“Temos pouca privacidade nos nossos hospitais”

Portugal sai bem no último retrato internacional sobre o resultado dos tratamentos a doentes oncológicos. Um estudo divulgado ontem na revista “Lancet” traça rankings por região e Portugal surge no top 10 europeu em três dos tumores mais frequentes: mama, próstata e estômago. Leia a entrevista a Nuno Miranda, diretor do Programa Nacional para as Doenças…

Como vê estes resultados?

Significam que, apesar de tudo, a nossa capacidade de resposta tem se mantido e não tem havido nenhuma deterioração de resultados face ao aumento da procura e o facto de termos cada vez mais doentes. O SNS tem sido resiliente. 

O que explica as posições cimeiras dos países nórdicos?

São países com uma maior história na luta contra o cancro e outro nível económico e isso, obviamente, tem importância. É preciso ter em conta que, quando se avalia sobrevivência, pode refletir apenas diagnóstico mais precoce e não significar uma alteração na trajetória da doença. Dito isto, são países com boa estrutura, cobertura universal de saúde há muitos anos e maior literacia.

{relacionados}

O que faz mais falta em Portugal: uma melhor estrutura ou maior literacia da população?

Temos vários défices, mas globalmente estamos bem.

O que explica lugares menos cimeiros no cancro do cólon e reto? É falta de rastreio?

Há países mais ricos que nós que não têm rastreio implementado. Existem fatores alimentares e genéticos que explicam algumas assimetrias. De qualquer forma, está a ser implementado de forma decisiva o rastreio do cólon e reto. Será uma realidade em todo o país em 2020.

Assimetrias no acesso a medicamentos inovadores estão a interferir nos resultados?

Não, são muito pequenas. Não acho que exista um défice significativo ou que estejamos atrasados.

Se tivesse todos os meios e pudesse mudar algo de hoje para amanhã cujo impacto fosse significativo, o que seria?

As condições de acolhimento dos hospitais, com mais conforto, mais privacidade. Temos pouca privacidade nos nossos hospitais.

Interfere no prognóstico?

Interfere na qualidade de vida, na maneira como as pessoas são tratadas, na maneira como morrem. Falamos muito em comprimidos e pouco em comodidade. E interfere na sobrevivência se pensarmos que a qualidade dos espaços é muito importante na prevenção das infeções hospitalares e esse problema coloca-se também nos doentes oncológicos. Temos estruturas em alguns casos muito antiquadas e precisamos de evoluir.