Apesar das várias recomendações do Ministério da Educação às escolas, nos últimos anos, e dos inquéritos levantados pela Inspeção Geral da Educação para travar a inflação as notas atribuídas pelos professores aos alunos (as notas internas), há ainda 232 secundárias, públicas e privadas, que seguem esta prática. O número traduz 45% do total de 516 secundárias analisadas no ranking do b,i, havendo uma redução muito ligeira face ao total de escolas que no ano passado inflacionaram notas (havia apenas mais quatro escolas).
Este ano, entre das 232 secundárias que atribuíram uma nota interna três valores acima da classificação obtida pelo aluno no exame nacional – foi este o critério do b,i. – a esmagadora maioria (201) são públicas sendo as restantes 31 privadas. No ano passado, havia mais onze públicas a inflacionar notas (212) e menos sete privadas (24).
Entre as dez escolas que mais inflacionam notas, a Básica e Secundária de Santo António, no Barreiro, ocupa a primeira posição. Os alunos desta escola não ultrapassaram os 7,08 valores nos exames nacionais (numa escala de 0 a 20). Mas em média, os professores atribuíram 12,9 valores de nota interna. Ou seja, 5,83 valores acima da nota do exame. (ver tabelas ao lado)
Para os professores e diretores de escolas ouvidos pelo b,i. a inflação de notas é uma «falsa questão». Isto porque, explicam em uníssono, «o exame é apenas um momento na vida do aluno» que pode ser influenciado por várias circunstâncias, como doença, nervos, etc. Fora desta avaliação, fica «três anos de trabalho e de estudo, o bom comportamento ou a participação nas aulas», sublinha o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima. E, por isso mesmo, reforça o presidente do Conselho de Escolas, José Eduardo Lemos, «a nota dos professores deve ser sempre superior à dos exames. O professor está a avaliar mal se assim não for», remata. No entanto, o presidente do órgão consultivo do Ministério da Educação reconhece que a diferença de três valores entre a nota interna e externa (exames) «é bem visível».
E tem sido esse o entendimento da tutela que em janeiro de 2015 pediu à Inspeção Geral da Educação que verificasse eventuais «inconsistências ou incumprimentos» na avaliação dos alunos em escolas onde fosse detetada uma diferença acentuada e recorrente nas notas dos alunos. Posteriormente houve escolas que foram objeto de recomendações e de correções de procedimentos na avaliação dos alunos. Em 2017 «realizaram-se 12 intervenções (quatro em estabelecimentos públicos e oito em escolas privadas)», explicou fonte oficial do Ministério da Educação, estando agora em curso «o processo de análise ao grau de cumprimento das recomendações feitas».
Paulo Guinote diz ao b,i. que esta é uma prática «antiga» dos colégios privados que precisam de atrair alunos. «É assim que captam alunos e se tornam competitivos», alerta o especialista em História da Educação.
As notas com que os alunos terminam o secundário são fundamentais para entrar no ensino superior tendo um peso entre os 50% a 65% da nota de candidatura. Desta forma, a inflação de notas pode ser decisiva na hora da candidatura a uma licenciatura.