Rui Rio foi sério – disse ao que vinha. Não se escondeu na estratégia habitual do ‘não admito outro cenário senão ganhar’. Às vezes este lugar comum torna-se patético, tendo em conta o zeitgeist. Agora, a verdade dolorosa já não é só a ‘verdade’ de Rui Rio. A antecipada declaração de derrota nas eleições de 2019 foi assumida pela larga maioria dos militantes do PSD que o elegeram presidente no sábado. Os sociais-democratas vão a votos com a consciência de que o melhor que lhes pode acontecer é ‘afastar a geringonça do poder’ e influenciar um futuro Governo PS caso Costa não consiga a sempre complicada maioria absoluta. É uma situação nova: nunca o PSD tinha antes jogado na segunda divisão, mau grado as várias derrotas.
Mas há nesta posição uma dose, eventualmente letal, de realismo. Embora seja difícil nos tempos interessantes prever o futuro – à semelhança de que ninguém tinha previsto antes que Costa perdesse as eleições contra o governo PSD/CDS e da troika e muito menos depois que conseguisse inverter a derrota tornando-se primeiro-ministro – as hipóteses do PSD não são famosas.
A entrevista que ontem David Justino deu a Flor Pedroso na Antena 1 explicita bem o estado da arte. Justino, ex-ministro da Educação e ex-presidente do Conselho Nacional da Educação, é um dos mais credíveis apoiantes de Rui Rio e tudo indica que terá um papel importante na próxima gestão. Ora o que disse ontem Justino? Muito simplesmente que «não podemos estar condenados a uma espécie de determinismo político de dizer que quem perde tem que se ir embora. Não necessariamente!». E Justino pergunta e responde: «Porquê? Se a estratégia foi bem construída e o desempenho foi bom, porquê? Os adversários também não têm mérito?».
Pois têm. O PS de Costa tem. A urgência agora é travar quem acha, como Relvas, que líder derrotado é líder posto. Preparar a manutenção de Rio no poder após perder as eleições é agora uma das tarefas da direção do PSD.