O Estado adquiriu esta quinta-feira, num leilão da Sotheby’s que teve lugar em Nova Iorque, uma pintura de Álvaro Pires de Évora, mestre português que esteve ativo entre 1411 e 1434. O pequeno painel, que se supõe corresponder originalmente à metade esquerda de um díptico, exibe uma representação da Anunciação – o momento em que o Arcanjo Gabriel desce do céu para anunciar à Virgem Maria que será mãe de Jesus Cristo, o filho de Deus. Com uma estimativa-base de 150 mil-250 mil dólares, foi vendida pelo preço de martelo (já com as comissões incluídas) de 435 mil dólares, cerca de 350 mil euros.
A pintura pertenceu a Heinz Kisters, o colecionador e marchand de arte que durante 17 anos abasteceu Konrad Adenauer, o chanceler da República Feral da Alemanha (Alemanha Ocidental) entre 1949 e 1963. Adenauer era um amante e colecionador de pintura antiga de gosto requintado e reuniu um importante conjunto que os seus descendentes acabariam por levar à praça em 1970. Com resultados decionantes, diga-se, uma vez que a reputação Heinz Kisters acabaria por sofrer um rude golpe, levantando-se suspeitas sobre a autenticidade das obras que vendia. Talvez por isso esta mesma pintura agora adquirida pelo Estado Português não tenha sido então licitada, enquanto outras obras ficaram em valores muito aquém do esperado.
O ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, considerou que a recente aquisição “dá continuidade e reforça as políticas do MC para a valorização das coleções nacionais”. Já António Filipe Pimentel, diretor do Museu Nacional de Arte Antiga (onde a pintura ficará exposta), esclareceu, também à Lusa: “Foi comprado pelo Estado português com o auxílio dos amigos do Museu Nacional de Arte Antiga e com o auxílio dos portugueses todos, porque a verba teve de ser complementada com algum dinheiro remanescente do dinheiro do Domingos Sequeira”, ou seja, com as verbas que haviam sobrado da campanha de angariação de fundos para a aquisição para aquele museu da pintura Adoração dos Magos, de Domingos Sequeira.
O MNAA apresentara em janeiro um documento ao Ministério da Cultura onde manifestara o interesse nesta pintura, considerando o leilão de quinta-feira uma “oportunidade rara” para adquirir uma obra relevante para o património nacional. Agora a tábua de 30 por 22 centímetros irá rumar ao MNAA, onde já tem lugar reservado na sala onde se encontram os Painéis de Nuno Gonçalves, de que Álvaro Pires foi um antecessor.
Nascido em Évora em data por determinar, Álvaro Pires ter-se-á formado como pintor em Valencia, então um importante foco cultural e artístico, nos anos em redor de 1400. Mais tarde, haveria de enriquecer essa experiência em Itália, onde se estabeleceria por longos anos: há registo de em 1410 estar a trabalhar na região da Toscana e de nas duas décadas seguintes andar entre Florença e Siena.
O_catálogo da Sotheby’s refere que a Anunciação é uma obra do seu período de maturidade, marcado pela “observação mais apurada de pequenos detalhes e da decoração, bem como pela fisionomia individualizada das suas figuras”.