A Caixa Geral de Depósitos (CGD), liderada pelo ex-ministro da saúde Paulo Macedo, anunciou ontem que voltou aos lucros em 2017, isto é, um ano antes do previsto no seu plano de reestruturação. De uma forma geral, os indicadores do banco evoluíram positivamente. Contudo, o regresso aos lucros deve-se – mantendo tudo o resto igual – ao grande aumento dos ganhos em operações financeiras, que quase triplicaram: passaram de lucros de 77 milhões de euros em 2016 para 216 milhões em 2017. Ou seja, se não fosse esse acréscimo de 139 milhões de lucros em operações financeiras, a CGD teria apresentado prejuízos, e não lucros, em 2017.
O comunicado com os resultados anuais enviado às autoridades e aos investidores na CGD (o que é o seu caso, quer queira quer não) detalha que o aumento de lucros com operações financeiras reflete sobretudo a evolução dos instrumentos derivados (como futuros e opções), que asseguraram uma correta gestão de risco (os derivados tanto podem ser usados para os investidores se protegerem de riscos, como para especularem), e a trajetória das taxas de juro. Ou seja, como o fundo de estabilização financeira da segurança social, como o seu PPR, e como decerto se verá nos resultados de muitos bancos e seguradoras, a CGD aproveitou a boleia da queda das taxas de juro da dívida pública portuguesa. Estas taxas caíram, aproximadamente, para metade (de 4% para 2%), para dívida com o prazo de dez anos, em 2017, o que permitiu a valorização dos títulos que a CGD tem em carteira (com a descida das taxas de juro, os respetivos títulos passam a ser mais valiosos). Além disso, se a CGD usou derivados para apostar na descida das taxas, fez um excelente negócio.
É natural que os bancos usem parte do dinheiro que detêm para aplicar nos mercados financeiros. A CGD fez boas apostas nos mercados financeiros em 2017, o que lhe permitiu regressar aos lucros um ano mais cedo do que o previsto. Mas, sem os lucros das operações financeiras, ter-se-ia mantido nos prejuízos. O que significa que as tentativas de diminuição de custos do banco (essencialmente, redução de pessoal e encerramento de agências), bem como a multiplicação de comissões (comissão para levantar dinheiro ao balcão, comissão para atualizar a caderneta…) irão continuar. O que, se por um lado se justifica, pois, o Estado injetou no ano passado 3.500 milhões de euros na CGD para que esta esteja financeiramente forte, mas por outro lado é um pouco triste, visto que se trata de cobrar dinheiro a pessoas que têm muito pouca literacia financeira, ou que passam mesmo por dificuldades económicas. Os clientes podem sempre optar por ter uma conta de serviços mínimos bancários, que são baratas e que permitem fazer várias coisas. Mas seria melhor se essas contas permitissem fazer mais, como, por exemplo, ter um cartão de crédito, essencial para transações comerciais internacionais via internet.