Era um tempo em que a expressão “parem as máquinas” tinha sentido. As redações dos jornais tinham as máquinas de impressão na cave. Quando estas arrancavam, tudo tremia. Os jornais eram feitos de jornalistas e tipógrafos. Quando chegou a revolução, os jornais, rádios e televisões eram discutidos em plenário por todos os que o faziam. Ribeiro Cardoso fala de uma época em que as chamas morrem em novembro; e mais de uma centena de jornalistas e trabalhadores é despedida em silêncio. “0 25 de Novembro e os Media Estatizados – Uma História por Contar” narra este tempo. Na ressaca disso, lembro-me de o meu avô me mostrar uma notícia no “DN” e perguntar-me se notava algo de estranho. Disse-lhe que não. Então ele apontou-me uma linha no meio do lead: “O primeiro–ministro fascista Mota Pinto recebeu hoje os embaixadores (…)” No meio de uma notícia, um tipógrafo colocou uma palavra como resistência. Não era “lelé da cuca”, mas era alguma coisa.
O seu livro é um bocadinho um livro de arqueologia sobre um planeta desaparecido. O que lhe deu para o fazer?
Posso dizer-lhe a conhecida frase: “Ainda bem que me coloca esta questão.” (risos). Essa pergunta é interessante porque eu tenho a teoria que o jornalista deve ser como o arqueólogo. Quem quiser conhecer o presente tem de escavar o passado. Isto liga-se a uma outra questão fundamental que é o meu farol e que me vai guiar até ao fim dos meus dias: quero contribuir para que a memória coletiva seja recuperada. Os teóricos dizem que há um gap (uma diferença) enorme entre aquilo que nós, povo, sabemos do passado e aquilo que na realidade se passou. Nos nossos dias, isso deve–se quase exclusivamente aos média. Coloquei na tola que, estando reformado, não quero trabalhar em lado nenhum, não quero ganhar dinheiro, o que eu tenho chega, e não quero estar parado em casa. Como me tinham dito, os primeiros dois meses de reformado são bestiais e depois um tipo não sabe o que há de fazer, e é um martírio. Então ando sempre ocupado. Sempre a trabalhar, como fazia antes, embora com menos capacidade do que tinha antes: agora canso-me e chateio-me.
Porquê a memória?
A memória coletiva interessa-me. Li umas coisas sobre isso, vou falando com os meus filhos e filhos de amigos meus, e ninguém sabe o que se passou no nosso passado recente. Fala-se do 25 de Novembro e ninguém sabe o que isso é ou têm uma opinião errada sobre o que se passou. Descobri que a grande responsabilidade dessa ignorância tinha que ver com os média, que repetem sempre as mesmas narrativas, sem se preocuparem em verificar a sua veracidade.
Dê-me um exemplo dessa espécie de ignorância coletiva.
Veja-se o caso Saramago no “DN”. Durante 40 anos, ouve-se sempre a mesma merda: “O Saramago é que despediu 24 gajos.” Pergunta-se quem são os tipos despedidos e como foram? Ninguém sabe. A questão é que o Saramago estava ligado ao PCP e naquela história toda convém que o PCP apareça como o mau da fita.
Pode de qualquer forma dizer-se que o processo, naquela época, não foi muito bem conduzido. É óbvio que se, hoje, eu mandasse um abaixo-assinado à BBC a dizer que o meu jornal é uma merda, era despedido por falta de lealdade. Mas, à época, a discussão sobre o que se fazia e a participação de quem trabalhava nas empresas era outra.
Mas de que processo fala?
Do Saramago ter descoberto pelos órgãos de comunicação social estrangeiros uma carta de jornalistas do “DN” contra a linha editorial do jornal.
Nunca foram discutidas essas críticas. Esse foi o problema. Havia 30 pessoas que tinham críticas dentro da sua cabeça e não as expressavam. Quando posteriormente foi a assembleia-geral de trabalhadores, houve seis que se afastaram desse documento, perceberam nessa altura o que se passava. Em primeiro lugar, o diretor chamava-se Luís de Barros, o diretor adjunto chamava-se José Saramago. E havia, para além disso, uma administração…
E houve um processo e plenários, mas como você coloca no livro, a certa altura, passa o Francisco Miguel (dirigente do PCP e o homem com mais fugas da cadeia e muitos anos de prisão) à frente das instalações do “DN” e diz….
Chama dois elementos do PCP e diz-lhes: “Os trabalhadores não saneiam outros trabalhadores.” Exatamente, isso é verdade. O que desmente a ideia de que o Saramago terá atuado por ordem do PCP.
Não se pode ter a posição cínica de Alexandre Pais, que sobre o saneamento de várias dezenas de jornalistas, feito após o 25 de Novembro, lhe diz para o livro: “Isto era uma guerra política. Nós queríamos mandar nos jornais e, como tal, mandámos para fora todos os tipos que tinham uma opinião contrária”?
