Pela televisão, acabo de ver e ouvir o discurso que Rui Rio fez no encerramento do congresso do PSD. Como os leitores mais atentos desta coluna sabem, sempre achei que Rui Rio seria uma solução de liderança do PSD mais difícil para o PS do que Pedro Santana Lopes. Isto porque Rio, frequentemente, diz coisas sensatas e acertadas, como fez na passada sexta-feira, quando criticou a falta de ambição do atual governo em reduzir o défice das contas do Estado em apenas 0,1% do PIB este ano. Espero que Mário Centeno tenha tomado boa nota desta crítica justíssima, e que daqui por pouco mais de um ano estejamos a constatar que o défice das contas públicas de 2018 tenha sido inferior aos 1,1% previstos no orçamento de Estado deste ano.
De Rui Rio todos sabemos que é um homem corajoso. Demonstrou-o mais uma vez, ao nomear Elena Fraga, que em tempos fez entrar na justiça uma queixa-crime contra os membros do governo de Pedro Passos Coelho, para a sua comissão política. Sem dúvida que a anterior ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, tinha Elina Fraga em mente quando falou em “traição”, que não é uma acusação leve. Além disso, a vaia que Elina Fraga recebeu quando subiu ao palanque diz tudo. Fiquei curioso em saber quais serão as suas propostas para a Justiça.
Mas Rui Rio deixou-me, confesso, gelado, e por outro motivo: ao longo do seu discurso de 40 minutos, não proferiu uma única vez a palavra “desempregados”. É que estes, segundo os dados do INE, ainda são 422.000, representando 8,1% da população ativa. É também certo que, ao longo de uma série de boas intenções enunciadas, Rio falou em estimular o crescimento económico, o que tem sempre consequências positivas sobre o emprego. Contudo, ao deixar os desempregados de fora dos grupos sociais referidos no seu discurso, uma omissão que talvez se explique por não os considerar como fazendo parte do eleitorado natural do seu partido, Rio pareceu-me entrar em contradição consigo próprio, em particular com a frase de Sá Carneiro que citou, e que coloca o Homem no princípio e no fim de todas as coisas. Rui Rio merece-me crédito, mas esta omissão dos desempregados, para mim, é quase imperdoável.