A semana ficou marcada por mais uma polémica de Donald Trump, mas desta vez num domínio pouco habitual: as artes. Segundo o The Washington Post, o casal Presidencial terá tentado, aquando da sua instalação, requisitar uma pintura de Vincent Van Gogh para decorar uma casa de banho na Casa Branca. A pintura – Paisagem com Neve, de 1888 – foi uma das primeiras que o artista fez em Arles e pertence ao Museu Solomon R. Guggenheim. Caso o seu pedido tivesse obtido luz verde para avançar, Donald e Melania poderiam saciar o seu desejo de belo até no momento íntimo de satisfazerem as suas necessidades mais primárias.
Só que a curadora chefe do museu de Nova Iorque respondeu com ironia. Recusando o empréstimo do Van Gogh, Nancy Spector ofereceu, em contrapartida, uma obra do italiano Maurizio Cattelan: uma sanita feita em ouro maciço. A sugestão foi tanto mais provocatória quanto o título da obra é America, numa associação direta entre capitalismo, ganância e excrementos, e a ironia torna-se ainda mais acentuada se for tido em conta que o dourado é a cor de eleição do Presidente, marcando presença em equipamentos sanitários das suas habitações, em vários locais da Trump Tower ou até na Sala Oval, que foi decorada com tecidos dourados.
Provocações sucessivas
A preciosa retrete, avaliada em um milhão de dólares, funciona como qualquer outra e tem estado em exibição – ou a uso, como se preferir – numa casa de banho daquela instituição. Dezenas de milhares de visitantes já a terão utilizado.
Num mail revelado também pelo The Post, a curadora do Guggenheim terá respondido: «Lamentamos não poder corresponder ao vosso pedido orginal, mas ficamos com esperança de que esta oferta especial possa ser do vosso interesse». Spector, que tem criticado publicamente Donald Trump, acrescentava que se trata de uma obra «frágil», mas caso a Casa Branca confirmasse o interesse no empréstimo, a sua equipa forneceria todas as instruções de utilização e manutenção necessárias.
O italiano Maurizio Cattelan é uma espécie de enfant terrible das artes cujo percurso se encontra marcado por diversas polémicas. Em A Nona Hora, de 1999, representou o Papa João Paulo II deitado por terra, derrubado por um meteorito caído do céu.
Não é invulgar os responsáveis políticos requisitarem obras de arte para decoração dos seus aposentos ou gabinetes. Mas pendurar um Van Gogh para a casa de banho? Os Trump talvez tenham ido longe de mais.