O nível de risco do sistema financeiro da China poderá ser mais elevado do que o dos EUA antes da crise financeira global de 2008. O aviso é de Lou Jiwei, antigo ministro das Finanças da China, que descreve como uma “trapalhada” o atual estado do setor financeiro chinês.
O presidente da China já tinha apontado o setor como uma prioridade para os próximos três anos e, no início do mês, Xi Jinping – para quem a segurança financeira é vital para a segurança nacional – reforçou os poderes das entidades de supervisão bancária de forma a reduzir os riscos financeiros do país.
“Comparando com o mercado financeiro dos EUA de há dez anos, quando o risco e dividendos dos produtos derivativos (…) estavam definidos e os produtos estavam registados (junto de reguladores) (…) o mercado financeiro da China é mais confuso”, disse Lou Jiwei numa conferência em Pequim.
“Os riscos verdadeiros e os dividendos reais só podem ser determinados depois de se olhar para os ativos subjacentes”, acrescentou o agora presidente do Conselho Nacional do Fundo de Segurança Social. Este especialista, de 68 anos, que ajudou a implementar as reformas económicas no país e foi ministro das Finanças entre 2013 e 2016, tem falado sem reservas desde que deixou o governo e é visto como um reformista.
Segundo Lou, o sistema financeiro tornou-se “muito distorcido” e a “probabilidade de a China gerar riscos financeiros sistémicos é bastante grande”. Um exemplo desta distorção é o alto custo de financiamento no país, apesar da política monetária expansionista.
Ao mesmo tempo, a “incrível multiplicidade” de canais e organizações resultaram num ambiente complexo de obtenção de fundos, afirmando Lou, citado pelo “South China Morning Post”, que aquilo que é único na China são as “muitas instituições financeiras ou quase financeiras que fazem o seu melhor para dar a volta à regulação financeira”.
“A sobreposição de derivativos resulta em custos muito mais altos para a obtenção de capital, piora a gestão dos empresários chineses e disfarça os riscos”, diz Lou, para quem a dívida das regiões chinesas limita a margem do governo para estímulos monetários ou fiscais no futuro. “O risco de dívida dos governos locais surgiu depois de anos de intensa construção de infraestruturas e é despropositado aumentar a dívida dessas regiões”, opinou.
Reforço de poderes No ano passado, o presidente da China prometera dar prioridade ao combate contra os riscos financeiros nos próximos três anos, jurando punir as irregularidades e, desde o início do ano, a Comissão de Regulação Bancária da China (CRBC) multou dezenas de instituições financeiras, num total de dois mil milhões de yuans, dois terços do valor total de penalizações em 2017.
O reforço da regulação bancária tem como objetivo evitar o “caos” no setor financeiro a longo prazo. “A gestão acionista bancária, a administração empresarial e os mecanismos de controlo de riscos ainda são relativamente fracos e as causas de fundo que estão a criar o caos no mercado ainda não mudaram de forma significativa”, sustentou a CRBC. “Controlar o setor bancário será uma tarefa longa, árdua e complexa”, acrescentou.
Um paper do Banco Central Europeu divulgado no início do ano também argumentava que a economia da China está a ficar mais vulnerável à medida que o setor financeiro se torna mais complexo e que este desenvolvimento aumentou “os riscos associados a um aumento rápido do endividamento”.