Oliver Ivanovic sabia que não estava a salvo no Kosovo e que a qualquer momento alguém podia tentar matá-lo. Afinal de contas, como líder de um pequeno partido nacionalista sérvio que não reconhece a independência kosovar, mas que, todavia, defende o diálogo entre a minoria sérvia e maioria étnica albanesa, Ivanovic não parecia ter aliados fortes. As suas críticas públicas às ligações de governantes kosovares com os gangues de droga locais só pioravam a situação.
Quando o seu carro apareceu incendiado, em julho, os amigos disseram-lhe que saísse do Kosovo. Não saiu e morreu esta terça-feira, atingido seis vezes no tronco por uma pistola de fabrico sérvio Zastava M70A, disparada desde um carro em andamento e às portas da sede do seu partido, em Mitrovica, onde um rio divide as populações sérvia e a albanesa.
Ivanovic não dominava um grande partido e não é daí que vem a sua importância ou os riscos que o seu homicídio podem representar para o apaziguamento entre Pristina e Belgrado. A sua importância residia na sua independência e aparente moderação. Por defender laços mais saudáveis com a maioria albanesa e nisso contrariar outros líderes de partidos sérvios no Kosovo, Ivanovic era também menos subserviente ao governo em Belgrado, embora a sua marca na guerra de 2000 desperte alguns fantasmas – o político esperava em liberdade um novo veredito sobre alegados crimes cometidos contra a população albanesa, pelos quais chegou a ser condenado a nove anos de prisão.
“Tinha um pequeno partido mas uma enorme reputação”, explicava esta terça ao “New York Times” o politólogo Dusan Reljic, do Instituto Alemão para as Relações Internacionais e de Segurança. “Se se andasse à procura de alguém para construir pontes, ele seria o homem indicado, razão pela qual ninguém gostava dele, fosse no governo de Pristina, ou no de Belgrado.”
O homicídio de Ivanovic pode ameaçar o processo de reconciliação entre o governo sérvio e o do Kosovo num período crítico._Este ano celebram-se os dez anos da declaração da independência do Kosovo, que Sérvia, Rússia e outros países europeus não reconhecem. Os festejos podem provocar violência entre a minoria sérvia do norte do país e a maioria albanesa e os Estados Unidos alertaram já os turistas norte-americanos para os riscos de viajar este ano para o Kosovo. Ambos os governos, sérvio e o kosovar, denunciaram esta terça o homicídio de Ivanovic, mas isso não evitou ameaças de Belgrado.
Em conferência de imprensa, o presidente sérvio, Aleksandar Vucic, disse que o homicídio de Ivanovic foi um “ato terrorista” e alertou as autoridades kosovares para não o usarem como “pretexto para enviarem tropas para o norte do país”. O seu homólogo kosovar – assim como as autoridades europeias e americanas – exigiu que os culpados respondam em tribunal, embora não haja para já suspeitos, além de um Opel Astra encontrado incendiado perto do local do crime. O homicídio, afirmou o governo de Pristina, “desafia o Estado de Direito e qualquer tentativa de restabelecer a ordem no território do Kosovo”.