“O debate sério, a troca de ideias, a análise ponderada de argumentos, a reflexão serena sobre caminhos a seguir e opções estratégicas necessárias, não são oportunas e resultam impossíveis de momento.” A justificação para o cancelamento de uma conferência sobre o futuro do Infarmed chegou hoje por escrito aos participantes que se tinham inscrito para a sessão dinamizada pela Associação Portuguesa de Engenharia e Gestão da Saúde (APEG Saúde). O cancelamento da iniciativa, a menos de 24 horas da sua realização, terá resultado do recuo do orador principal, o antigo presidente do Infarmed Henrique Luz Rodrigues, atual coordenador do grupo de trabalho incumbido pelo governo de avaliar cenários alternativos para a deslocalização da agência do medicamento.
Segundo o i apurou, a organização desta conferência ter-se-á tornado incómoda nos últimos dias. O tema teria sido proposto à APEG Saúde por Henrique Luz Rodrigues, que deixou o Infarmed em março do ano passado ao completar os 70 anos de idade. A temática da sessão terá inclusive sido alterada há cerca de duas semanas e depressa motivou o interesse do setor do medicamento e uma inscrição em massa de trabalhadores do Infarmed, que desde a primeira hora criticam a opção do governo de querer mudar a agência do medicamento para o Porto.
Perante as várias dezenas de inscritos, a APEG terá proposto aos trabalhadores do Infarmed que nomeassem apenas representantes para estarem presentes na sessão, o que foi rejeitado dado tratar-se de um debate público. Terá sido a antecipação de um encontro polémico a precipitar o cancelamento da participação por parte de Henrique Luz Rodrigues. A conferência iria acontecer numa altura em que o grupo de trabalho está longe de concluir a sua análise: o relatório sobre o futuro do Infarmed só tem de ser entregue à tutela até 30 de junho.
O i tentou perceber junto da associação os contornos do cancelamento, sem sucesso até ao momento. Tentou igualmenter chegar à fala com Henrique Luz Rodrigues.
Num comunicado publicado no site da APEG Saúde lê-se que “por motivos inesperados de oportunidade e alheios à nossa vontade, não se realizará a sessão ‘Infarmed | O que pode e deve ser?’, que estava prevista para amanhã, dia 24 de Janeiro de 2018”, ao que se junta a justificação quanto a não ser oportuno o debate. O i teve indicação de que essa terá sido a justificação dada por Henrique Luz Rodrigues à associação, que na nota publicada online dá sinais de discordância. “Fica-nos a dúvida de quando e onde seria oportuno.”
A comissão de trabalhadores do Infarmed já expressou publicamente surpresa com o cancelamento. Rui Spínola indicou à agência “Lusa” que estavam inscritos para assistir à conferência cerca de 100 trabalhadores do Infarmed, além de que um elemento da comissão de trabalhadores iria participar no painel de debate. “Não compreendemos o que aconteceu e lamentamos que não haja esta oportunidade de debate”.
Na sessão que estava prevista para a amanhã de manhã, a intervenção de Henrique Luz Rodrigues seria seguida de um painel de debate com vários convidados. Entre eles, responsáveis de farmacêuticas como a Novartis, Sanofi, GIlead ou Jannsen mas também representantes oficiais do Infarmed e da comissão de trabalhadores do Infarmed.
