Um dos principais relatórios anuais do Banco Mundial, aquele que mede a competitividade empresarial de um país, denominado “Doing Business”, terá sofrido várias mudanças metodológicas não esclarecidas durante alguns anos e que levaram a que o Chile durante o governo da socialista Michelle Bachelet tivesse caído de 2013 até 2016 de 34.º para 57.º.
A denúncia partiu do próprio economista-chefe da entidade internacional, Paul Romer, que ontem no seu blog publicou os cálculos sem as referidas alterações metodológicas que contam uma história bem diferente. Nem o governo de direita (liderado pelo mesmo Sebastián Piñera que agora volta ao poder) deixara o país tão bem como contava o Banco Mundial, nem as coisas tinham corrido tão mal para Bachelet como o relatório dava a entender.
De acordo com os dados divulgados por Romer, em 2013 o Chile estava no lugar 46 e não 34 e em 2016 no lugar 48 e não 57. Isto é, como mensagem aos investidores estrangeiros que olham para o “Doing Business” do Banco Mundial como uma das referências para investir, aquilo que a instituição financeira divulgou é que, durante o mandato de Bachelet, o Chile descera 21 posições em três anos. Na verdade, segundo o seu economista-chefe, o país desceu apenas duas posições entre 2013 e 2016.
Perante a denúncia da manipulação dos números, o Banco Mundial convocou para hoje uma sessão especial do seu diretório para analisar as mudanças metodológicas no cálculo do seu relatório “Doing Business” e os ministérios das Finanças e dos Negócios Estrangeiros chilenos já solicitaram reuniões também para hoje para esclarecer a situação.
Na sexta-feira, em declarações ao “The Wall Street Journal”, Paul Romer referira que “as revisões metodológicas terão sido particularmente relevantes para o Chile, cuja posição no ranking tem sido especialmente volátil em anos recentes”. Para o economista-chefe da instituição, que não é a primeira vez que entra em choque com os métodos usados pela entidade, poderá ter havido aqui uma ação “potencialmente contaminada por motivações políticas da equipa do Banco Mundial”.
O economista do BM encarregue dos rankings, Augusto López-Claros, em entrevista ao diário chileno “El Mercurio” defendeu-se, dizendo que as mudanças de metodologia “tiveram lugar num contexto aberto e transparente”. O que não impediu, no entanto, a instituição de pedir “uma revisão externa aos indicadores do Chile no relatório ‘Doing Business’”, tal como declarou em comunicado no sábado.
Este fim de semana, a ainda presidente chilena, escreveu no Twitter que “tendo em conta a gravidade do sucedido”, o governo iria solicitar “formalmente ao Banco Mundial uma investigação completa” ao que teria acontecido. “Os rankings que administram as instituições internacionais devem ser confiáveis, já que têm um impacto no investimento e no desenvolvimento dos países”, sublinhou.
A chefe de Estado já tinha classificado a situação como “muito preocupante”, considerando que “prejudicava a credibilidade de uma instituição que tem de contar com a confiança da comunidade internacional”.
Sebastián Piñera, o presidente eleito, disse ontem, citado pelo diário “La Tercera”, que o Banco Mundial “tem a obrigação de clarificar como se fizeram as mudanças metodológicas e com que objetivos”, até porque “as explicações foram até agora muito confusas”. Pedindo para que não haja conclusões precipitadas sobre as mudanças metodológicas terem visado o favorecimento do seu anterior governo e o desfavorecimento da sua sucessora: “É preciso saber a verdade antes de nos precipitarmos com acusações ou conclusões que, às vezes, podem ser prematuras”, disse Piñera.
“Há um espaço de grande discricionariedade” nos métodos usados, disse o ministro das Finanças chileno, Nicolás Eyzaguirre, então “é possível que quem faz este índice, por objetivos pessoais ou da mais diversa índole, introduza novas variáveis que prejudiquem ou beneficiem países”.