Lobo Antunes revela que foi vítima de assédio sexual

Assédio ocorreu quando o escritor andava no liceu

O escritor António lobo Antunes revelou esta terça-feira, durante uma visita a uma escola de Lisboa no âmbito da iniciativa ‘Escritores no Palácio de Belém’, que foi vítima de assédio quando andava no liceu.

O autor, que falava a cerca de 20 alunos do 10º e 11º anos, contou que o autor do asséio era o seu professor de Moral daquele estabelecimento de ensino. O docente apalpou-lhe os joelhos e “subiu pelos calções”, contou Lobo Antunes, citado pela agência Lusa.

Mais tarde, o professor fez-lhes perguntas de foro íntimo, questões essas que Lobo Antunes não entendeu na altura e levou para casa para perguntar ao pai. Este levantou-se sem dizer nada e "só se ouviu o carro arrancar".

Lobo Antunes contou que o docente esteve dois meses sem leccionar e quando regressou não deu aulas à sua turma. "A coisa resolveu-se assim", rematou o escritor.

"Um Nobel sem precisar do Prémio Nobel”

No início desta iniciativa, Lobo Antunes foi apresentado pelo Presidente da República como um “génio” e "um Nobel sem precisar do Prémio Nobel [da Literatura]". Ao longo da conversa, o escritor falou sobre os seus hábitos de escrita e revelou algumas memórias de infância.

"Continuo a caminhar de mistério em mistério, e os livros são uma forma de responder a cada um desses mistérios", disse. "Quando deixamos de nos espantar, é que passamos a velhos", acrescentou o autor, que afirmou que continua a espantar-se com o mundo.

Para o escritor de 75 anos, "escrever é conversar com vozes". “Não vejo pessoas, oiço vozes. Se o meu avô me visita, não vou deixar de falar com ele", acrescentou Lobo Antunes, citado pela agência Lusa. Para além disso, o autor considera que a escrita é “um ofício de paciência”: "Não há talentos, há bois, pessoas que marram as vezes necessárias (…) Escrever é emendar, emendar, emendar e emendar… Há que escrever [tanto] até as palavras nos pertencerem".

Lobo Antunes partilhou ainda algumas das suas memórias de infância: o momento em que aprendeu as letras, as lembranças do avô a ler a necrologia do jornais – hábito que o escritor afirmou ser de “mau gosto” -, e o seu primeiro romance, escrito numa folha de papel aos cinco anos e entregue à mãe.

Por último, fez um pedido aos alunos que o ouviam: "Não se esqueçam de mim. Rezem pela minha alma pecadora, se forem crentes".