Logo a seguir aos cumprimentos da praxe, Sofia Rasgado entrega-nos um tapa- -câmara como presente de boas-vindas ao Centro Internet Segura. “Sabe que pode estar a ser vista mesmo quando não está numa conversa online?”, pergunta a coordenadora deste projeto. E é com este choque com a realidade que vemos justificada a criação do Dia da Internet Mais Segura, que se assinala hoje em mais de 130 países.
Nenhum dos elementos que compõe a equipa que trabalha diariamente para que os portugueses sejam utilizadores conscientes da internet estava cá há dez anos, quando o centro foi criado. Mas basta recuar nas memórias pessoais para perceber que em 2008 ainda vivíamos na era do Hi5, eram poucos os perfis portugueses criados no Facebook e vídeos que se autodestroem em poucas horas (do tipo Insta Stories) eram coisas dignas de ficção científica.
Talvez por isso, quando começaram, a grande maioria dos pedidos de ajuda que recebiam ficavam-se pelas dúvidas sobre qual o melhor antivírus no mercado, se é ou não boa ideia atualizar o sistema operativo ou se a password escolhida para o email seria suficientemente segura. “Ao longo dos anos, passámos das questões técnicas para as questões comportamentais”, explica Sofia Rasgado. É por isso que aos temas de sempre e que continuam a motivar o contacto com o centro se juntam atualmente assuntos ligados ao aliciamento, sexting, cyberbullying e vício da internet.
Novos desafios Nas paredes da sala de reuniões do Centro Internet Segura, em Lisboa, fica aquilo que resta das campanhas que fizeram ao longo de dez anos. “Os desafios mudam, mas há questões intemporais”, resume a coordenadora. É por isso que se parte sempre de uma premissa comum – neste caso, os riscos da internet – para chegar a públicos que vão dos oito (ou menos) aos 80 (ou mais). “Aquilo que um jovem encontra na internet, um sénior também encontra”, lembra Sofia. O que muda neste caso é a forma de lidar com as situações. “Se um jovem tem mais habilidade e algum excesso de confiança para avançar, o sénior não o faz e nem sempre pelas boas razões.”
A ideia do centro não é diabolizar a internet – “um espaço magnífico e cheio de oportunidades”, lembra Sofia –, mas sim dotar as pessoas de ferramentas para saberem filtrar informação. “Se um jovem tem de ser menos impulsivo nas escolhas, um sénior não tem de deixar de utilizar um serviço por medo de não conseguir”, refere.
Os números O Centro Internet Segura tem duas linhas de apoio telefónico em funcionamento. A Linha Internet Segura presta apoio e esclarecimentos para um uso mais consciente e responsável. Já a Linha Alerta contempla a denúncia de conteúdo ilegal.
Comecemos por aí. Em dez anos, esta linha recebeu cerca de 19 700 denúncias, 14% das quais sobre temas que justificaram uma comunicação às autoridades competentes. Do total de denúncias validadas, 99% referem-se a material relacionado com abuso sexual de menores.
O último ano seguiu a tendência dos anteriores e, num total de 1873 denúncias, 14% foram validadas como conteúdo de abuso sexual de menores. Todos os casos estavam alojados em domínios internacionais, a grande maioria em sites (uma ínfima parte foi encontrada em emails ou em redes de partilha de conteúdos).
Já a linha Internet Segura continua a ser usada para dúvidas técnicas relacionadas com passwords, antivírus e sistemas operativos, mas já foram contactados por utilizadores preocupados em saber se todos os passos que deram, desde que identificaram uma situação de cyberbullying, foram os mais corretos.
Sofia fica satisfeita com o uso cada vez mais recorrente da linha, mas garante que, às vezes, basta fazer uma ou duas perguntas em voz alta para abrir consciências. “Partilha a escova de dentes com outra pessoa? Então não partilhe a password. Fala com estranhos na rua? Se calhar também não o devia fazer online.” Parece básico, mas foi suficiente para sairmos de lá diretos para uma limpeza de fundo na lista de amigos do Facebook mas, claro, só depois de colar o tapa-câmara no ecrã do portátil.
O Centro Internet Segura tem quatro serviços: o site dirigido ao público em geral, outro direcionado para a comunidade escolar, a Linha Internet Segura e a Linha AlertaNos últimos dez anos, a Linha Alerta recebeu 19 700 denúncias, a grande maioria relacionadas com abuso sexual de menoresDo total de denúncias, 14% (2800) casos tinham matéria suficientemente sólida para serem comunicados às autoridadesO perfil da pessoa que contacta a Linha Internet Segura é, na maioria dos casos, um adulto (41,27%) do sexo feminino (61,9%) e à procura de informação de teor técnico (33%) • Ao aceder a um computador, antes de utilizar qualquer serviço on-line garanta que todos os softwares estão atualizados e que o dispositivo está protegido contra malware
Dez anos, dez dicas
• Software pirateado pode conter código malicioso, que altera a experiência digital com a introdução de publicidade não solicitada, redução da velocidade do dispositivo ou até recolha de dados pessoais
• Garantir que tem extensões para bloquear pop-ups e publicidades
• Nas redes sociais é importante pensar bem antes de publicar, garantindo que o que publica tem sentido, mesmo quando retirado do contexto
• Numa compra online, procurar sempre sites que comecem por https – garante segurança na transferência de dados – e optar por pagamentos através de Paypal ou MB Net
• A partir do momento em que uma fotografia é partilhada, perde-se o controlo da mesma. Além disso, os serviços cloud fazem com que, mesmo apagadas do telemóvel, as fotografias permaneçam disponíveis na internet
• Utilizar com precaução jogos e aplicações que utilizem dinheiro real
• Manter uma boa comunicação com as crianças, de maneira a que se sintam à vontade para partilhar alguma situação desconfortável
• Denunciar conteúdos ilegais como matéria relacionada com abuso sexual de menores ou de apologia ao racismo e à violência
• Usar a Linha Internet Segura para tirar dúvidas relacionadas com a utilização da internet