Rui Rio tem dois desafios. O primeiro chama-se Lisboa. O segundo chama-se Porto. Não é o discurso de abertura, nem o discurso de encerramento, nem mesmo a constituição da equipa dirigente, embora pesem.
Metade da população portuguesa vive em quatro distritos: Lisboa, Porto, Setúbal e Braga. De acordo com o censo de 2011, a lista dos municípios dentro de cada distrito é a seguinte, por ordem decrescente da população:
— No distrito de Lisboa: Lisboa, Sintra, Cascais, Loures, Amadora, Odivelas, Vila Franca de Xira, Torres Vedras e Mafra.
— No distrito do Porto: Vila Nova de Gaia, Porto, Matosinhos, Gondomar, Maia, Valongo, Paredes, Vila do Conde, Penafiel, Santo Tirso, Póvoa de Varzim, Felgueiras, Paços de Ferreira e Amarante.
— No distrito de Setúbal: Almada, Seixal, Setúbal, Barreiro, Moita e Palmela.
— No distrito de Braga: Braga, Guimarães, Vila Nova de Famalicão e Barcelos.
Estes quatro distritos têm 5.033.705 pessoas, para um total de 10.562.178 portugueses. E esta revolução demográfica determina necessariamente o que o PSD tem de ser: um partido urbano, sob pena de se extinguir — como Rui Rio assinalou.
Durante a campanha, Rio identificou bem o problema da falta de implantação autárquica do PSD nos grandes centros urbanos. E foi mais longe quando disse que, sem essa implantação autárquica, o PSD não ganha eleições legislativas. Aliás, a total subalternização das eleições autárquicas foi, do meu ponto de vista, o maior erro político de Passos Coelho, já que culminou com o pior resultado de sempre em Lisboa e no Porto.
A situação de Lisboa é absolutamente penosa, com o PSD a ser a quarta força política na cidade, atrás do PS e do BE (no executivo) e atrás do CDS. Ora, como é bom de ver, ninguém salta de uns pavorosos 11% (nas últimas autárquicas) para uma vitória nas europeias ou uma maioria absoluta nas legislativas de 2019.
Neste cenário, não se compreende a moção que a distrital de Lisboa, presidida por Pedro Pinto, resolveu levar ao congresso. Sobre as calamitosas eleições autárquicas, diz zero; sobre Lisboa, concelho ou distrito, diz zero; sobre a coligação de socialistas e bloquistas que governa a cidade, diz zero; sobre a oposição que o PSD não faz, zero diz.
A distrital de Lisboa do PSD, com a sua moção, coloca-se assim na posição de ‘fiel depositária’ da herança de Passos Coelho na capital, demonstrando desta forma querer ser a oposição interna a Rui Rio. Este posicionamento político é errado porque não tira o PSD da inexistência política em que se encontra.
O grande desafio de Rui Rio é, por isso, ser consequente com o que disse em campanha. Começar logo a trabalhar o PSD nas autarquias de Lisboa e do Porto. A demografia é um adversário muito mais poderoso do que o PS.