Alexandre Pais diz isso para afirmar que quem quis correr com os seus camaradas de trabalho da então Emissora Nacional não tinha sido ele, mas o major que administrava a empresa, que teria agido em nome do Eanes, um oficial que estava a colocado ali para preparar o 25 de Novembro, já tinha equipas no Porto e tudo montado para mudar a emissão para o Porto. Fez uma reunião na madrugada de 25 de Novembro, em casa dele, com a parte da comissão de trabalhadores, que falavam em nome dos trabalhadores mas só alguns, seis ou sete, se reuniam, e em casa do presidente do conselho de administração ou no gabinete dele. Alexandre Pais disse-o de uma forma sincera, porque acredita no que diz, é uma questão política. Ele funcionou foi como um pau-mandado do major. Meses antes, ele era um técnico de rádio, não era jornalista. Eu conheci-o muito bem. Estava no “Diário de Lisboa” e ele ia lá fazer umas coisas de desporto, porque o Neves de Sousa queria lá malta nova a escrever.
No seu livro, alguém diz que o clima de quererem correr com todos os comunistas também tinha sido alimentado de casos como a descoberta de fichas sobre trabalhadores da RTP feitas por uma militante do PCP.
Há uma lista, tenho-a comigo, assinada pelo Manuel Jorge Veloso, mas não é uma lista feita pelo PCP. É algo privado que foi entregue ao presidente da administração da RTP e elaborada por essa pessoa. E que posteriormente foi apanhada por alguém, e imediatamente o PS colocou em todos os jornais. E houve depois – o António Borga fala nisso – um grande debate sobre essas questão, no Maria Matos, em que o Borga entra em discussão com o Soares Louro, e é nessa altura que começam a suspeitar que ele era do PCP. Aliás, o PCP tinha cinco militantes na redação, tinha era muita força na parte técnica. Graças aos jornais, ficou na memória coletiva que o PCP tinha querido afastar uma série de pessoas da RTP. Sabe muito bem o que é o PCP, podemos concordar ou divergir sobre ele, mas eu considero que continua a ser o partido mais sério que há, podendo ter uma linguagem fechada e haver sectarismo. O documento escrito em questão é execrável, mas é feito por uma única pessoa, não foi discutido nem no PCP, nem sequer na célula do PCP na RTP. Era um documento infame, se o gajo dormia com quem, se era de copos, etc… E depois levou nas orelhas.
Também era o contexto da época. Há notícias do “Jornal Novo” que afirmam que um administrador cumpriu a ordem de reintegrar os trabalhadores afastados no 25 de Novembro porque vivia maritalmente com determinada pessoa.
Essa notícia, que fazia a decisão do coronel Pedroso depender de ser casado com uma jornalista, era o nível que existia na altura, mas que continua a existir hoje com as conversas e acusações nas redes sociais. Tive uma conversa muito interessante com o Sasportes, que foi número dois do “Jornal Novo” e que tinha feito, com o Artur Portela Filho, esse jornal, que foi pago pela CIP [Confederação da Indústria Portuguesa, principal organização patronal do país], mas depois do 25 de Novembro correm com eles e colocam lá gente mais à direita. Nunca houve tantos jornais como naquela altura. A ideia falsa que há é que havia poucos jornais, e todos dominados pelos comunistas: era o Pravda da Avenida (“Diário de Notícias”), o Izvestia [jornal dos sindicatos soviéticos] podia ser “O Século”, e depois tínhamos a RTP, que era alegadamente também do PCP, quando, na realidade, nunca houve tanta pluralidade: só o PS tinha criado “A Luta”e depois o “Portugal Novo”; havia o “Jornal Novo”, pago pela CIP; mais uma data de jornais de extrema-direita, como “O Dia”, “A Rua”, “O Diabo”; e ainda havia todos os órgãos de comunicação social ligados à Igreja Católica. A ideia que ficou é que o PCP dominava tudo, o que era mentira. Se havia problemas era até com os jornais tradicionalmente mais à esquerda: depois das barricadas de Rio Maior, o “Diário de Lisboa” teve uma carrinha incendiada, por exemplo. Muitas vezes não conseguia chegar ao Norte.
São corridos mais de uma centena de jornalistas acusados de terem participado no 25 de Novembro, alguns que nem estavam no país. Os tribunais diziam que os despedimentos eram ilegais mas, mesmo assim, o ministro da tutela, Almeida Santos, mandava não cumprir a lei. Na prática, liquidaram uma geração de jornalistas.
