esde o ano de 2012, o planalto de Gizé, situado 20 quilómetros a sudoeste do centro do Cairo, encontra-se transformado num enorme estaleiro. Bem perto das majestosas pirâmides, erguem-se numerosos guindastes e sucedem-se as movimentações de terras e de maquinaria pesada. Há cerca de 4500 anos que a região não via obras de tal envergadura.
Deste empreendimento verdadeiramente faraónico vai nascer o Grande Museu Egípcio, cuja base é formada por um triângulo alongado, como se imitasse a sombra produzida no chão por uma pirâmide. Estendendo-se por uma área de 475 mil metros quadrados, o New York Times já considerou o novo museu a segunda maior estrutura do mundo, apenas ultrapassada pela Cidade Olímpica de Pequim. A fachada, voltada para aquela que é a única das sete maravilhas do mundo antigo ainda intacta, é feita de alabastro, uma pedra macia e translúcida que os egípcios usaram para a produção de vasos funerários.
A abertura do Grande Museu Egípcio está prevista já para maio próximo. Quando estiver terminado, terá capacidade para expor 50 mil objetos, artefactos e obras de arte de diferentes épocas daquela civilização.
A ‘estrela da companhia’ será sem dúvida a máscara de ouro maciço de Tutankhamon, acompanhada pelos cinco mil objetos que se encontravam no túmulo do jovem faraó, anteriormente expostos (ou, no caso de muitos deles, armazenados nas reservas) no Museu Egípcio do Cairo, o emblemático edifício do século XIXsituado na Praça Tahrir, o epicentro do protesto popular que derrubou Hosni Mubarak, que já era referido com ironia como ‘o faraó’. Muitas outras peças vindas de diferentes pontos do país se reunirão no novo edifício: múmias e sarcófagos, papiros e relevos, estatuetas com menos de um palmo ou esculturas monumentais, como a de Ramsés II, feita em granito vermelho, com 11 metros de altura e mais de três mil anos de História.
Um oco misterioso na grande pirâmide
Para aqueles que acham que o Egito dos faraós está morto e enterrado – ou desenterrado, mas nem por isso menos morto – os últimos tempos têm sido pródigos em descobertas e novidades. Em novembro do ano passado, uma técnica usada na física que consiste na medição de muões (uma partícula minúscula que perde energia à medida que vai esbarrando na matéria) permitiu detetar um espaço oco no interior da grande pirâmide de Gizé. Com cerca de 30 metros de comprimento e situado sobre a câmara da rainha, pode tratar-se de um compartimento até aqui desconhecido ou de uma galeria, tipo corredor.
O esclarecimento do enigma, porém, não se afigura fácil, uma vez que todos os procedimentos de perfuração ou introdução de câmaras de filmar no interior da grande pirâmide estão estritamente proibidos. E um responsável do Ministério das Antiguidades egípcio recusou à cadeia CNN a hipótese de se tratar de uma câmara funerária semelhante à do faraó Khufu – também conhecido por Quéops –, que mandou construir o monumento, ou à da rainha. «Não há provas científicas, arqueológicas ou históricas que corroborem essa ideia. Se houvesse outra câmara tumular, teria de ter uma entrada», notou Mohamed Ismail.
Hieróglifos que brilham
Ao contrário do que poderia supor-se, as novas tecnologias e os artefactos antigos podem dar-se surpreendentemente bem. No início deste ano, uma equipa de investigadores de Londres utilizou uma técnica inovadora para descodificar papiros – O suporte, feito de fibras vegetais, que os egípcios usavam como o equivalente do papel.
Naquela civilização, as caixas usadas para depositar os cadáveres embalsamados – caixas essas que, por sua vez, se colocavam no interior dos sarcófagos ou túmulos propriamente ditos – eram feitas com papiros reutilizados. Até aqui, para se descodificar o que diziam os textos constantes nesses papiros, era preciso destruir as caixas com mais de dois mil anos, o que colocava os investigadores perante um dilema espinhoso. Oque fazer?Sacrificar as caixas para descobrir a mensagem ou abdicar da mensagem e, em contrapartida, conservar as caixas intactas?
A partir de agora já não vai ser preciso optar. Um procedimento desenvolvido por uma equipa do College University de Londres faz com que a tinta brilhe, o que permite aos textos sobressair, podendo assim ser decifrados pelos especialistas. Porque contêm apontamentos do quotidiano – e não o discurso oficial que se encontra nas paredes dos grandes monumentos egípcios – estes objetos «constituem uma das melhores bibliotecas que temos de papiro descartado, que de outra forma teria sido deitado para o lixo, e inclui informações sobre estas pessoas e o seu dia-a-dia». afirmou o líder do projeto à BBC.
Outra responsável sublinhou as vantagens do novo método. «Fico horrorizada quando vemos estes objetos preciosos serem destruídos para chegar ao texto. É um crime. São recursos finitos e agora temos uma tecnologia que permite tanto preservar estes belos objetos como e olhar para o seu interior para perceber a forma como viviam ».