As trabalhadoras da antiga fábrica da Triumph estiveram ontem no Palácio de Belém na esperança de entregar em mãos a prenda que tinham para Marcelo Rebelo de Sousa.
“A nossa intenção era sermos recebidas pelo senhor Presidente”, disse ao i Mónica Antunes, dirigente do sindicato dos têxteis do Sul (SINTEVEC) e trabalhadora na empresa. “Não sucedeu. Foram duas assessoras que nos receberam”, acrescentou.
O gabinete da Presidência confirmou que o chefe de Estado não estava à espera das trabalhadoras porque não tinha sido marcada uma audiência. “Se cá estivesse, provavelmente, o senhor Presidente recebia-as”, acrescentou o assessor.
Mónica Antunes confirma que não foi feita a marcação oficial. “Pensámos sempre que ele lá estivesse e que nos atendesse”, afirmou, acrescentando que “ele ficou de nos contactar para irmos [ao Palácio de Belém], mas durante o dia de sexta-feira não recebi qualquer telefonema por parte do gabinete da Presidência. Hoje [ontem], como estava a jornada marcada para irmos para a porta do Palácio de Belém, assim fomos. E receberam-nos”, conta a dirigente sindical.
Na residência oficial do chefe do Estado, as trabalhadoras deixaram um documento para entregar ao Presidente que terá chegado a Marcelo durante a tarde. “E deixámos também uma prenda”, acrescentou Mónica.
“Deixámos uma liga de noiva vermelha – que as noivas metem na perna – para simbolizar a cor da nossa ex-marca e para o senhor Presidente não se esquecer destas mulheres que foram trabalhadoras da Triumph”, explica Mónica Antunes.
O objetivo desta visita era “que o Presidente, também com a sua influência sobre o governo, fizesse tudo o que estivesse ao seu alcance para que o processo fosse o mais agilizado possível”.
A oferenda de um produto confecionado pelas trabalhadoras não é novidade. Quando as operárias foram recebidas pelo ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, ofereceram-lhe um cinto de ligas, igualmente vermelho.
Administrador judicial
Apesar de não terem sido ouvidas por Marcelo, as trabalhadoras da ex-Triumph tiveram ontem boas notícias. Em primeiro lugar, a assessoria do chefe do Estado transmitiu às representantes que o Presidente “tinha tido uma reunião com o primeiro-ministro na passada semana”, a quem disse “que o governo tinha de intervir, tinha de acompanhar a situação mais de perto”, conta Mónica Antunes.
A segunda boa notícia chegou também de manhã, mais propriamente pelas 10h25, ao ser “proferida a declaração de insolvência” e “nomeada a administradora para o processo”. Manuela Alexina Menezes Vila Maior é quem vai gerir o processo.
“Nós queremos – o quanto antes – que a administradora venha cá à empresa, que veja os bens e decrete a insolvência, porque neste momento não há nada para laborar”, explica a dirigente sindical. Sem trabalho para fazer, o mais importante é “que salvaguardem as máquinas e o património”. “São as garantias para os nossos subsídios em atraso e para as eventuais indemnizações”, acrescenta.
No entanto, apesar da nomeação da administradora judicial, a vigília à porta da fábrica vai continuar pelo menos “até a administradora dar uma resolução ao processo”.
Amanhã, a pedido do Bloco de Esquerda, o parlamento irá discutir “a dramática situação da fábrica TGI-Gramax, antiga Triumph Internacional, e a salvaguarda dos salários e direitos das trabalhadoras”, tendo o partido de Catarina Martins convidado as operárias a estarem presentes na discussão.