Aí entra na parte que me moveu mais. Tenho 72 anos, trabalhei nos jornais desde os 20 e poucos, e conheci essas pessoas. Sou muito sensível a tudo o que é uma injustiça. Quis dar voz a esses gajos porque nunca ninguém se tinha lembrado de fazer isto. Como ninguém se tinha lembrado de fazer uma abordagem séria ao caso da Renascença. Alguém se tinha lembrado de falar com o João Alferes Gonçalves, que era só o chefe de redação e o líder da comissão de trabalhadores?
Ainda no outro dia li na “História de Portugal” de Freitas do Amaral que o PCP tinha ocupado vários órgãos de comunicação social, como “A República”.
Naquele tempo, o PCP era culpado de tudo. Encontrei por mero acaso uma tese universitária sobre o “República” que fez uma coisa que a maior parte dos jornalistas não fazem, porque não são arqueólogos: foi, muitos anos depois, falar com uma série de gajos dessa época sobre o caso. Depois foi falar com uma senhora chamada Isabel do Carmo e com Carlos Antunes [dirigentes, na altura, do PRP-BR], e eles explicam que até armas passaram lá para dentro, e que “o PC é que tinha traído a classe operária”. Soares sabia que o PCP não tinha nada que ver com a ocupação do “República”, mas convinha-lhe dizer isso, mesmo sendo mentira.
Não teve dificuldades em publicar este livro?
Porquê? Tenho um grande editor, o Zeferino Coelho. Quero dizer uma coisa que as pessoas não sabem: já escrevi vários livros, como o “Jardim, a Grande Fraude” e o “O Fim do Império”, que venderam muito bem. Neste último, a escolha do título não é minha. Eu queria apenas chamar-lhe “7 de Setembro em Lourenço Marques” [data da assinatura dos acordos de Lusaca, em 1974, e de uma tentativa de revolta dos colonos portugueses na cidade de Lourenço Marques, atual Maputo], porque estava lá na tropa nessa altura e vivi os acontecimentos.
Foi uma época complicada.
E com momentos absolutamente surrealistas. Como a ida de Costa Gomes a Moçambique a 8 ou 9 de maio de 1974, que está descrita no livro. Ele foi lá poucos dias depois do 25 de Abril, com o Otelo [Saraiva de Carvalho] e uma série de gajos, porque a situação era explosiva. Os militares portugueses estavam à beira de declarar que não aceitavam a situação que se estava a viver. Ele vai a Nampula, desce para a Beira e depois vai para Lourenço Marques, onde dá uma conferência de imprensa final – no dia seguinte vinha para Lisboa outra vez. A reunião é no Palácio da Ponta Vermelha. Estão lá os jornalistas todos: os de Moçambique, África do Sul, e uma série deles que tinha vindo de Portugal. E eu, fardadinho, vou à reunião. E o último gajo que faz uma pergunta é o Areosa Pena, que era correspondente do “Expresso”: “Senhor general, há aqui uma coisa que eu gostava que me explicasse, porque ninguém em Moçambique percebe: é que já todas as administrações e direções dos jornais da província foram demitidas e o único órgão que é de nível nacional em Moçambique é o Rádio Clube, que continua com a mesma direção e administração do antigamente.” E o tipo, com aquela voz dele e bonomia, respondeu-lhe: “O senhor jornalista está enganado. Está muito mal informado, isso até lhe fica mal: é que já foram destituídos. Pelos vistos, anda distraído.” Toda a gente fica espantada.
Destituiu-os naquele momento? (risos)
(Risos) Não, destitui-os a seguir. Toda a gente sai e os militares vão para um privado do palácio com o Costa Gomes. Na reunião, o primeiro gajo a falar é o major Eugénio, que vivia em Moçambique, era branco e rico, mas estava também a fazer tropa lá, que disse: “Meu general, eu peço–lhe imensa desculpa, mas o meu general enganou-se: a administração e direção do Rádio Clube não foi substituída.” E responde-lhe o Costa Gomes: “Ó major Eugénio, isso não parece seu nem de um oficial com o seu nível. O que está a dizer não é verdade. O senhor não sabe que quando um general diz isso é que passa a ser a verdade? Agora, o senhor vai ser presidente do conselho de administração do Rádio Clube. E antes de me ir embora amanhã, quero a composição da administração.” Nunca me esquecerei até ao fim dos meus dias a cara com que ficou o gajo. Resumindo e concluindo, nomeou uma data de amigos. Até que o Costa Gomes lhe diz: “Tem de nomear alguém para a informação, esse é que é o core business da rádio.”
E a tarefa acabou em si?
