disseminou-se para fora de Nabi Saleh, da Cisjordânia e da região do Médio Oriente. Tudo por culpa de um vídeo que foi colocado a circular na internet e nas redes sociais, no qual uma adolescente grita com um intransigente soldado israelita, armado até aos dentes, ao mesmo tempo que lhe dá pontapés e lhe bate, exigindo que abandone a entrada da sua casa.
A farta cabeleira loira de Ahed Tamimi, a protagonista do filme, foi vista por milhões de pessoas em todo o mundo e, num curto espaço de tempo, ofereceu à causa anti-ocupação um respaldo que há muito não se via nos longos anos que o irresolúvel conflito israelo-palestiniano já leva.
Obrigada a cruzar diariamente mais do que um checkpoint israelita para se movimentar por Nabi Saleh, acostumada a ver o pai e a mãe serem levados pelos militares pela sua conduta provocadora, e testemunha do avanço dos colonatos judeus pelas terras palestinianas adentro, a jovem de apenas 16 anos representa, segundo os seus seguidores, a personificação crua e brutal da angustiante existência sob a ocupação militar, que teima em arrastar-se no tempo de mão dada com a irredutibilidade das lideranças em avançar com um processo de paz a cada dia mais moribundo.
Em poucos dias Ahed foi elevada a símbolo da resistência palestiniana na Cisjordânia, e viu serem-lhe feitas as mais incríveis comparações com outras figuras femininas da História, como a heroína francesa do século XV, Joana D’Arc, ou a ativista paquistanesa e Nobel da Paz em 2014, Malala Yousafzai.
«A minha filha só tem 16 anos. Num mundo diferente, a sua vida seria completamente diferente. No nosso mundo, Ahed é a representante de uma nova geração de palestinianos, de jovens lutadores da liberdade», descreve o pai, Bassem Tamimi, no artigo de opinião publicado no jornal israelita Haaretz.
Ahed Tamimi foi detida no passado dia 19 de dezembro, juntamente com a mãe, Nariman, e a prima, Nur. O seu advogado argumenta que a jovem reagiu em defesa de um dos seus primos, de 15 anos, alegadamente atingido com uma bala de borracha disparada por soldados israelitas, que o deixou em coma induzido durante três dias a fio e com hemorragias internas.
Mas a versão do exército de Israel é outra e por isso, nos primeiros dias do ano a justiça revelou as doze acusações que podem colocar Ahed na prisão durante uns bons anos e que incluem a agressão a um soldado israelita, a interferência no cumprimento do seu dever militar e o lançamento de pedras contra as autoridades – esta última acusação referente a incidentes não relacionados com o vídeo.
Diana Buttu, ativista e antiga conselheira do líder da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, acredita piamente que Ahed vá cumprir algum tempo na prisão, tendo em conta «a taxa de condenação de 99,2% para jovens palestinianos». Previsão semelhante tem a Addameer, uma organização de defesa dos direitos humanos e de apoio aos prisioneiros políticos palestinianos, que, citada a Al-Jazeera, acusa Israel de definir os «mais jovens e vulneráveis» como alvo de detenção, de forma a «exercer pressão» sobre as famílias e a comunidade e com isso «acabar com a mobilização social».
«O futuro de Ahed está agora nas mãos de pessoas que nem sequem veem os palestinianos como verdadeiros seres humanos», afirma Bassem, um pai orgulhoso com a onda apoio que cresceu em volta da sua filha, mas perfeitamente consciente das consequências de tais manifestações: «Tentarão mantê-la na prisão durante o máximo de tempo que conseguirem».