Com as suas qualidades e defeitos, já deveria ser algo rotineiro e razoavelmente pacífico, mas continua a não o ser. Com o habitual ritmo anual, surgem títulos espampanantes, polémicas tão acesas quanto artificiais, um desassossego que em muito pouco ajuda a que a informação que fica acessível possa ser compreendida de forma esclarecedora pela opinião pública e usada sem preconceitos pela generalidade das escolas, professores e encarregados de educação em favor dos seus alunos e educandos.
Sou, desde o início, favorável à divulgação de todo o tipo de informação que permita à sociedade conhecer melhor qualquer realidade relevante para o seu funcionamento. Por isso, prefiro que existam rankings a que eles não existam. Assim como prefiro que existam dados de contextualização do desempenho dos alunos e escolas a que surjam seriações apenas com base nos resultados. Muito se tem feito ao longo dos anos para que os rankings sejam mais do que uma arma de arremesso ou propaganda, mas ainda falta muito para que eles – em conjunto com outro tipo de indicadores – funcionem como uma ferramenta ao serviço da melhoria de todo o sistema educativo.
A mim interessa pouco o conflito público/privado ou as diatribes ideológicas pró e contra a publicitação dos resultados dos alunos. Interessa-me mais constatar que ao longo dos anos os dados revelem uma Educação cada vez mais desigual, assimétrica e a várias velocidades. Mesmo uma análise superficial dos resultados nos últimos 10-15 anos, independentemente dos formatos usados (desde a publicação inicial, em 2000, em bruto de resultados, quase sem filtragem, aos métodos mais ou menos sofisticados como esses resultados foram sendo divulgados pelo ministério ou pelos órgãos de comunicação social), permite-nos verificar que as escolas (privadas, mas também públicas) em meios urbanos com melhores condições socio-económicas alcançam, em regra com naturais excepções, uma melhor posição, enquanto no final da lista nos aparecem escolas de meios rurais ou suburbanos mais carenciados. Ou seja, ao contrário de algumas críticas, os rankings podem ser um instrumento de denúncia da falta de equidade e da injustiça social de um sistema educativo que engana muitos alunos com promessas de um ilusório sucesso ou que tenta compensar tais fenómenos com «alavancas» internas. Basta analisar os diferenciais entre classificações internas e externas para se perceberem algumas práticas de avaliação destinadas a «proteger» os alunos do insucesso nas provas e exames. Assim como se pode verificar que as escolas de topo raramente apresentam uma oferta relevante de «Cursos Profissionais», tidos como pouco adequados à sua população escolar e remetidos para escolas que tendem a manter-se ou deslocar-se para o fundo da tabela. Mas esse é apenas mais um exemplo de «políticas públicas» que, em alegada defesa da «equidade» têm estado ao serviço do agravar da desigualdade na própria rede pública de ensino. Veja-se como entre as escolas públicas melhor colocadas há uma clara maioria (7 nas primeiras 10) de escolas intervencionadas pela Parque Escolar, resultado de um investimento fortemente assimétrico na rede escolar.
Interessa que os rankings deixem de provocar um alarido que só serve para diminuir a utilidade que podem ter, porque mais informação (desde que não manipulada) é sempre melhor do que nenhuma informação.