Mais de metade das 20 escolas públicas secundárias que este ano ficaram mais bem classificadas no ranking do b,i,, foram requalificadas pela Parque Escolar.
Cruzando as listas de escolas requalificadas pela Parque Escolar entre 2009 e 2014 – publicadas na página oficial da empresa pública – com a tabela das 20 secundárias públicas que registaram as médias mais altas nos exames nacionais, verifica-se que deste grupo de escolas há 13 que tiveram obras. O número representa 65% das 20 escolas públicas mais bem classificadas. Entre as escolas públicas com melhores médias e que foram requalificadas contam-se a Secundária Garcia de Orta, no Porto; a D. Filipa de Lencastre, em Lisboa; a Clara de Resende, no Porto; a Infanta D. Maria, em Coimbra; a Alves Martins, em Viseu: a Secundária da Quinta do Marquês, em Oeiras; a Carlos Amarante, em Braga; a Secundária da Trofa; a Sebastião e Silva, em Oeiras; a Aurélio de Sousa, no Porto; o liceu Pedro Nunes, em Lisboa; a Augusto Gomes, em Matosinhos e a Ferreira de Castro em Oliveira de Azeméis.
No reverso, entre as 20 públicas com as médias mais baixas no secundário, apenas duas – a Secundária Seomara da Costa Primo, na Amadora, e a Secundária de Ponte de Sor – sofreram obras de requalificação.
Uma tendência que também se verifica entre as escolas básicas com alunos que registaram as notas mais altas mas, de forma mais tímida: nas 20 com melhores médias há nove (quase metade) que foram requalificadas.
E as condições dos edifícios das escolas pode ser uma razão para que os alunos consigam melhores resultados, apontam ao b,i. os professores e diretores dos estabelecimentos escolares. As «escolas com melhores condições têm melhores equipamentos, melhores salas, melhores espaços e, de alguma forma, isso torna a aprendizagem mais agradável», além de serem também «escolas com mais recursos para ensinar», salienta ao b,i. o presidente do Conselho de Escolas, José Eduardo Lemos. Além disso, sublinha ainda o presidente do órgão consultivo do Ministério da Educação, as escolas requalificadas podem ser fator de atração entre os melhores alunos. «Os bons alunos, optarão, à partida, por escolas que lhes ofereçam mais e melhores condições», salienta José Eduardo Lemos. Opinião partilhada pelo professor Paulo Guinote para quem é «óbvio» que «a melhoria de condições nas infraestruturas potencia a melhoria de resultados». O especialista em História da Educação sublinha ainda que as obras de requalificação em escolas que já conseguiam bons resultados vieram «acentuar mais a procura de alunos e agravar a clivagem» entre as escolas com bons e com maus resultados. Isto porque, explica Paulo Guinote, «os bons alunos tendem a ir para as escolas requalificadas e os próprios professores, os que reúnem melhores condições nos concursos, também procuram as escolas com melhores condições».
Já o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, considera que as condições dos edifícios têm «uma influência mínima» nos resultados dos alunos. No entanto, o diretor diz não «desdenhar», já que «uma escola que tenha aquecimento, bibliotecas e melhores infraestruturas acaba por motivar a aprendizagem do aluno», remata.
Outras razões para a melhoria de resultados
Além das condições dos edifícios escolares, há outras razões apontadas pelos especialistas que podem estar relacionadas com a melhoria registada este ano nos resultados dos alunos. Filinto Lima – forte crítico dos rankings por entender que não espelham o trabalho desenvolvido nas escolas – salienta, desde logo, o «trabalho dos professores», rejeitando por completo a ideia de que os docentes das escolas que ocupam os primeiros lugares dos rankings façam um melhor trabalho. «Os rankings dão a ideia de que os professores que estão nas escolas que estão em primeiro lugar conseguiriam catapultar os resultados dos alunos que frequentam as escolas que ocupam as últimas posições para melhores resultados. Isso é falso».
Já o presidente do Conselho das Escolas, José Eduardo Lemos, e Paulo Guinote apontam a transferência de alunos do privado para o público como fator da subida das médias dos exames, sobretudo no básico. «Não tenho dúvida nenhuma de que os alunos transferidos para a escola pública depois do fim dos contratos de associação melhoraram os resultados do ensino público. Eram alunos de uma classe socioeconómica elevada e com acesso a alguma informação», diz José Eduardo Lemos, que prevê que esta tendência se mantenha no futuro. Opinião partilhada por Guinote, que também não exclui que o «melhor desempenho da escola pública» pode resultar das alterações desenhadas pelo ex-ministro Nuno Crato aos programas do básico. «Estes são alunos que em 2013 estavam no 5.º ano e que começaram com os programas de Nuno Crato», frisa o especialista.