A 11.ª edição da Taça da Liga portuguesa tem este sábado o seu epílogo. Frente a frente estarão Sporting e Vitória de Setúbal, curiosamente os mesmos finalistas da primeira edição, ganha pelos sadinos no desempate por grandes penalidades.
Foi dessa forma, precisamente, que os leões asseguraram agora o apuramento para a final, perante o FC Porto, depois de um 0-0 nos 90 minutos. O Vitória, por seu lado, bateu a secundária Oliveirense por 2-0, embora o resultado não espelhe o que se passou em campo: houvesse justiça no futebol – e pontaria nos atacantes da formação de Oliveira de Azeméis – e seria o clube nortenho a marcar presença no jogo decisivo.
Esta será a terceira final da Taça da Liga a que o Sporting chega. Além da já citada, na primeira edição, os leões repetiram a presença no encontro decisivo logo no ano seguinte, frente ao Benfica. Um jogo que ficou marcado pela decisão errada do árbitro Lucílio Baptista, ao considerar que Pedro Silva, então lateral-direito do Sporting, havia tocado a bola com a mão na sua área. O juiz assinalou penálti e mostrou o segundo amarelo ao brasileiro, que na verdade tocou na bola com o peito e ainda fora da área. As águias, orientadas por Quique Flores, fizeram o 1-1 nesse lance e viriam a festejar nos penáltis, deixando uma mancha numa prova que a partir daí nunca mais conseguiu fugir da polémica.
Polémica e mais polémica
A Taça da Liga, na verdade, foi uma competição vista como menor pela maioria dos clubes portugueses logo desde o seu início. Proposta por Boavista e Sporting e aprovada por unanimidade em 2006, tem sofrido várias alterações no formato desde a primeira edição, mas sempre merecendo as críticas dos clubes mais pequenos, que a apontam como uma competição moldada para beneficiar os ‘grandes’.
Estes, por seu lado, têm sistematicamente desvalorizado a prova, olhando para a mesma como um meio de dar minutos aos jogadores menos utilizados – apesar dos regulamentos obrigarem à utilização de pelo menos cinco jogadores que tenham sido incluídos na ficha técnica (efetivos ou suplentes) num dos dois jogos oficiais imediatamente anteriores, bem como de pelo menos dois jogadores formados no clube.
Desde 2008/09 e a tal final entre águias e leões, a polémica nunca deixou a competição. Ficou célebre a rábula entre Portimonense e Académica em 2009/10, em que as duas equipas fizeram uma interpretação diferente dos regulamentos, ou o desfecho da fase de grupos de 2013/14, com o FC Porto a marcar, de penálti, o golo da vitória sobre o Marítimo já alguns minutos após a vitória do Sporting em Penafiel, fruto de um recomeço tardio do encontro no Dragão. Os portistas passaram, devido ao tal golo, e Bruno de Carvalho deixou Penafiel a prometer que, a partir daquela data, o Sporting passaria a jogar apenas com suplentes, jogadores da equipa B e juniores na prova.
A promessa durou uma época – e afetou apenas Marco Silva; com Jorge Jesus, conquistar a Taça da Liga voltou a ser um objetivo. Faz sentido: o atual técnico do Sporting é o treinador com mais títulos na prova – cinco, todos conquistados no comando do Benfica. Este sábado, disputará a sua sexta final – venceu todas as anteriores; já José Couceiro estará pela primeira vez na carreira a disputar a decisão de um troféu.
Inglaterra e França ainda a têm
Desengane-se, porém, quem pensa que a Taça da Liga só é menosprezada em Portugal. Na verdade, o nosso país até é um dos poucos que ainda vai alimentando a competição, a par de Inglaterra e França. Em Espanha e na Alemanha, a prova existiu de modo fugaz, e em Itália nunca chegou sequer a ver a luz do dia.
A Taça da Liga com maior tradição é a inglesa. Engloba as equipas das quatro primeiras divisões (92 clubes no total) e disputa-se ininterruptamente desde 1960/61. Ao contrário do que acontece em Portugal, joga-se num formato de eliminatórias (como a Taça de Portugal) e acaba logo em fevereiro, com a final a disputar-se no majestoso estádio de Wembley. Outro detalhe importante: garante ao vencedor um lugar na Liga Europa – um fator bastante aliciante para as equipas de aspirações mais modestas no campeonato.
Apesar da tradição, lá como cá, é vista como a competição menos importante do calendário futebolístico, com os treinadores das equipas mais fortes a aproveitar os jogos desta prova para rodar a equipa e dar oportunidades a jovens e aos menos utilizados. Ainda assim, os dominadores de conquistas da prova são gigantes – Liverpool (oito), Manchester United e Chelsea (cinco, incluindo-se aqui o intruso Aston Villa) –, e a final desta edição será disputada por Manchester City e Arsenal, a 25 de fevereiro.
EmFrança, a Taça da Liga joga-se de forma oficial desde 1994/95, integrando os clubes das três principais divisões. Vale igualmente uma passagem para a Liga Europa ao vencedor – provavelmente um fator que tornaria a prova em Portugal mais interessante e apelativa para os clubes ditos pequenos. Na realidade francesa, oParis Saint-Germain é o detentor do troféu em título e o líder incontestado de vitórias: sete, cinco das quais nos últimos dez anos.
Na Alemanha, uma edição única teve lugar em 1972, devido ao adiamento do início do campeonato após a realização dos Jogos Olímpicos de Munique. Em 1997, todavia, a competição foi retomada, realizando-se antes do início da Bundesliga e contando com a participação de seis equipas: as primeiras cinco classificadas do campeonato anterior e a vencedora da Taça. Na edição de 2007, que viria a ser a última, o quinto lugar da Bundesliga perdeu o lugar, passando a ser premiado com a participação o campeão da II Liga alemã. Também aqui, o grande dominador foi um gigante: o Bayern Munique, vencedor de seis das 12 edições disputadas.
No futebol espanhol, a duração da Taça da Liga foi ainda menor: apenas quatro temporadas, numa decisão tomada por unanimidade pelos clubes e justificada com a saturação do calendário. Participavam apenas os integrantes da I Liga espanhola em eliminatórias simples, disputadas após o fim do campeonato, e as últimas três edições davam ao vencedor um lugar na Taça UEFA. O Barcelona foi o primeiro e o último vencedor, com triunfos de Valladolid e Real Madrid pelo meio.