Nessa altura, alguém se lembra que há um jornalista profissional na tropa, que sou eu. Trabalhava no “Diário de Lisboa”, não podia dizer é que estava à socapa a fazer de correspondente sem assinar, porque tinha o acesso a toda a informação, estando no Gabinete da Ação Psicológica. De modo que vou no avião com o Costa Gomes para ver como funcionava a Emissora Nacional e tratar de coisas para o Rádio Clube. Não havia quase nada, não havia sequer discos do Zeca Afonso, Tordo, Sérgio Godinho. Foi para recuperar este tipo de histórias que fiz os meus livros. Tenho a ideia que as coisas sobre a memória não vão seduzir a malta nova, mas há muita gente que viveu aquela altura e ainda vive, e que está interessada. Trabalhei muito neste último livro e tive acesso a 60 processos de despedimento dessa época. E como conhecia o meio, fui falar com uma série de gajos que estavam lá. Eu não vivo disto, quero é que mais gente conheça aquela época. Nos outros livros recebi um adiantamento; neste, ainda não recebi nada. Mesmo quando me pagavam o adiantamento, isso não compensava: para o livro do Jardim fui para aí 20 vezes às minhas custas para a Madeira. Nada me paga o prazer de estar a fazer isto e de me sentir vivo.
Tanto silêncio sobre uma geração de jornalistas que foram despedidos sem justa causa, só lhes foram pagos os salários dez anos depois e, sobretudo, nunca lhes foi feita justiça e viram as carreiras cortadas.
Isto é um país filho da puta. Veja o que se diz de Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un. O funeral do Mário Soares foi uma coisa digna da Coreia do Norte, com a sua imensa cobertura mediática. Quando morreu, parece que morreu o pai da pátria. Falaram de tudo, algumas coisas bem, porque ele teve uma vida muito rica, mas não falaram do lado subterrâneo dele. Há uma história toda por contar do Soares. O que foi Macau?
Isso saiu no livro do Rui Mateus.
O Rui Mateus vendeu todos os livros numa tarde, um enorme êxito editorial. Tudo comprado pelo Soares. E nunca mais foi reimpresso e mais ninguém falou no assunto.
Também não é tanto assim, porque o livro está na internet.
Mas nunca foi reeditado. Um grande êxito editorial, mas nunca ninguém pegou naquilo.
No seu livro nota-se que n’ “O Século”é o sítio onde há uma luta política pelo controlo desse diário mais aguda.
É o sítio que mais quente esteve e mais evidente era a luta. Embora acontecesse em todos os lados, ali radicalizou-se. Foi o único jornal em que foi eleito um diretor operário. Nunca apareceu a tentativa de fazer um jornal fora da redação. N’“O “Século”, o MRPP com o PS ocuparam instalações desse diário no Rossio e quiseram lançar um outro “Século”. Nunca o conseguiram fazer porque andava tudo sempre literalmente à batatada.
Até houve um célebre episódio de uma manif do MRPP e do PS que tentou tomar a redação na Rua do Século de assalto e foram corridos à mangueirada.
E porrada. Eu assisti. Foram corridos à mangueirada e varridos por malta com uns ferros, com eles todos a fugirem e a tropa ao lado, estarrecida. E eu a pedir a todos os santinhos que a tropa não tivesse de intervir. Tinha descido a Luz Soriano, onde estava o “Diário de Lisboa”, em direção à Rua do Século, quando vinha a sair, depois da pancada. Apanho esbaforido o João Carreira Bom, que era do MRPP, eu dava-me muito bem com ele. Passa por mim e pergunta-me: “Como é que está isso?” Eu aviso-o: “Foge, João, se não levas nesses cornos. É melhor não ires para lá.” Publiquei isso numa crónica do “DL” e ele ficou fodido comigo. Mas é preciso dizer que o MRPP esteve sempre ligado ao PS, nessa altura, em todo o lado. Tinham gajos de direita que, na altura, não tinham coragem de dizer o que eram, e foi isso que lhes deu força. E o PCP, com gajos da UDP e de outros sítios, fez uma frente no jornal, e eram maioritários. Depois fizeram uma coisa extraordinária, que eu não conheço em mais nenhum sítio: todas as reuniões das comissões de trabalhadores saiam plasmadas na primeira página. Toda a gente sabia o que lá se passava. E, depois, o nível daqueles gajos, desde o Urbano Tavares Rodrigues até ao Joaquim Benite. Limitei-me a contar o que se passou. Tive a grande vantagem de ter vivido aquilo por dentro, porque era jornalista, e naquele tempo éramos poucos: não havia 7 mil gajos com carteira, seríamos uns 600. E vivíamos todos no mesmo bairro: as redações estavam todas na mesma zona e almoçávamos e jantávamos juntos.
Havia outra grande vantagem, como relatas sobre um jornalista que sai do jornal chateado com “A Capital” e entra no “Diário de Notícias” e fica chefe de redação.
É o Daniel Ricardo, que era um dos meus grandes, grandes amigos, que tinha um segredo que toda a gente sabia. Uma das coisas que eu queria mostrar era o espírito daquela altura nas redações. Na altura não havia licenciados em Jornalismo. Havia desde médicos, advogados, professores nas redações, e gente de tarimba…