O Estado é maioritário, mas quem manda são os privados e quem mais tem ganho com isso é a companhia brasileira de David Neeleman, Azul, que tem visto as contas levantar voo. O espaço que separa a TAP da companhia brasileira é cada vez mais reduzido. Começaram por ter um nome em comum: David Neeleman, que tanto é sócio de uma como dono da outra. Mas as mudanças não pararam por aí e a TAP tem ficado cada vez mais Azul. Desde setembro, altura em que o “SOL” noticiou que Fernando Pinto estava perto de passar o testemunho, foram dados vários passos no sentido de preparar a transferência da presidência da TAP para as mãos de Antonoaldo Neves, ex-CEO da Azul, que todos apontavam, já nesta altura, como o preferido dos acionistas (é homem de confiança de Neeleman) para suceder a Fernando Pinto como presidente executivo.
O próprio CEO da empresa já vinha a preparar o caminho. Em junho do ano passado, por exemplo, Fernando Pinto sublinhava que tinha cumprido “a missão” que o trouxe a Portugal. Quando questionado sobre o seu futuro na nova administração, Fernando Pinto deixava claro que o cargo de CEO dependia “totalmente dos acionistas”.
Ainda assim, Fernando Pinto não fica sem vínculo com a empresa, já que nos dois próximos anos fica como assessor da companhia aérea.
“Os acionistas da Atlantic Gateway [David Neeleman e Humberto Pedrosa] já propuseram o nome de Antonoaldo Neves para assumir a liderança, enquanto CEO da TAP, após a aprovação em AG no dia 31 de janeiro”, frisou Fernando Pinto numa carta enviada aos trabalhadores. Na missiva, a que o i teve acesso, o presidente da companhia disse ainda que “há 17 anos, tinha como missão privatizar a empresa”, “um processo difícil, feito de muitos obstáculos e dificuldades”. Mas, numa altura de “fazer um balanço, ele é muito positivo”. Tanto Humberto Pedrosa como David Neeleman elogiam o percurso de Fernando Pinto, mas não escondem que o caminho da TAP será feito de outra forma: agora mais Azul. Sobre o novo presidente executivo da companhia, Pedrosa garante tratar-se de uma “pessoa competente”, enquanto Neeleman evidencia que “é o gestor certo para a TAP nesta fase de renovação e de expansão”.
Mas as novidades não acabam com a saída de Fernando Pinto do cargo de CEO. A nova equipa de gestão da TAP está fechada e, além da presidência executiva passar para as mãos de Antonoaldo Neves, Neeleman escolheu ainda um outro elemento executivo ligado à Azul. Raffael Guaritá Quintas, que estava na companhia brasileira como diretor financeiro, também terá assento na TAP como CFO. A comissão executiva da TAP ficará então entregue aos dois brasileiros, a David Pedrosa, filho de Humberto Pedrosa,e a um membro do grupo chinês HNA, acionista da Azul.
Outra novidade é os chineses passarem a ter dois elementos no conselho de administração, quando atualmente tinham apenas um representante.
Como “SOL” noticiou, em junho de 2017 vinha a público que Neng Li, administrador da companhia aérea brasileira de David Neeleman – onde o grupo chinês detém 22% -, também passava a ter assento na TAP. O gestor entrou para a administração da Azul em outubro de 2016 e acabou por passar para a lista de nomes da transportadora portuguesa. Agora, a HNA reforça a posição na TAP.
Já em relação ao conselho de administração, por parte do Estado, não haverá alterações. Através da Parpública, vai ser proposto na assembleia geral (AG) da TAP a recondução dos seis nomes indicados no ano passado. De acordo com o Ministério do Planeamento e das Infraestruturas, Miguel Frasquilho continuará como chairman da TAP. Serão propostos igualmente os nomes de Diogo Lacerda Machado, Esmeralda Dourado, Bernardo Trindade, Ana Macedo Silva e António Gomes de Menezes.
Contas da Azul A companhia brasileira conseguiu no ano passado a tão desejada estreia na bolsa. Não foi sequer à terceira, foi mesmo preciso ir à quarta, mas a Azul conseguiu finalmente entrar nas cotadas. A operação permitiu um encaixe de 456 milhões de euros. Uma viragem no futuro da companhia que antes de David Neeleman ter entrado na TAP tinha as contas no vermelho. Em 2016, a receita operacional da transportadora de Neeleman foi de 6,67 mil milhões de euros, o que representou um crescimento de 6,6% em comparação com 2015. Tempos houve em que a Azul tinha prejuízos acumulados na ordem dos 59 milhões de euros. De acordo com o “Globo”, a empresa estava então numa situação muito complicada e chegou a ser obrigada a devolver 20 dos 140 aviões que faziam parte da frota. De acordo com a publicação brasileira, 15 tinham como destino a TAP.